Saturday, December 30, 2006

As facções e o Congresso do Partido em 2007

Por vezes – demasiadas vezes – o Partido Comunista Chinês é visto como uma entidade monolítica em que o debate de ideias é subalternizado pelas disputas de cariz corporativo, num ambiente em que as facções são caracterizadas por grupos de influência regionais (Xangai, Pequim, Cantão,etc).
Não sendo esta observação incorrecta é manifestamente insuficiente. Na análise à vida política interna do PCC encontramos vários obstáculos. Desde logo, a opacidade da estrutura do centralismo democrático. Por outro lado – no meu caso – a falta de conhecimento da língua e dos códigos de língua implícitos e os subtextos que estão associados ao discurso dos dirigentes leva a que o processo interpretativo e indutivo seja mais complexo.
Embora seja referida por vezes a dicotomia ala direita/ala esquerda ou conservadores/reformistas, na verdade esta dialéctica não se aplica adequadamente à dinâmica interna do Partido (o que não quer dizer que não haja sensibilidades mais favoráveis à abertura política e/ou económica e outras menos).
Deste modo é necessário utilizar outro tipo de grelhas de análise. Por exemplo, Heitor Romana no seu muito interessante “República Popular da China: A Sede do Poder Estratégico” divide o posicionamento dentro do Comité Permanente do Politburo do PCC decorrente do 16º Congresso do PCC em dois grupos: sector moderado-tecnocrata e sector moderado-ideológico. No primeiro coloca dirigentes como o primeiro-ministro Wen Jiabao, Li Changchung ou Huang Ju. O segundo engloba o presidente hu Jintao, Zheng Qinhong ou Wu Bangguo. Os moderados-tecnocratas defendem que as reformas económicas – gradual introdução do capitalismo - devem ser controladas e conduzidas pela burocracia tecnocárica do Partido. Já os moderados-ideológicos “procuram controlar o processo [de reformas] assumindo uma posição de consciência ideológica do Partido face à ruptura do novo modelo de economia em relação ao sistema ideológico socialista”(p.150), não sendo contra as reformas –defendendo-as – são mais cautelosos face ao ritmo e à profundidade.
Numa outra perspectiva Cheng Li pergunta “Towards a system of one Party, two factions?”, num artigo publicado no início de Dezembro pela Jamestown Foundation da série China Brief. Grosso modo, Cheng identifica duas grandes coligações com base no percurso dos dirigentes, na origem geográfica e em questões ideológicas: os elitistas e os populistas. Os primeiros são identificados com o chamado “Grupo de Xangai”, tendo em Jiang Zemin e Zen Qinhong os actores primordiais, sendo seguidos por Wu Bangguo ou Huang Ju. Muitos destes dirigentes estudaram fora do país e estão mais ligados às províncias ricas do litoral. Outros são descendentes das famílias de dirigentes históricos; são os denominados “princelings”.
Contrariamente, o presidente Hu Jintao ou o primeiro-ministro Wen Jiabo são oriundos de famílias pouco abastadas e passaram parte significativa das suas carreiras políticas nas “fronteiras do império” e nas zonas menos desenvolvidas do interior e do oeste. Têm um discurso dirigido às zonas rurais, procurando alavancar a posição económica das províncias menos desenvolvidas – uma posição política expressa no último Plano Quinquenal através do conceito de “Novo Campo Socialista”.
As recentes detenções de dirigentes do PCC de Xangai, acusados de corrupção, indicam que a limpeza servirá para fortalecer a posição dos homens de Hu. Mas nada disto é linear. Prova disso foi a nomeação de um homem próximo de Jiang Zemin e do Grupo de Xangai para preparara a sessão plenária do 17º Congresso do PCC, onde será eleito o novo Politburo e o Comité Permanente do Poliburo, o sistema nervoso central do aparelho do Partido-Estado.

Cheng Li em “China’s inner-party democracy: toward a system of one party, two factions?” perspectiva que

“In the elections for the 16th Party Congress in 2002, most members of the elitist coalition appear to have voted for both Hu and Wen, since neither individual lost more than a few votes. One can reasonably predict that during the elections for the 17th Party Congress, both Hu and Wen are unlikely to receive the same categorical support. Members of the elite coalition have already begun to realize the need to constrain the powers of the populist coalition, and China’s politicians will be more familiar with the new “rules of the game” in elite politics. If these assumptions are correct, we may soon witness an even more dynamic and “bipartisan” phase in the development of China’s elite politics”.

