Saturday, June 02, 2018

Navegar na Grande Baía

Editorial Plataforma Macau 13/04/2018

Não obstante o crescimento extraordinário e os progressos a que assistimos nas últimas três décadas, Macau permanece com limitações estruturais que geram preocupação e que necessitam de respostas. O novo impulso dado ao processo de integração regional, através do projeto da zona da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau,  trouxe ainda mais à tona a questão central: Que lugar de relevância terá Macau neste contexto? As respostas têm sido dadas através dos Planos Quinquenais e da estratégia gizada em Pequim e reafirmada localmente. Sintetizando a equação, Macau terá de se afirmar como Um Centro – de turismo e lazer de nível mundial –  e Uma Plataforma – de serviços para as relações entre a China e os Países de Língua Portuguesa. A  fórmula faz todo o sentido, mas falta, a nível local, um pensamento próprio mais substancial e passos ambiciosos.
O Secretário para Economia e Finanças, Lionel Leong, referia esta semana no Fórum Boao, em Hainão, que Macau teria um papel de ligação entre elites das cidades irmãs da Grande Baía. Foi também referido por Leong que a nova conjuntura implica a “participação ativa” de Macau, ao mesmo tempo que era anunciado que o Fundo de Desenvolvimento para a Cooperação Guangdong-Macau contemplaria uma verba de 20 mil milhões de yuans.
Para que seja possível levar este barco aos bons portos da Grande Baía será necessário operar uma mudança de mentalidades. E, a este respeito, a cultura “rent-seeking” vigente entre a elite empresarial constitui um obstáculo. Esta falta de competitividade traduz-se também na impreparação dos jovens locais para jogar o jogo dos grandes na Grande Baía, como foi ilustrado num estudo recente da Federação da Juventude de Macau e na edição da semana passada do Plataforma.
O caminho passa por levar a sério este desafio, delineando uma estratégia inteligente que conjugue os interesses da RAEM com os do desenvolvimento nacional e regional. Passa também por envolver a sociedade local para que esta sinta que não está perante algo que diz respeito apenas às elites, mas num processo que lhe pode trazer benefícios e no qual tem uma palavra a dizer.
José Carlos Matias  13.04.2018

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