Monday, March 31, 2008

À direita

Novas ligações para blogues, publicações e sítios avulsos interessantes.

Sunday, March 30, 2008

Punk Chinês

A apresentação do documentário Beijing Bubbles sobre a cena Punk Rock na capital:

Chego aqui através do Zero de Conduta.

Saturday, March 29, 2008

Hard Talk na China

Esta semana, o magnífico programa "Hard Talk" esteve na China a entrevistar pessoas que transportam consigo as contradições de um país em transição assimétrica. O jornalista Stephen Sackur, como sempre, imprime um ritmo incisivo e acutilante a uma serie de entrevistas a não perder.
Desta série de entrevistas, a mais impressionante e profunda é esta, ao escritor Liao Yiwu.
Liao Yiwu Pt I
Liao Yiwu Pt II
Liao Yiwu Pt III

Chamo a atenção para a forma como termina a entrevista.

A propósito deste momento Carlos Morais José escreveu no Hoje Macau: "na BBC, a um chinês dissidente perguntavam: “Como viver num país em que há liberdade para ganhar dinheiro, mas não para falar, para escrever, para pensar?”. O entrevistado olhou muito sério o jornalista e respondeu: “a minha liberdade vem do coração e, se me permitir, mostro-lhe”. Dito isto, faz aparecer uma flauta de bambu da qual retira sons alquímicos. Perceberam? Eu também não ou talvez um bocadinho. Mas tenho a certeza de que compreendi".

Thursday, March 27, 2008

O Tibete e os estereotipos

Aí está um texto que subscrevo. Kent Ewing recentra o debate.


"Once again, Chinese and Western leaders have shown us that when things get really tough in China - and the separatist-inspired riots targeting not just the central government but also innocent Han Chinese now living in Tibet and nearby provinces qualify as just that - both parties revert depressingly to form. The Chinese government has attacked the Western media, the Dalai Lama and all those taking part in the protests in language reminiscent of the Cultural Revolution while Western powers, led by Speaker of the US House of Representatives Nancy Pelosi, have used the violence in Tibet as yet another excuse to demonize China's leaders".

"Tibet, China and the West: Back to stereotypes", Kent Ewing no Asia times.

Tuesday, March 25, 2008

Caijing



É uma Revista de Economia Finanças publicada em Pequim. "É do melhor (jornalismo) que é possível encontrar na China", afiança Orville Schell, Director da Escola de Jornalismo da Universidade Califórnia em Berkeley. Vale a pena visitar com regularidade.

Chego a esta ligação através de um artigo muito interssante escrito por José Vítor Malheiros sobre a jornalista Hu Shuli - "Hu Shuli empurra a fronteira da liberdade de imprensa", publicado na edição do passado domingo do jornal português Público .

"Vamos até à fronteira e podemos até empurrá-la, mas nunca a atravessamos."Os "empurrões na fronteira" são, por exemplo, as exigências de maior transparência por parte da administração, um dos cavalos-de-batalha que Hu Shuli não desiste de cavalgar, e de maior liberdade de acção para a imprensa.Estas idas "até à fronteira" da liberdade de imprensa, mesmo sem transgressões patentes, não se fazem, porém, sem riscos. Os jornalistas da Caijing são por vezes interrogados pelas autoridades e convidados a fazer uma autocrítica e no site da revista identifica-se a "profundidade da investigação" e a "pura coragem" como as marcas do jornalismo da revista. E ninguém tem dúvidas de que os artigos que são hoje publicados teriam levado os seus autores direitos para a cadeia há alguns anos. Hu Shuli chegou mesmo a ser considerada por uma revista "a mulher mais perigosa da China", devido a uma investigação publicada sobre fundos de investimentos.

Ler artigo na íntegra aqui.

Monday, March 24, 2008

De olho

No dragão. Não, não se trata de um espião da Segunda Circular. É mesmo o blogue jornalista Vera Penêda, em Pequim. A visitar.

Sunday, March 23, 2008

Leituras Dominicais

"Beijing's claims of an "unwavering stand" in support of Tibet are groundless", Howard French no IHT.
"China’s Economic Fluctuations: Implications for its Rural Economy", Albert Keidel.

Previsível

A retórica de Pequim face à questão tibetana. Bloqueando o acesso de jornalistas estrangeiros ao Tibete e reagindo desta maneira, as autoridades chinesas repetem erros do passado.

