Saturday, October 13, 2007

O Congresso, nas Portas da Paz Celestial



Ao longo dos últimos meses muita tinta correu sobre os jogos de bastidores e as lutas internas entre as facções do Partido, na preparação do XVII Congresso, que tem início já esta semana. Contudo, parte dessa tinta tinha por base a abundante especulação em torno de um partido com uma estrutura ainda muito opaca. Em princípio não deverá haver surpresas. Hu Jintao deverá consolidar o seu poder e influência quer através da inclusão do “conceito científico de desenvolvimento”, quer colocando homens de sua confiança no topo da liderança do PCC.



Nesse sentido, espera-se a ascensão de um, dois ou três líderes da chamada Diwudai (Quinta Geração) ao Comité Permanente do Politburo, onde reside o centro nevrálgico do poder na República Popular da China. Os homens sobre quem os holofotes vão incidir deverão ser Xi Jinping (secretário do PCC em Xangai) e Li Keqiang (líder do partido na província de Liaoning). Contudo, outros nomes poderão entrar para os lugares deixados vagos por Huang Ju (vice-primeiro-ministro falecido em Junho de 2007), Luo Guan, 72 anos, Wu Guanzheng, 69 anos, e Zeng Qinghong, 68 anos; os últimos três deverão abandonar o cargo por terem atingido ou estarem prestes a achegar ao limite de idade – 70 anos -que tem sido norma para cargos no CPP desde o Congresso de 1997.



Há no entanto algumas incógnitas. Para alguns analistas, apesar da idade, não é segura a saída de Zeng Qinhong, considerado simultaneamente parte da cahamada clique de Xangai (era visto como “o homem de Jiang Zemin” no CPP) e como sénior da designada facção dos “princelings” (taizi), ou seja filhos de antigos dirigentes de topo e revolucionários. Outros especulam sobre se Jia Qinglin, presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), se aguentará no CPP, em virtude da sua impopularidade e do facto de a sua esposa poder estar envolvida em escândalos de tráfico e corrupção. Outras fontes indicam que Li Changchun, responsável pela Propaganda, também poderá ter de abandonar o CPP. Os mais fortes candidatos da Diwudai a entrar no topo da estrutura do PCC são os já referidos Li Keqiang e Xi Jinping. Caso se confirme a saída de Zeng, o actual vice-presidente e eventual futuro presidente da CCPPC deverá conseguir colocar np CPP dois homens ainda da Quarta Geração da sua confiança: He Guoqiang, 64 anos, membro do Comité Central e do Politburo e Zhou Yongkang, Ministro da Segurança Pública.



Quer isto dizer que se estivéssemos perante uma bolsa de apostas (o que não seria de estranhar tendo em conta o local onde vivo), tendo em conta o que foi publicado pela imprensa nos últimos dias, a jogada que poderia ser de menor risco poderia ser a seguinte:

Membros do CPP que se devem manter:
Hu Jintao
Wen Jiabao
Wu Bangguo
Jia Qinglin
Li Changchun

Prováveis novos membros:
Li Keqiang
Xi Jinping
He Guoqiang
Zhou Yongkang

Quer este texto dizer que em questão neste Congresso estão apenas questões de lugares, pessoas facções e não visões diferentes sobre o rumo do Partido e do modelo económico e sistema políticod a China? De certo modo sim, mas não apenas. Ou seja, há um consenso alargado sobre o papel fulcral do partido enquanto força de vanguarda e vector que monopoliza o aceso ao poder político. No âmbito económico há certamente, no topo da liderança, diferenças quanto ao ritmo de abertura à economia de mercado, no que diz respeito ao papel do estado na economia e quanto às políticas de correcção das assimetrias geradas pelo capitalismo com características chinesas. Como seria de esperar ficaram as facções mais à “esquerda” e à direita. A chamada Nova Esquerda mantém alguma influência entre os intelectuais que defendem que é preciso inverter a marcha rumo ao capitalismo e fortalecer os direitos dos trabalhadores. Do lado oposto, é feito um trabalho de promoção da abertura à economia de mercado e de reformas institucionais de grande dimensão. Pelo meio ficaram os mais “outspoken” democratas, defensores de um terramoto na estrutura leninista do estado e da transição para uma democracia pluripartidária. Os que em 1989 estavam a ganhar peso no movimento estudantil e nos meios intelectuais – e mesmo no Partido.




Sobre a sustentabilidade do Partido Comunista Chinês, recordo aqui as palavras de Willy Lam, investigador do think thank norte-americano Jamestown Foundation, numa entrevista à Rádio Macau em Maio:

“Não vejo nenhuma possibilidade que o Partido Comunista venha a colapsar. Há oposição, mas em geral, enquanto a economia continuara acrescer, penso que o Partido comunista poderá continuar no leme do país. É claro que eles têm um forte aparato de controlo, um forte exército, a polícia do exército, o KGB chinês, por isso o controlo é muito apertado. É muito difícil para a oposição ter apoio. Na China agora não há oposição. Depois do incidente de Tiananmen alguns inetelectuais formaram o Partido Democrático da China subterrâneo, que durou quatro ou cinco anos, mas isso terminou porque os líderes desse partido foram presos. Não há oposição aberta. No entanto, este controlo apertado não impediu a economia de crescer, e o rendimento dos trabalhadores urbanos está a subir. O rendimento dos camponeses também está a subir embora mais lentamente. O rendimento dos trabalhadores urbanos está a crescer depressa. Está a surgir uma classe média que representa já 18 a 19 por cento, pessoas que já têm so seus prórpios apartamentos e carros. As pessoas que tradicionalmente poderiam causar problemas que se poderiam revoltar, os universitários, foram cooptados, fazem agora parte do sistema. estão muito satisfeitos com os seus salários e com o seu estatuto na sociedade. Não quer dizer que essas pessoas gostam do partido, mas permanecem no partido porque ser membro do partido é útil para a evolução na carreira. Por isso penso que o sistema vai continuar assim. Não prevejo nenhuma grande crise no futuro próximo".

P.S. Estarei por lá nos primeios dias.

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