Monday, April 11, 2005

Nacionalismos no Oriente Extremo ou as mil e uma feridas por sarar

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A recente exaltação nacionalista na China e no Japão contrasta com a intensificação e interdependência comercial e a nível de investimentos entre as duas potências do Extremo Oriente. Este paradoxo suscita um debate interessante sobre a relação entre o Presente em que cada vez mais as economias se tornam, de modo complexo, dependentes entre si, fazendo emergir de facto, um bloco econímico regional; e o Passado, marcado pelo imperialismo nipónico cujo apogeu aocnteceu aquando da ocupação japonesa da China (1931-1945). Os optimistas realçam que as relações económicas e comerciais vão criar inevitavelmente um spill over effect e assim, desanuviar as tensões entre os dois lados, já os pessimistas alertam para o path-dependence factor das relações sino-japonesas. As manifestações deste fim-de-semana vêm, por enquanto dar alguma razão aos segundos. O mesmo é válido quando analisamos as atitudes do governo de Junishiro Koizumi, quando este aprova um manual de história que já sabia ia irritar os chineses, quando fala recorrentemente da vontade de remilitarizar o Japão ou quando presta homenagem junto a túmulos de soldados imperiais acusados de crimes de guerra.

Na nova versão dos manuais de história japoneses, a China é culpada pelo começo da guerra sino-japonesa de 1894-1895 e o massacre de Nanjing executado, em 1937-1938, pelo exército imperial nipónico é descrito como inconclusivo e em debate. Isto quando entidades independentes têm mais que confirmadas as mortes de cerca de 300 mil chineses, a maioria dos quais civis e prisioneiros de guerra, além dos relatos de cerca de 20 mil violações perpetradas por japoneses a mulheres chinesas. Imagine se agora a Alemanha que viesse autorizar o ensino nas escolas de teses revisionistas sobre o Holocausto... Esta comparação pode parecer exagerada, mas serve para dar uma dimensão das feridas provocadas pelo exército nipónico durante a ocupação na memória colectiva da identidade chinesa.

É claro que o governo central de Pequim faz uso dessa memória com objectivos políticos a nível interno, para cimentar o sentimento de unidade patriótica a um regime que vive em crise de legitimidade ideológica, e do ponto de vista externo, para enviar uma mensagem forte à comunidade internacional, quando se discute a possibilidade do Japão ter acesso a um assento permanente no Conselho de Segurança. Neste cenário, de tendência revisionista de Tóquio e de apelo patriótico e à memória nacionalista da China, fervem os sentimentos que vimos ser extravazados com a complacência das autoridades chinesas, neste fim de semana. E, naturalmente, esta memória serve de impulso a outras causas anti-nipónicas na China, como a oposição firme à remilitarização do Japão, a uma eventual entrada de Tóquio no Conselho Permanente de Segurança da ONU, ou em torno da disputa pela soberania das ilhas Diaoyu.

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