Vale a pena ler o dossier da Xinhua sobre os acontecimentos de Lhasa.

A narrativa latente nos media internacionais , especialmente no Ocidente, tem os seus juízos normativos bem claros. As atitudes de Pequim reforçam essa percepção. Na batalha mediática a China parte em desvantagem e dá constantes tiros no pé.

Saturday, March 22, 2008

Ma Presidente


Taiwan's opposition candidate Ma Ying-jeou surged to victory over his ruling party rival in a presidential vote dominated by concern over the economy and hopes for better relations with China. With all but a few thousand votes left to count, Ma had a massive 17-point lead over Frank Hsieh of the pro-independence Democratic Progressive Party (DPP).


Um novo ciclo em Taipé

Texto publicado no jornal Hoje Macau em 20-03-2008.

Independentemente de quem vencer as eleições presidenciais em Taiwan no próximo sábado, será aberta uma nova página na história política da ilha a que os portugueses chamaram de Formosa. A estratégia de Chen Shui-bian, na presidência nos últimos oito anos, de provocação, deverá ter um fim, mesmo que vença o candidato menos cotado nas sondagens, Frank Hsieh do Partido Democrático Progressista (PDP), força política de Chen. Esse novo ciclo deverá alterar a relação de Taiwan com a China continental e terá efeitos no papel que Macau e Hong Kong têm desempenhado no tráfego de passageiros e de mercadorias.

A vantagem que o candidato do Kuomintang (KMT), Ma Ying-jeou, tem nos estudos de opinião e sondagens reflecte uma saturação por parte dos taiwaneses com o os escândalos de corrupção dos últimos governos e o estilo agressivo e populista de Chen, que, ao optar pela confrontação com Pequim, alienou as vantagens que Taiwan poderia ter colhido com um reforço das relações económicas com o continente. Ao passo que a maioria dos países mal pode esperar pela oportunidade de beneficiar com o crescimento da China, Taiwan tem sido uma excepção. As dificuldades económicas por que passa Taiwan ditaram a mudança no discurso do PDP e a vantagem do KMT, que em Janeiro assegurou a maioria absoluta nas eleições para o parlamento (lifa yuan).

A economia, acima de tudo

Na verdade, Ma e Hsieh partilham a perspectiva de que é importante colocar em prática políticas amigas do investimento e comércio com a China. A diferença está no tom, nas prioridades e na velocidade da aproximação. Ma Ying-jeou, ex presidente da Câmara de Taipé, tem uma agenda ambiciosa que passa pela criação de um mercado comum no Estreito de Taiwan com livre movimento de capitais e bens, mas não de pessoas. O início desse processo, propõe Ma, será a abertura imediata das ligações directas aéreas, começando com voos charter aos fins-de-semana, para, dentro de um ano, terem início os voos directos regulares com a China continental. O candidato do KMT prometeu abrir Taiwan ao investimento continental em sectores como o imobiliário, à entrada de turistas chineses e ao reconhecimento dos diplomas universitários da China continental. Após um coro de críticas de Hsieh sobre o perigo de uma bolha especulativa no imobiliário com a entrada de investidores chineses, e da perda de empregos, com a mudança de unidades de produção para a China, Ma corrigiu o discurso garantindo que Taiwan não abrirá as portas a produtos agrícolas do continente, à entrada de trabalhadores do outro lado do estreito e aos produtos de má qualidade fabricados na China. Para não afastar o eleitorado do centro e com o objectivo de captar algum eleitorado moderado que tem votado no PDP, Ma inseriu no seu discurso os três nãos: não às conversações sobre a reunificação, não à declaração de independência e não ao uso da força por qualquer um dos lados. Hsieh é mais cauteloso face à aproximação económica com a China, temendo efeitos nefastos, explorando esse receio como arma eleitoral contra Ma. Mas o candidato do PDP, ex primeiro-ministro, também promete criar um enquadramento mais propenso aos investimentos de empresários de Taiwan na China e vice-versa. Hsieh defendeu na campanha ainda a abertura seleccionada de voos charter directos entre os dois lados do estreito e a abertura ao investimento de empresas chinesas na construção de edifícios comerciais e de serviços, mas rejeitando a entrada no sector residencial.