Já Lyman Miller em “The Road to the 17th Party Congress"da Hoover Institution observa que

“the congress may elevate Hu Jintao’s implicitly designated successor. If
Hu himself follows the norm of retirement at age 70, his second term as party generalsecretary following the 17th Congress will be his last. Hu benefited from a process ofincremental preparation to succeed Jiang Zemin that began in 1992 and culminated in hisemergence as China’s top party, state, and military leader in the 2002–2004 leadershiptransition. If a course comparable to Hu’s is followed, preparation of Hu’s successorwould perhaps begin with his elevation onto the Politburo Standing Committee at the
17th Congress, followed by his incremental assumption of posts second in command toHu as vice president and, eventually, vice chairman of the CMC. Most of these posts are currently occupied by Zeng Qinghong, who will be 68 by the time of the party congress.The preparation of Hu’s successor may well become entangled in the fate of Zeng Qinghong, an important leader long associated with Jiang Zemin”.


Naturalmente que estas duas visões são oriundas de "think tanks" norte-americanos, carecendo provavelmente de carecem de pontos da China continental. Em todo o caso, serve este texto para lançar um assunto que irá certamente ser o acontecimento político do ano da China em 2007: o 17º Congresso do PCC.

Monday, December 25, 2006

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Leal Senado, Macau, 25 de Dezembro de 2006.

Saturday, December 23, 2006

sheng dan kuai le!

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Bom, feliz, tranquilo, pleno. Natal.

Wednesday, December 20, 2006

Parabéns RAEM

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Há sete anos Portugal dizia adeus ao “último pedaço do Império” -Macau era entregue/regressava à soberania chinesa. Desse dia, tenho recordações muito vagas. Lembro-me de ver a cerimónia na RTP 1, da cena de Rocha Vieira a guardar a bandeira junto ao peito e de considerar normal o que estava a acontecer. Não imaginava, de modo algum, que viesse a viver neste enclave à Beira-China.
Mas mais do que olhar para o modo como decorreu a transição de administração, interessa hoje olhar para o momento por que passa a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), numa altura que se vive a mais grave crise política desde 20 de Dezembro de 1999. Os efeitos da detenção do ex secretário para as obras públicas e transportes, Ao Man Long, ainda estão por ser avaliados. Em qualquer caso, ganha força a ideia que “Nada será igual daqui em diante”. Além de perguntar Quod Vadis, talvez se possa apenas inferir que Macau não sabe para onde vai, só sabe que não vai por aí... A aposta feita, numa gambling-based-driven economy sem um forte rule of law já se sabia que era de alto risco. E há sempre quem lembre: TINA-There Is No Alternative.

Monday, December 18, 2006

Sugestões natalícias sínicas

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Simon Leys, Ensaios sobre a China.

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David Shambaugh, Power Shift: China and Asia's New Dynamics

Paving the way

Ao longo da História, os processos de industrialização têm gerado, numa primeira fase um exército proletário e , posteriormente, uma classe média emergente que, se a princípio se ocupa mais com as maravilhas do consumo na economia de mercado, mais tarde toma atitudes para defender causas, princípios, ou, na maioria dos casos, interesses próprios. Tem sido neste contexto que vai surgindo a chamada sociedade civil. Se isto parece óbvio, não é um dado adquirido, ainda por cima num país em que coexiste um estado ainda centralizado e centralizador, com traços leninistas e bolsas que se vão enchendo e expandindo de economia de mercado. Há quem fale de leninismo de mercado, marketismo-leninismo ou apenas socialismo de mercado com características chinesas. E em virtude dessas especificidades, por vezes surge a questão: Será que há um excepcionalismo chinês?

Tudo isto vem a propósito deste artigo:

"When residents here in southern mainland China's richest city learned of plans to build an expressway that would cut through the heart of their congested, middle-class neighborhood, they immediately organized a campaign to fight city hall.
Over the next two years they managed to halt work on the most destructive and problematic segment of the highway and to force design changes to reduce pollution from the roadway. Their actions became a landmark in citizen efforts to win concessions from a government that by tradition brooked no opposition"


"Shenzhen's citizens are defending their rights", International Herald Tribune

Wednesday, December 13, 2006

O Novo Campo socialista

Em Acção.
"China is to abolish tuition and other fees for 150 million rural students, in a bid to narrow the gap between wealthy coastal provinces and poorer regions."

"China ends school fees for 150m" , BBC

Que nem tordos...

"Sacked Beijing vice mayor expelled from Party"
Mais um alto responsável apanhado nas malhas da luta anti-corrupção.

