Wednesday, April 30, 2008

A lucidez de Zakaria

"China's attitude toward Tibet is wrong and cruel, but, alas, not that unusual. Other nations, especially developing countries, have taken tough stands against what they perceive as separatist forces. A flourishing democracy like India has often responded to such movements by imposing martial law and suspending political and civil rights. The Turks for many decades crushed all Kurdish pleas for linguistic and ethnic autonomy. The democratically elected Russian government of Boris Yeltsin responded brutally to Chechen demands. Under Yeltsin and his successor, Vladimir Putin, also elected, the Russian Army killed about 75,000 civilians in Chechnya, and leveled its capital. These actions were enthusiastically supported within Russia. It is particularly strange to see countries that launched no boycotts while Chechnya was being destroyed—and indeed welcomed Russia into the G8—now so outraged about the persecution of minorities. (In comparison, estimates are that over the past 20 years, China has jailed several hundred people in Tibet.)"

No meio da histeria pré-olímpica - com as posições extremadas - Fareed Zakaria fala de algo muito importante em "Don’t Feed China’s Nationalism", na Newsweek.

Monday, April 28, 2008

Leituras Pós-Dominicais


"China Ascendant – Part I", Bertil Lintner, Yale Global.
"China’s Ascendancy to a Space Power", Jin-Dong Yuan , no China brief da Jamestown Foundation.
"
Tibet and Olympic coverage: whose image was ruined?", NingSong , China elections and Government.

Friday, April 25, 2008

Pedro Manila


Excerto do Livro "Histórias da Cidade", de Alfredo Gomes Dias (Livros do Oriente 2006), que juntou várias peças documentais da Macau de outras eras colocando em cena pessoas anónimas que construíram o tecido único desta cidade ao longo dos séculos. Um trabalho baseado na Correspondência Oficial Trocada entre as Autoridades de Cantão e os Procuradores do Senado, 8 Volumes.


"China says it will meet Dalai Lama's representative", IHT.

Wednesday, April 23, 2008

A especificidade de Macau ou "Give me five (or three)"

Os residentes (accionistas) recebem um subsídio (dividendo) do governo (Conselho de Administração) da Região Administrativa Especial (Empresa) de Macau:

"O governo de Macau anunciou a disponibilização de cerca de 2.300 milhões de patacas para distribuir por cada titular de residência no território para "atenuar" os efeitos da inflação nos orçamentos familiares. A medida foi anunciada pelo chefe do Executivo de Macau, Edmund Ho, numa intervenção na Assembleia Legislativade Macau.Edmund Ho explicou que a verba será distribuída a quem a solicitar, cabendo 5.000 patacas a cada residente permanente e 3.000 patacas a cada residente não permanente" (Lusa).

Monday, April 21, 2008

2004-2008


Em apenas 4 anos parece ter-se esfumado uma relação especial sino-francesa celebrada em Janeiro de 2004 em Paris, quando a Torre Eiffel foi iluminada de vermelho para homeanagear a China, a prpósito da visita de hu Jintao. Era o tempo de Chirac e da sua visão de um mundo multipolar em que a europa se devia distanciar da dependência dos EUA e fazer pontes com a Rússia e a China. Esse ano - 2004 - foi o ano da China na França. Em 2005 foi o ano da França na China. 2008 é ano de Olímpicos e nacionalismo na China. E de populismo em Paris...

Sunday, April 20, 2008

Visões distorcidas

O editorial de hoje do Sunday Morning Post (versão de domingo do South China Morning Post) sintetiza bem o que está em causa e como as duas partes militantes colocam em risco o que pretende com os Jogos Olímpicos. De seguido transcrevo uma parte do artigo:

"
Both sides of Olympic protests miss the point", Sunday Morning Post Leader - 20-04-2008

"Protesters in the west believed they were simply making a statement about the central government's human rights record or its policies towards Tibet. They seem to have failed to understand that the torch, with its intricate design and Chinese symbols, has come to represent - in the eyes of most Chinese on the mainland and around the world - their nationhood. Therefore, organised attempts to grasp it from torch-bearers, such as paralympic fencer Jin Jing in Paris, became in the eyes of Chinese people a deliberate affront to their nation's dignity and pride, not just the ruling party in Beijing".

"
In a similar way, mainland protesters calling for boycotts aimed at French companies fail to grasp the wider implications. These companies provide jobs for mainland workers, encourage trade and improve relations between countries. They were not responsible for the Olympics protests in the west".