Ainda a questão da identidade

À primeira vista as eleições poderiam ser resumidas à famosa máxima “Its the economy, stupid”, que valeu a vitória a Bill Clinton sobre George H. Bush em 1992. Essa é a linha de argumentação do Kuomintang, mas Hsieh, mesmo distanciando-se do radicalismo pró-independência de Chen Shui-bian, salienta que as questões ligadas à segurança nacional e à identidade de Taiwan ainda prevalecem. Prova disso é a questão do referendo proposto por Chen Shui-bian sobre a entrada da ilha nas Nações Unidas sob a designação de Taiwan, uma consulta popular que será realizada em simultâneo com as eleições presidenciais e um outro referendo da autoria do KMT em que é proposta a participação de Taiwan de forma flexível em organizações internacionais. As duas consultas não deverão ser vinculativas, ou seja não deverão ter mais de 50 por cento de participação eleitoral.

Se em, termos económicos existem semelhanças nos programas dos dois candidatos, a perspectiva face à questão da identidade de Taiwan permanece bastante diferente. Para Hsieh a República da China já foi “taiwanizada”, daí que Taiwan seja a República da China e vice-versa. Isto é, ter a nacionalidade da República da China significa ter uma identidade taiwanesa, daí que o futuro da ilha só possa ser decidido pelos 23 milhões de habitantes. Já Ma considera que apenas a República da China é detentora da soberania e não Taiwan, ou seja, a sua perspectiva radica ainda na questão histórica, do legado da guerra civil entre o Partido Comunista Chinês e o Kuomintang. Em todo o caso, a posição de Ma acaba por ser dúbia, sendo pressionado por um lado pela velha guarda nacionalista do KMT e, por outro, pela necessidade de conquistar o eleitorado moderado. Daí que, apesar de defender um desanuviamento do clima nas relações com Pequim e de propor um programa económico ambicioso, Ma Ying-jeou seja mais cauteloso que Lien Chan, candidato presidencial em 2004 que, em 2005, efectuou uma visita histórica à China, garantindo que, durante o seu mandato, não irá ter encontros com Hu Jintao ou iniciar conversações rumo à reunificação. A estratégia de Ma passa por não aparecer aos olhos do eleitorado como o candidato de Pequim, uma vez que a sociedade de Taiwan continua muito dividida face à questão das relações políticas com a China. É por isso que esta semana criticou o que considera ser a “arrogância” de Wen Jiabao sobre a questão de Taiwan e deu a entender que, se a China continuar a reprimir os protestos de tibetanos, a ilha poderá boicotar os Jogos Olímpicos.

À espera do efeito “spill over”

Uma aproximação económica poderá levar inevitavelmente no médio ou longo prazo a uma relação política que rompa com o permanente “deadlock” do status quo. Numa perspectiva neo-funcionalista, a crescente interdependência económica e comercial levará à institucionalização de laços políticos, num efeito de “spillover”, à semelhança do que sucedeu como a integração europeia nos últimos 50 anos (salvaguardando as devidas diferenças). O problema diz respeito à forma como ser irá materializar essa institucionalização e qual será base mínima para o diálogo. Ao que tudo indica, Ma defende que a base de negociação deverá ser o chamado “consenso de 1992”, sobre o princípio de uma China, decorrente do diálogo que teve lugar em Hong Kong entre a Associação para as relações no estreito de Taiwan, entidade da China continental, e a Fundação Para o Intercâmbio no Estreito, instituição de Taiwan. No entanto, a visão de uma China suscita interpretações diferentes dos dois lados do Estreito. Além disso, podendo esse ser o ponto de partida será difícil e moroso o processo de “encaixe” de Taiwan no Princípio Um País, Dois Sistemas. Começar por criar um mecanismo de diálogo com vista à paz e segurança regional, no estreito, seria um primeiro passo que fortaleceria a confiança mútua. Mas neste longo caminho há sempre que contar com a posição de Washington, que certamente receia perder terreno como potência militar regional a favor de uma Pax Sínica.


Wednesday, March 19, 2008

A luva e a mão

Como se temia, dentro da luva de veludo ainda estava a mão de ferro, acompanhada pela habitual censura. Entretanto o "blame game" está em marcha:

"Now the Tibet blame game begins", John Ng, Asia Times.

