!“Conversa de casa de banho”"
José Carlos Matias no "Hoje Macau", 27-11-2007.
"Sinceramente estou farto”, desabafou Anthony Hutchinson, Director de Comunicação do Consulado-Geral dos Estados Unidos em Hong Kong e Macau, já no final da Conferência organizada pelo Fórum Luso-Asiático, ontem ao final da tarde no Auditório do Edifício dos Correios. Hutchison referia-se às “constantes acusações do Campo Pró-Pequim de Hong Kong”, que viu no discurso de Hu Jintao, no XVII Congresso do Partido Comunista Chinês um alerta face à ingerência norte- americana na política interna da região vizinha.
O diplomata contou que por vezes os jornais “ditos patrióticos” escrevem que o Consulado dos EUA interfere nos assuntos internos a favor dos Democratas, uma situação que descreve como falsa. Hutchinson foi mais longe ao dizer que “essa história da mão escondida dos americanos a manipular a política de Hong Kong é conversa típica da Revolução Cultural”. Visivelmente agastado com o assunto, o diplomata chegou mesmo a afirmar que “esse tipo de linguagem devia ter ido pela sanita abaixo juntamente com a última edição dos pensamentos de Mao Zedong”.
Garantindo que a insinuação é falsa, Hutchinson explicou que “o Consulado dos EUA faz o que os consulados chineses fazem em todo o mundo”, ou seja, assegura, “falamos com pessoas de vários campos políticos, do Partido Democrático à Aliança Democrática para o Melhoramento de Hong Kong”.
Separar o “trigo do joio”
Questionado sobre como interpretava as declarações do Presidente Hu Jintao, em que o também secretário-geral do PCC afirmou que Pequim vai ajudar as regiões administrativas especiais no combate a qualquer ingerência externa, o director de comunicação do Consulado norte-americano fez questão de separar o que afirmou Hu de algumas interpretações que foram feitas em Hong Kong. No que diz respeito ao que foi escrito em alguns jornais da região vizinha conotados com o campo Pró-Pequim, após uma pausa, sentenciou: “it’s just toilet wordy”.
Quanto ao discurso de Hu Jintao, realçou que o Presidente chinês foi, como é de seu timbre, “muito cuidadoso nas palavras utilizadas”, salientando que o secretário-geral do PCC também afirmou que “as regiões administrativas especiais devem estar abertas ao exterior”. Num exercício de interpretação, Hutchinson considera que ao referir-se à oposição a interferências estrangeiras, “o Governo Central deixa a mensagem que as mudanças que estão a acontecer em Macau ou Hong Kong devem acontecer de uma maneira que Pequim considere útil e desejável”. Sobre a situação específica de Macau, Hutchinson apenas referiu que “o investimento norte-americano faz parte da estratégia do Governo Central de abertura ao exterior”. Na sua perspectiva, o que se passa nas regiões administrativas especiais é muito importante porque, por um lado, “o sucesso deste modelo é fundamental para resolver a questão de Taiwan, por outro , Macau e Hong Kong sempre foram motores de mudança para a China”.
Taiwan: em defesa do staus quo
No debate com a assistência, que foi reduzida, a questão de Taiwan assumiu um lugar de destaque. Para Hutchinson a posição de Washington face à questão do Estreito “permanece essencialmente a mesma desde os anos 1970, ou seja “a de oposição à declaração unilateral da independência e rejeição de qualquer acção armada unilateral por parte da República Popular da China”. Ou seja, apoio à manutenção do status quo na ilha. Na prática, os EUA têm uma postura “agnóstica, que passa por aceitar como boas soluções quer a reunificação pacífica, quer a separação pacífica”.
O relacionamento entre Washington e Pequim foi caracterizado como “muito forte” e, simultaneamente “difícil e complexo”. Hutchinson chamou a atenção para o nível de interdependência económica existente entre as duas partes e os mecanismos de diálogo que têm sido usados como instrumentos para a cooperação. A questão da Coreia do Norte foi dada como um exemplo de como Washington e Pequim podem ter interesses coincidentes. Contudo, Hutchison admitiu que “os Estados Unidos esperam mais da China no dossier nuclear do Irão e no conflito do Darfur”.
Apesar do discurso optimista e positivo quanto à natureza das relações sino-americanas, o diplomata não escondeu as divergências no campo dos direitos humanos, liberdade de imprensa e estado de direito, nem escamoteou o facto de haver “sectores da sociedade norte-americana com dúvidas face ao que significa de facto a emergência da China e que agenda escondida pode terá Pequim”. Para desfazer os receios e a percepção da China como ameaça “é muito importante reforçar o diálogo”, argumenta. Nos EUA “o governo e os principais agentes económicos consideram que o crescimento da China é algo de positivo para o mundo porque olhamos para o que está a passar como um jogo de soma positiva”, Neste ponto de vista, o maior perigo “é que a China pare com as reformas”.
“Ásia Oriental não pode excluir EUA”
Nos últimos anos a influência diplomática de Washington sobre a Ásia Oriental tem diminuído na mesma proporção que a diplomacia chinesa tem estado muito activa no fortalecimento de laços quer com o Sudeste Asiático, quer com a Ásia Central. Numa região em que Washington tem várias bases militares – Guam Coreia do Sul, Japão ou Filipinas – a China está a reforçar as ligações económicas, comerciais e políticas. Vários analistas têm chamado a atenção para a forma como Pequim está a ocupar um espaço deixado vago por uma Administração Bush demasiado preocupada com o Iraque e Guerra contra o terrorismo. Prova disso tem sido o facto dos EUA estarem ausentes quer da Cimeira da Ásia Oriental quer do Fórum Regional da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASAEN), instâncias cujas cimeiras tiveram lugar na semana passada em Singapura. Perante esta situação, Hutchinson admite que Washington “gostaria de fazer parte dessas cimeiras e desses instrumentos de cooperação regional porque uma organização de promoção da segurança e desenvolvimento na Ásia Oriental deve incluir os Estados Unidos”.
Tuesday, November 27, 2007
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