"
The mainland protesters are entitled to express their feelings and their pride in hosting the Olympics, so long as they do so peacefully. But patriotic passions are not like tap water that can be easily turned on and off. Having launched an intense media campaign against the Dalai Lama, Tibetan rioters and their supporters in the west, it may not be easy for Beijing to calm the passions which have been aroused.

"The Olympics should be a means to bring nations together, through sport. The world needs more co-operation and dialogue. This is argument enough for each side to seek better understanding of the other - and to allow the Games to proceed peacefully".


(negrito meu)

Já se esperava


Provocada, a alma chinesa reage, com a tolerância do poder, mas este jogo - do nacionalismo - comporta vários perigos...

"Anti-French rallies across China", BBC.

Por isso mesmo, vários intelectuais fizeram um apelo: " Experts say patriotism understandable, but urge people to be rational", Xinhua.

Uma erupção nacionalistanas ruas prolongada por vários dias não é de facto do interesse de Pequim, uma vez que o movimento pode ficar fora de controlo do poder - como chegou quase a estar em 2005 aquando das manifestações anti-Japão. Em todo o caso estes protestos servem de sinal para o Ocidente...

Saturday, April 19, 2008

O vigor e os desafios de Wang Yang

Texto publicado no jornal Hoje Macau em 17-04-2008

José Carlos Matias


Primeiro criticou o conservadorismo das elites locais. Depois clamou por uma emancipação do pensamento. Mais tarde lançou o desafio da criação de uma “zona económica especial de cooperação” com Macau e Hong Kong. A chegada de Wang Yang à liderança do Partido Comunista Chinês (PCC) de Guangdong agitou as águas do Delta do Rio das Pérolas e colocou muitos agentes económicos a pensar no que realmente quer o delfim que, em Dezembro de 2007, trocou a chefia do Partido no Município de Chongqing pela liderança do PCC na província mais rica do país.
Perante o vigor de Wang, Lau Nai-keung, membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês por Hong Kong, perguntava há semanas no South China Morning Post se estamos (referindo-se à região vizinha) preparados para o desafio de Guangdong. Naturalmente que esta questão é extensível à RAEM. O que quer dizer Wang Yang com “emancipação do pensamento” (sixiang jiefang)? Como devem ser entendidas estas declarações pouco ortodoxas face ao habitual “low profile” de secretários provinciais? Antes de mais, quem é Wang Yang?

Um tuanpai especial

Aos 53 anos é uma estrela emergente da Quinta Geração (diwudai) de líderes, sendo o mais jovem membro do Politburo do PCC. Aos 33 anos tornou-se presidente da Câmara Municipal de Tongling, na província de Anhui, antes de ascender a vice-governador provincial. Com pouco mais de 40 anos desempenhou de forma convincente o cargo de vice-ministro da Comissão Nacional da Reforma e Desenvolvimento. Mas o percurso de Wang não pode ser entendido sem ter em conta a sua passagem pelos quadros dirigentes da Liga da Juventude Comunista Chinesa (LJCC), liderada na altura - anos 1980 – pelo actual presidente Hu Jintao. Desde então Wang pertence ao chamado grupo-facção dos tuanpai, quadros da LJCC que ascenderam ao poder ao longo dos últimos anos de uma forma directa ou indirecta pela mão de Hu. Aliás, a actual configuração dos quadros dirigentes de topo do Partido e do Estado em Guangdong ilustra uma mudança da esfera de influência da província cantonense que durante mais de dez anos esteve sob o chapéu da chamada facção de Xangai do ex-presidente Jiang Zemin, quando Li Changchun, primeiro, e Zhang Dejiang, depois, lideraram o PCC em Guangdong. Agora, os três principais cargos são detidos por dirigentes considerados pelos analistas como próximos de Hu: o secretário do Partido Wang Yang, o governador Huang Hua Hua e o secretário do PCC no município de Shenzhen – todos trabalharam com o presidente da RPC na década de 80 na LJCC. Esta nova realidade é relevante no denso universo do balanço de poderes dentro do PCC uma vez que a base de apoio de Hu no início do seu mandato, em 2002, centrava-se sobretudo nas regiões do centro e oeste da China, dado que as zonas costeiras continuaram sob influência de quadros considerados próximos de Jiang Zemin durante alguns anos. No caso de Guangdong, com as recentes remodelações, dez dos dezoito dirigentes de topo da província pertencem à facção dos tuanpai.