Monday, March 17, 2008

O Tibete e as duas propagandas

Sendo impossível aos jornalistas estrangeiros (até aos de Hong Kong) reportar o que se está a passar em Lhasa, a internet é praticamente a única via de eyewitnessing.
O site Danwei elabora uma lista de sítios onde são publicados testemunhos e cita Wang Lixion, marido da escritora tibetana Woeser.

"Today, information on Tîbet is duopolized by two different political propaganda machines. One machine is located in Beijing, and the other in Dhåramsala. Since Tibet is to a large extent still under a state of blockade, other individuals or organizations find it very difficult to obtain independent information (especially at the macroscopic level). Like it or not, people who are concerned about Tîbet are getting most of their information from these two propaganda machines.The bad thing is that the information from these two sources is almost surely conflicting with and even completely opposite to each other. Faced with this absurd situation, the solution is to choose your position first and decide which side you want to stand with, and then you treat the information from that side as true and everything from the other side as false". (negrito nosso)

P.S. O China Digital Times actualiza as várias notícias e testemunhos.


Sunday, March 16, 2008

Ainda o Tibete

É importante ler o texto do correspondente da The Economist na China, provavelmente o único jornalista estrangeiro que testemunhou a violência dos últimos dias:

"Your correspondent, the only foreign journalist with official permission to be in Lhasa when the violence erupted, saw crowds hurling chunks of concrete at the numerous small shops run by ethnic Chinese lining the streets of the city’s old Tibetan quarter. They threw them too at those Chinese caught on the streets—a boy on a bicycle, taxis (whose drivers are often Chinese) and even a bus. Most Chinese fled the area as quickly as they could, leaving their shops shuttered. "

"A handful of riot police with shields and helmets (but no guns visible) patrolled in front of the Jokhang as the riots continued around them, while others stood in lines at the perimeter of the riot-torn area. But for many hours they made no attempt to intervene. After nightfall, fire engines supported by two armoured personnel carriers, moved down the streets putting out the blazes. But the police carrying automatic rifles atop the armoured vehicles did not attempt to deploy on the streets. The occasional bang was heard, but it was difficult to tell whether it was shooting or explosions in the fires. "

Este é o melhor contributo que li nestes dias. Limpo da propaganda da Xinhua (agência estatal de notícias da China) e da Radio Free Asia (estação financiada pelo Congresso dos EUA).

de forma surpreendente

Hu Jintao foi eleito para um novo mandato de cinco anos (o segundo e último), pela Assmebleia Popular Nacional.
Comos e esperava Xi jinping sucedeu a Zeng Qinghong na vice-presidenência. e alinha-se para ocupar a pole position para ocupar em 2012 a cadeira de Hu.

Saturday, March 15, 2008

os acontecimentos de Lhasa

Olhares sobre a violência dos últimos dias:
"Fire on the roof of the world", The Economist.
"Tibet regional gov't: Sabotage in Lhasa masterminded by Dalai clique", Xinhua.
"Tibet protests continue after day of violence", Telegraph.
"Tibet Protests Against China Turn Deadly", AP

P.S. Uma outra perspectiva no blogue Chino Chano:

"Viendo las imágenes de los disturbios, me acuerdo de las visiones diferentes que tienen del pueblo tibetano occidentales y chinos. Los primeros tenemos idealizados a los tibetanos como seres tranquilos y espirituales (por eso de que al único al que conocemos es al Dalai Lama). Los chinos, en cambio, consideran a los tibetanos gente con carácter fuerte y algo agresiva. ¿Quién tiene razón? Nadie, sólo son tópicos.El problema del Tíbet es gordo, muy gordo. China quizá va a tener que pensar en la posibilidad de pactar con el Dalai Lama, porque esto se le va de las manos. Pero a cambio, los tibetanos tal vez deberían permitirle a China que pueda pasar este año con tranquilidad y celebrar los JJOO en paz".

A Questão do Tibete e os Jogos Olímpicos

"Como se previa, os antigos senhores do Tibete no exílio, os mesmos que mantiveram o seu povo no analfabetismo e obscurantismo religioso durante séculos, estão bravos. E com eles a colecção dos idiotas do costume, os que vivem de protestar sobre o que desconhecem, só porque é in protestar, desfilar, marchar. Sobretudo quando em questão está uma questão tão distante como o Tibete. E tudo isto se previa, como também prevejo que a China vai passar por momentos difíceis daqui para a frente e durante as Olimpíadas."