Monday, December 11, 2006

Há 5 anos

A China aderia à Organização Mundial de Comércio.
"After 5 years in WTO, China gets good report card", Reuters.
"China's WTO entry recasts economic landscape", China Daily.

No Oriente, agora médio

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Foto: Nic
O Nic, que nos trouxe o seu olhar a partir de Taiwan durante alguns anos, migrou para Ocidente para Doha. Vale a pena continuar a visitá-lo, no Tripping Out of My Space.

Sunday, December 10, 2006

Leituras Dominicais

"E Agora", João Costeira Varela no Hoje Macau.
"O dia seguinte", Rodolfo Ascenso no Ponto Final.
"The Dragon's metamorphosis ", David Gosset no Asia Times.

Saturday, December 09, 2006

With Great Power comes great responsability*

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"China's Communist Party has a new agenda: It is encouraging people to discuss what it means to be a major world power, and has largely stopped denying that China intends to become one soon."
"China opens public discussion of its rising power", Joseph Kahn no I.HT.


De acordo com este artigo, o Partido Comunista Chinês abre o debate sobre o estatuto de grande potência. Será que estamos mesmo perante uma mudança significativa acerca do modo como a China se apresenta ao mundo? Deng Xiaoping dissera que a China nunca deveria tomara dianteira nas questões internacionais e a sabedoria milenar chinesa ensina que o poder não deve ser proclamado mas sim reconhecido...

Para um aprofundamento do debate, ler, entre outros:

David Shambaugh, China Engages Asia, International Security, Volume 29, Issue 3, Winter 2005.

Alastair Iain Johnston, Is China a Status Quo Power?, International Security, Vol. 27, No. 4 (Spring 2003), pp. 5–56.

Avery Goldstein, The Diplomatic Face of China's Grand Strategy: A Rising Power's Emerging Choice, China Quarterly 2001.

*Uncle Ben to Peter Parker in Spider-Man I

O Caso Ao Man Long

Alguns ecos:
"Prosecutors mull Macau bribe charges", the Standard.
"Macau minister arrested for graft", The Standard
"Secretário detido após investigação das autoridades das RAE’s", Jornal Tribuna de Macau.
"O Dia seguinte", Leocardo.

Thursday, December 07, 2006

Ao que parece, yao man tai!

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"O secretário dos Transportes e Obras Pública s do governo de Macau, Ao Man Long, foi detido por alegado envolvimento num caso de corrupção, anunciou hoje o Chefe do Executivo, Edmund Ho.
O membro do governo foi detido pela polícia na noite de quarta-feira numa operação com aval de Edmund Ho.
O secretário dos Transportes e Obras Públicas já foi exonerado das suas fu nções numa proposta apresentada, e imediatamente aprovada, ao governo Central em Pequim.
Edmund Ho assumiu interinamente todas as pastas que estavam na dependência de Ao Man Long "até à nomeação" de um novo membro do Governo."

JCS Lusa/Macau

Wednesday, December 06, 2006

A China em debate

Hoje, na Universidade Nova de Lisboa, a partir das 13h, com a participação de Virginia Trigo, Yanyan Qiu, Edmundo Nobre Dora Alexandra Esteves Martins, Fernanda Ilhéu, entre outros.
Na Rua Marques de Fronteira 20, Lisboa

De regresso

À Porta da Baía. Após duas semanas nas origens.

1 2 3 40 anos depois

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Foi assim que foi conhecida a Revolução Cultural, por causa dos acontecimentos de 3 de Dezembro de 1966. Os dias de tumultos e cerco à administração portuguesa por parte dos guardas vermelhos continuaram durante as semanas seguintes. Quatro décadas depois convém que se faça mais luz sobre esses momentos cujo relato ainda, por vezes, é feito em voz baixa por alguns dos intervenientes.
Algumas leituras:

"A China impediu que Macau fosse invadido pelos guardas vermelhos durante a Revolução Cultural, nos anos sessenta, e ajudou a restaurar a autoridade da administração portuguesa, revela um novo estudo sobre a política externa chinesa."A China era vista como a potência mais revolucionária da Ásia, hostil ao Ocidente, mas em relação a Macau e Hong Kong sempre defendeu o status quo", realçou à Agência Lusa o autor do estudo, Moisés Silva Fernandes." Ler mais aqui.

“A Revolução Cultural legitimou o poder português”, Carlos Picassinos no Hoje Macau.


Além, claro, do livro de José Pedro Castanheira, "58 DIAS QUE ABALARAM MACAU"