“Emancipar o pensamento”

A postura de Wang difere do temperamento típico dos dirigentes chineses. Numa recente reunião do Politburo provincial lançou um feroz ataque às vistas curtas de muitos agentes políticos económicos de Guangdong que apenas pensam em promover o crescimento da economia sem cuidar das dimensões culturais, sociais políticas e ambientais do desenvolvimento.
Ao nível político alguns analistas procuram deslindar se a “emancipação do pensamento” incluirá algum tipo de inovação no sistema de tomada de decisão (governance). A expressão foi usada pela primeira vez por Deng Xiaoping há 30 anos quando pediu aos quadros do PCC para se libertarem dos dogmas do Maoísmo e abraçarem as reformas e abertura à economia de mercado. Agora Wang defende que o principal desafio de Guangdong já não é o crescimento económico “per se”, mas o desenvolvimento político. Cheng Li, o académico chinês, residente nos EUA há vários anos – e coordenador do livro recém-lançado “China's Changing Political Landscape: Prospects for Democracy” – pergunta se “Guangdong, que anteriormente foi uma zona experimental para as reformas económicas, se tornará num palco para as reformas políticas no país”. Os mais optimistas lembram que a proximidade com Hong Kong, onde poderá ser introduzido o sufrágio universal em 2017, é um factor importante no caminho que terá de ser trilhado na província vizinha, onde, de resto, decorrem desde os anos 1980 eleições directas para a liderança de comités de aldeias (village commitees). Em Fevereiro, num fórum para jovens que decorreu em Cantão, Yu Keping, académico autor do famoso artigo de opinião “Democracy is a good thing” foi explícito: “só com garantias democráticas e institucionais é que é possível emancipar o pensamento”. O teste é o encontro com a realidade e não as declarações e os termos pomposos que proliferam no discurso oficial. Ou seja, os actos e não as palavras vão mostrar se esta “entrada de leão” se consubstancia. Na véspera do Ano Novo Chinês, Wang Yang e o governador Huang Hua Hua fizeram circular uma carta na internet em que são pedidas críticas e sugestões aos “net-cidadãos” para que as medidas tomadas possam ir mais ao encontro das necessidades da população. O desafio é transformar esta “boa vontade” em novos mecanismos de auscultação e em que as os cidadãos possam fazer parte do processo de tomada de decisões. Um outro teste será a forma como Wang vai lidar com a liberdade de imprensa. O consulado seu antecessor ficou marcado pela prisão de vários jornalistas, o mais conhecido dos quais o director adjunto do jornal Southern Metropolis, Yu Huafeng, acusado de corrupção e condenado a uma pena de oito anos de cadeia. Por coincidência – ou provavelmente não – em Fevereiro deste ano (pouco depois de Wang ter chegado a Guangdong) o jornalista foi libertado quando apenas tinha cumprido quatro anos da pena.

O desafio Guangdong/Macau/Hong Kong

Se em termos políticos as palavras de Wang dão azo a uma boa dose de ambiguidade, o desafio económico lançado é mais claro: a criação de uma megapólis Hong Kong/Macau/ Zhuhai/Shenzhen/Cantão capaz de rivalizar com Nova Iorque ou Tóquio. O nivelamento por cima foi também evidente quando Wang exortou Shenzhen a ombrear com Singapura. Para a província, o plano anunciado implica uma transformação de uma economia ainda baseada em indústrias de mão-de-obra intensiva num centro mundial de indústrias de capital intensivo e de serviços. Em definitivo Wang ambiciona dar início à Terceira Vaga de modernização económica do Sul da China depois da abertura das zonas económicas especiais no início dos anos 1980 e da “tour” de Deng Xiaoping em 1992. Sendo explícito o desafio, a grande questão é como é que estes objectivos podem ser colocados em prática. De acordo com o jornal pró-Pequim de Hong Kong Wen Wei Po, 23 departamentos e institutos estão envolvidos na elaboração de um estudo de viabilidade da criação de uma zona económica especial de cooperação Hong kong/Macau/Guangdong, que implique a circulação livre de pessoas, bens, mercadorias e capitais. Os desafios são imensos, uma vez que será necessário esbater as disparidades entre três sistemas económicos distintos, num processo que colocará várias questões e desafios ao princípio e à prática “Um País, Dois Sistemas”.






Wednesday, April 16, 2008

Jiang Yu


A liguagem a postura da Porta-voz do MNE da China está no mínimo desajustada e fora de tom e em sentido inverso face à imagem que a China queria projectar até há bem pouco tempo. Porquê?