Carlos Morais José "O Risco dos Jogos" no Hoje Macau.

O timming para os protestos é cirúrgico: ainda durante a sessão anual da Assembelia Popular Nacional, a poucos dias das eleições em Taiwan e, claro, no ano dos Jogos Olímpicos. A forma provocatória de agir dos manifestantes (queimando carros e destruindo lojas de chineses han) indica que o objectivo é forçar as autoridades chinesas a usarem a força de forma desproporcionada (o que infelizmente acontece demasiadas vezes) com o objectivo de aproveitar o "mommentum" e gerar um indignação das "boas consciências ocidentais". Parafraseando Carlos Morais José no mesmo artigo "a China que se prepare: até e durante os Jogos Olímpicos, os ataques vão ser mais que muitos e eu estou para ver se Pequim conseguirá mesmo dar uma resposta equilibrada.".
Este é um jogo muito perigoso.

Ler também a análise de Shirong Chen na BBC:

"The Chinese government is faced with a dilemma. They certainly do not want any bloodshed just five months before the start of the Olympic Games, and will be keen to avoid any situation reminiscent of what happened in Burma in 2007. On the other hand, they will not want to give the monks and other protesters room to let off steam for fear that this may be interpreted as weakness and trigger further unrest".

Saturday, March 08, 2008

Da Reforma e da Transição

Texto Publicado no jornal Hoje Macau no dia 6 de Março de 2008

“Sem reforma há apenas um caminho - para a perdição”
Deng Xiaoping, em 1992, durante o “tour” pelo sul da China para promoção das reformas económicas

As reformas económicas (gaige kaifang) introduzidas há 30 anos por Deng Xiaoping têm guiado a República Popular da China num período de ritmo de crescimento sem precedentes na História. Ao contrário do que sucedeu na União Soviética nos anos 1980, as reformas na China não foram acompanhadas por uma diminuição do cariz “leninista” do Partido Comunista na gestão e comando do rumo das reformas económicas e no monopólio do poder político. Alguns autores consideram que parte do segredo da China foi não cometer os mesmos erros de Gorbatchov, não só em termos de eficiência da reestruturação económica (perestroika) mas sobretudo na questão da abertura do regime rumo a uma partilha de poder, que no caso soviético, devido a vários factores, resultou no colapso do sistema. Paralelamente a esta observação surge uma outra perspectiva que alerta para os perigos da ausência de uma abertura política para o próprio crescimento sustentado e saudável da economia no futuro. Subjacente a este debate sobre que melhores receitas reformistas servirão a RPC estão visões diferentes, ou mesmo opostas, sobre a evolução do “socialismo de mercado com características chinesas”, numa lógica de transição. Daí que, naturalmente, as reformas de hoje estejam indelevelmente ligadas às transições de amanhã.

A reforma administrativa

A reforma está no topo da agenda da sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP), que teve início esta quarta-feira. A reforma administrativa foi erguida pelo primeiro-ministro como prioridade de modo a que o governo central aumente a sua eficiência e possa responder melhor e de forma mais ágil às necessidades do povo - instituições que melhor respondam às necessidades da população são per se factor de legitimidade. A criação de quatro Super Ministérios que centralizem as pastas da energia, indústria, transportes e ambiente deve ser entendida como, segundo Mao Shoulong da Universidade Renmin de Pequim, uma forma de adequar o processo de tomada de decisões a normas internacionais e visam criar um sistema que separa a dimensão executiva das decisões tomadas numa determinada área das actividades das agências regulatórias. O caderno de encargos desta sessão da ANP reflecte o movimento de reforço do poder de Hu Jintao e Wen Jiabao na estrutura do Partido e, em consequência, do Estado. A agenda da reforma administrativa tinha sido desde logo colocada em cima da mesa por Hu em 2002, quando assumiu a liderança do PCC, altura em que iniciou a promoção da “civilização política” (zhengzhi wenming), ou seja reformas e alterações do sistema administrativo e político com vista à melhoria da eficiência de um processo de tomada de decisões “científico”.