Uma besta

A CNN já apresentou as desculpas: "CNN apologises to Chinese over host's 'goons and thugs' outburst", Telegraph
O senhor Cafferty. estas são as imagens disponíveis no Youtube para já:

Tuesday, April 15, 2008

民主是个好东西

A democracia é uma coisa boa! Dúvidas?

Ler o muito discutido artigo de Yu Keping: "Democracy is a good thing" (versão traduizida)

Monday, April 14, 2008

Leituras Pós-Dominicais

Na blogosfera:
"Paciência de Chinês", Leocardo no Bairro do Oriente.
"Morrinha", Carlos Morais José no Oriente Crónico.
"O Protesto", as crónicas de Nuno Lima Bastos em formato de blogue.

Elsewhere:

"A new era or a 'made in China' affair?",
Ting-I Tsai no Asia Times.
"What do you want from us?" A Chinese response to Western criticism, no China Elections and Governance.
"Hu’s Southern Expedition: Changing Leadership in Guangdong", Cheng Li no China Leadership Monitor da Hoover Institution.

Friday, April 11, 2008

Pesos, medidas e proporções


1. Na China continental (primeiro sistema) Chen Liangyu, ex secretário do Partido Comunista Chinês em Xangai, foi condenado a 18 anos de prisão.

Chen is accused of being at the center of a high-profile scandal in which more than $400 million in pension funds were improperly invested in real estate and toll road projects that included Shanghai's new Formula One race track. He was accused of lending large amounts from the pension fund and helping businessmen buy stakes in state-owned companies, resulting in huge losses.

"Ex-Party Boss in China Gets 18 Years" , AFP



2. Na Região Administrativa Especial de Macau, (segundo sistema), em Janeiro, Ao Man Long, ex secretário dos transportes e obras públicas foi condenado a 27 anos de prisão.

n a four-month investigation, anti-graft officials said they discovered assets worth about 800 million patacas (US$99.5 million), more than 57 times what Ao and his family could have earned over a seven-year period.

"
Ex-official in Macau guilty of corruption, gets 27 years", China Post





Thursday, April 10, 2008

A dimensão

Geopolítica da questão do Tibete. Pelo economista F. William Engdahl:


"The US-led destabilization in Tibet is part of a strategic shift of great significance. It comes at a time when the US economy and the US dollar, still the world’s reserve currency, are in the worst crisis since the 1930’s. It is significant that the US Administration sends Wall Street banker, former Goldman Sachs chairman, Henry Paulson to Beijing in the midst of its efforts to embarrass Beijing in Tibet. Washington is literally playing with fire. China long ago surpassed Japan as the world’s largest holder of foreign currency reserves, now in the range of $1.5 trillions, most of which are invested in US Treasury debt instruments. Paulson knows well that were Beijing to decide it could bring the dollar to its knees by selling only a small portion of its US debt on the market".

"Risky Geopolitical Game: Washington Plays ‘Tibet Roulette’ with China"

Um texto

Com (muita) cabeça, tronco e membros que enquadra o problema e coloca questões pertinentes, como nos tem habituado o jornalista Francesco Sisci

"(...) the real solution should be trying to achieve good governance, not independence"

"Tibet a defining issue for China", Francesco Sisci no Asia Times.

Sunday, April 06, 2008

Leituras Dominicais

"Ma Ying-jeou and the Future of Cross-Strait Relations", Willy Lam no China Brief da Jamestown Foundation.
"Beijing Olympics and China’s Human Rights ", Liu Xiaobo no site Chinese Human rights Defenders.
"The Yin and Yang of US Debt", Ashok Bardhan e Dwight Jaffee na Yale Global.
"Can Westerners see China as they see themselves?", Manfred Elfstrom no China elections and Governance.

Saturday, April 05, 2008

De Wu para Liu - Em busca do outro lado do céu

José Carlos Matias

Texto publicado no jornal Hoje Macau em 03-04-2008


Na China, o poder escreve-se sobretudo no masculino. Desde 1949 nenhuma mulher ascendeu ao topo da liderança do Partido Comunista Chinês (PCC), ou seja ao Comité Permanente do Politburo (CPP). No XVII Congresso apenas uma mulher tem assento no Politburo alargado (25 membros), ao passo que nas funções de topo (primeiro-ministro, vice primeiros ministros e conselheiros de estrado) do governo liderado por Wen Jiabao, que foi eleito na última sessão plenário da Assembleia Popular Nacional (APN), também apenas figura essa mesma mulher, Liu Yandong, que ocupa o cargo de Conselheira de Estado. Entre os 25 dirigentes com o estatuto de ministro, apenas três são ministras. No Comité Central do PCC, órgão que integra 204 dirigentes apenas estão 13 mulheres, ou seja 6.3 por cento desse organismo, um valor proporcionalmente bastante inferior ao universo de filiados no PCC: 22.6 por cento dos membros do Partido são mulheres. Proporções que não condizem com o famoso dito de Mao – As mulheres detém metade do céu”.

O que explica este afastamento de mulheres do topo da liderança na República Popular da China (RPC)? Christina Gilmartin, académica norte-americana especialista em estudos sobre a mulher na China moderna, lembra que antes da ascensão de Wu Yi, apenas três mulheres tiveram assento no Poliburo, todas elas esposas de dirigentes de topo, incluindo a malograda Jiang Qing, quarta esposa de Mao Zedong e figura de proa do “Bando dos Quatro”. Para Gilmartin durante vários anos “as actividades de Jiang Qing surgira aos olhos de muitos chineses como a prova de que as mulheres não devem estar envolvidas ao mais alto nível na política chinesa”. Uma crença com raízes na forma como exerceram o poder a Imperatriz viúva Cixi, no século XIX, ou a famosa Wu Zetian, que, no século VII, assumiu o cargo de Imperador, rompendo com a dinastia Tang e iniciando a brevíssima (Segunda) Dinastia Zhou (embora vários historiadores sublinhem os aspectos benignos da sua governação).

A herança patriarcal

Existem, claro, outros motivos de cariz estrutural e cultural. Numa análise mais ampla, sobre a emancipação da mulher na China, Jinghao Zhou argumenta que na RPC as mulheres nunca serão verdadeiramente livres e emancipadas enquanto não tiverem espaço para se organizarem fora do controlo do Partido, que escolhe a liderança da Federação das Mulheres da China – ACWF na sigla em inglês - maior organização feminina do país, de onde saem quadros dirigentes para o PCC e para o Governo Central.

Admitindo que um sistema mais democrático traria uma maior e melhor representatividade da sociedade nas esferas de poder, isso não iria “per se” ser a panaceia para as desigualdades de género que existem na China, como comprovam vários exemplos de democracias de tipo ocidental. A herança de séculos de feudalismo patriarcal e de uma sociedade que tradicionalmente afastou as mulheres da esfera pública ajuda a explicar a situação. Essa situação é denunciada por Mu Hong da ACWF, para quem “em várias áreas, as pessoas ainda estão afectadas por uma mentalidade feudal”.

No livro recém-lançado – e altamente recomendável – “A Mulher na China”, Ana Cristina Alves salienta que embora a criação da RPC em 1949 tenha contribuído significativamente para a melhoria da situação da mulher no país, foi a partir de Deng Xiaoping que passou a haver um esforço por materializar os dispositivos legais que promovem o papel da mulher na sociedade. No entanto, nota a académica, “desde que passaram a assumir o estatuto de forças produtivas válidas, as mulheres confrontaram-se com inúmeros obstáculos externos, fruto de um sistema tradicionalmente patriarcal” (p.170).

A diferença de Wu

A nova geração de dirigentes chineses – mais aberta e cosmopolita – e o exemplo da força e capacidade de Wu Yi na actividade pública que exerceu podem ter dado início a um processo de mudança gradual. Aos 69 anos, a ex vice primeira-ministra abandona uma vida política que começou em 1962 quando se inscreveu no PCC. Já na década de 1980 assumiu a chefia da célula do Partido na Companhia Petrolífera Yanshan. Aliás, esta mulher natural da província de Hubei podia ter ficado conhecida como “Oil Lady”, uma vez que trabalhou no sector petrolífero durante 25 anos. Esse percurso foi alterado em 1988 quando ascendeu a vice-presidente da Câmara de Pequim. Nos anos 1990 destacou-se como Ministra do Comércio Externo e da Cooperação Económica Em 2002 e 2003 assumiu um dos cargos de vice primeiro-ministro do Conselho de Estado e entrou para o Politburo do PCC. Em Abril de 2003 assume o controlo da pasta da saúde, por acumulação, na sequência da demissão de Zhang Wenkang na altura do surto da Síndroma Respiratória Aguda. Sem experiência na área da saúde, conseguiu impor novas regras de transparência no campo das doenças infecto-contagiosas e melhorar a imagem da China no plano internacional. Anos antes, quando era vice-ministra do Comércio Externo substituiu, dois dias antes das negociações, o chefe da delegação chinesa nas conversações com os estados unidos sobre os Direitos de Propriedade Intelectual. A forma como conduziu as negociações impressionou a liderança chinesa, tendo sido desde então – 1991 – passou a ser uma presença habitual nas negociações sino-americanas sobre a entrada na Organização Mundial de Comércio e disputas comerciais. “É uma força da natureza”, confessou Henry Paulson, secretário de estado norte-americano do tesouro. É um a “Dama de Ferro” da China, escreveu a imprensa ocidental. Ela preferia que a chamassem de “little woman”, uma mulher que nunca escondeu os seus cabelos brancos, ao contrário dos seus correligionários sexagenários do Politburo. Até na forma como se despediu da política foi diferente. Quebrando a regra entre os dirigentes de topo chineses de não anunciarem a sua saída antes do anúncio oficial dos novos detentores dos cargos, Wu Yi, que foi em 2005 considerada pela revista Forbes como a segunda mulher mais poderosa do mundo, falou publicamente sobre a sua saída da de todos os cargos que ocupava num discurso numa conferência Câmara de Comércio Internacional da China., adiantando que não vai ter qualquer actividade política na reforma. Na mesma ocasião disse “quando eu sair por favor esqueçam-se completamente de mim”. Uma mensagem (de) cifrada que ilustra a forma como esteve na vida pública.