“Rule by law”

Neste processo, a promoção do Estado de Direito desempenha um papel muito importante. Contudo, não estamos perante uma promoção do Estado de Direito (rule of law) da separação do poder ou a criação de um regime de pesos e contrapesos. Há, de facto, uma defesa do primado da Lei, mas, seguindo a análise de Willy Lam, a lógica é “rule by law”. Quanto a isto Wen Jiabao deixou claro, em 2004, numa resposta a um jornalista, que “o Partido lidera o povo na formulação da Constituição”. Em todo o caso, nos últimos anos, são visíveis sinais interessantes como o aumento exponencial das litigações e a subida do número de cidadãos que processam os governos locais – o fenómeno de minggaoguan.Paralelamente, têm sido movidas campanhas de combate à corrupção, de criação de mecanismos de responsabilização dos detentores de cargos públicos (accountability) e de disponibilização de mais informações sobre as actividades de cada unidade do Governo Central e das dos governos locais.

Transições: duas visões americanas

Apesar deste esforço e do aparente vigor com que a liderança lida com os problemas de eficiência burocrática e administrativa, subsistem ainda demasiados casos de directivas governamentais não cumpridas. O académico chinês Mixin Pei, residente nos Estados Unidos e investigador do Carnegie Endowment , considera que apesar do estado chinês parecer ser centralizado e omnipresente, “a sua capacidade para implementar as políticas e garantir o cumprimento das directivas é bastante limitada pela sua incoerência, tensões internas e fraquezas várias”. Numa visão pessimista, Pei traça um retrato quasi-catastrófico do aparelho estatal, especialmente a nível local, onde, argumenta, a corrupção é endémica. Para Pei a China está a gerar “estados-mafia” a nível provincial que fogem quase por completo à cadeia de comando de Pequim e que funcionam à margem do incipiente estado de direito chinês. A transição está armadilhada porque o estado se torna num predador; em vez de cumprir o seu papel de alguma redistribuição da riqueza e de modernização da economia, no verdadeiro sentido, ou seja em termos de inovação e competitividade além do factor da mão-de-obra extensiva. Ou seja, este autor não acredita no argumento segundo o qual em regimes autoritários a abertura à economia de mercado gera forças que pressionam as elites a acelerar as reformas políticas rumo à democratização. No pólo oposto encontra-se Bruce Gilley, que está convencido que forças pró-democracia vão emergir dentro do próprio Partido Comunista Chinês. Este académico norte-americano acredita que com a emergência de uma classe média cada vez mais exigente, as facções pró-democracia dentro do PCC vão ter cada vez mais força e o Partido vai perceber que o melhor para o país será partilhar o poder com outros actores e seguir um modelo “ocidentalizado” de democracia.

À procura da democracia “madura”

Ora, nada indica que dentro do PCC haja a percepção de um movimento teleológico rumo à democracia liberal parlamentar de tipo europeu e norte-americano. Mesmo muitas das vozes dissidentes têm colocado ênfase num caminho autónomo que deve ser seguido pela China. Em Abril de 1986, Hu Qili, à data membro do Comité Permanente do Politburo, que mais tarde viria a ser purgado na sequência dos protestos de Tiananmen, afirmou que “a reforma económica não pode progredir sem reformas políticas e culturais. Nós não devemos ceder as ideias de liberdade, democracia e direitos humanos ao capitalismo”. É interessante notar também que a maioria dos líderes assumia-se como marxista. A crítica era feita à forma autoritária de interpretação e prática do marxismo pelo regime. Esta é a linha mais relevante nos movimentos de intelectuais que se afirmaram como a consciência crítica “liberal” do regime ao longo dos anos seguintes. Naturalmente que as circunstâncias mudaram, mas convém prestar atenção ao documento “Storming the Fortress”, um relatório elaborado após o XVII Congresso do PCC por elementos da Escola central do Partido em que é defendido que a democracia intra-partidária (conceito caro a Hu Jintao) se alargue vários sectores da sociedade, de forma progressiva, para que, a partir de 2020 a China comece a ser uma “democracia madura e um estado de direito maduro”. Com características chinesas. Entretanto, em termos analíticos, o mais seguro é recordar que para Deng Xiaoping as reformas políticas que interessam eram aquelas que conferem maior eficiência administrativa.

Tuesday, March 04, 2008

Saturday, March 01, 2008

RUC 22 anos


Onde tudo começou... Parabéns a todos. Sempre no Ar! Um beijo para a Menina dos Nossos Ouvidos!