A senhora Liu

Liu Yandong surge agora como sucessora de Wu como a mulher com o cargo mais elevado no Partido e no estado. Contudo, a APN não a elevou a vice-primeira ministra, optando por conduzi-la ao posto de Conselheira de Estado. A sua personalidade difere da de Wu em vários aspectos. Em vez de “Iron Lady”, é mais encarada como “soft lady”, pela forma mais diplomática como exerce a actividade política. O seu percurso está ligado à facção dos quadros que começaram por fazer carreira na liga da Juventude Comunista, grupo ligado ao presidente Hu Jintao – que liderou a LJC nos anos 1980 – e do qual fazem parte Li Keqiang, vice. Primeiro-ministro, e Li Yuanchao, ambos também vistos pelos analistas como “protegés” de Hu. Entre 2002 e 2007 liderou a Frente Unida, entidade do PCC responsável pela conjugação de esforços com os restantes oito partidos autorizados na RPC.

A sua figura agrada bastante aos deputados de Macau e Hong Kong, membros da Conferência Consultiva Política do povo Chinês, órgão de que foi vice-presidente, uma imagem a que não estranho o facto de entender cantonense e ter reputação de competente e trabalhadora.

Nos últimos anos, uma das suas missões foi alargar a base de apoio do PCC a Macau, Hong Kong e Taiwan. A elite das regiões administrativas especiais teve certamente ao longo dos últimos anos oportunidade para cultivar os laços com Liu. Uma atitude a vários níveis útil e inteligente – é que quer no governo central, enquanto conselheira de estado, quer no PCC, como braço direito de Xi Jinping, tem em mãos a pasta de Macau e Hong Kong.


Thursday, April 03, 2008

Bem sei

que é no mínimo irónico que a imprensa estatal chinesa critique os media ocidentais por serem parciais e incorrectos ao mesmo tempo que o estado impede o acesso dos jornalistas ao Tibete e aperta o crivo da censura. Em todo o caso - descontando o lado da inevitável propaganda - não deixa de ser verdade que há vários exemplos de parcialidade e falta de rigor entre os meios de comuniacção ocidentais na forma como têm tratado os acontecimentos de Março no Tibete. A narrativa latente de que falei aqui há duas semanas foi evidente. Separando as águas das várias dimensões do debate, vale a pena ler este texto publicado no China Daily. Nem que seja pelo título sugestivo...

CNN: What's wrong with you?

Hu Jia condenado a 3 anos e meio de prisão


"Culpado" de "incentivar a subversão contra o poder estatal". Um exemplo da "benevolência" pré-Olímpica dos tribunais chineses.

"Jail for Chinese rights activist " BBC News.

Wednesday, April 02, 2008

Leitura absolutamente recomendada

A"Mulher na China", da sempre interessante Ana Cristina Alves, lançado em Março em Macau.

“Isto não é um panfleto feminista”, entrevista publicada no Hoje Macau.

50 mil

Pageviewers. 32 mil unique visitors. Esta manhã, segundo o Contador da Bravenet. Obrigado a todos!

Finalmente Online

O artigo de opinião de Nuno Lima Bastos, no JTM: "O novo Buda"