Há um ano, às 8 horas e 8 minutos do dia 8-8-2008 começavam os Jogos Olímpicos em Pequim. Os JO consagravam a re-emergência da China, sendo ao mesmo tempo uma oportunidade para o mundo entender melhor a cultura chinesa e a China se abrir mais ao mundo. Os Jogos foram um sucesso - não obstante os casos da pequena cantora que fez playback de outra menina menos bonita, mas com voz resplandecente ou as dúvidas quanto à idade de algumas ginastas da selecção chinesa. Antes das competições a questão do Tibete e dos direitos humanos ameaçava manchar o evento. Mas durante o certame, foi mesmo o desporto que brilhou nos media internacionais, com momentos fantásticos protagonizados por Usain Bolt, Micahel Phelps ou Yelena Isinbayeva. Após os JO, o presidente do Comité Olímpico Internacional dizia “Os Jogos Olímpicos vão mudar a China (..) vão ver”. Em que sentido mudaram, um ano depois? É difícil de responder a essa questão. Por ventura um ano é pouco tempo para ver essas mudanças (falta saber em que sentido Rogge falava em mudanças, mas supõe-se que seriam no sentido de uma maior abertura e mais respeito pelos direitos humanos). Quem vive em Pequim, diz-me que os sinais que existem apontam no sentido de algumas regressões a esse nível. Este ano, com datas sensíveis como os 50 anos da fuga do Dalai Lama, os 20 anos do Massacre de Tiananmen ou os 60 anos da fundação da república popular da China, o cerco a potenciais “troublemakers” aumentou, com destaque para as perseguições a activistas, advogados de cidadãos que contestam o Estado ou ciberactivistas . A verdade é que a necessidade de controlar os movimentos “em rede” na rede de cariz autónomo tem sido elevada a “prime directive”. A manutenção da ordem social num contexto de crise financeira internacional surge aos olhos da liderança como algo de fulcral para evitar um ciclo devastador de “social unrest”.
Todavia, noutros aspectos, há sem dúvida melhorias a registar. Na sequência das medidas introduzidas há um ano, a qualidade do ar em Pequim melhorou. Recintos como o Ninho de Pássaro e o Cubo Aquático tornaram-se em novos focos de atracção turística numa Pequim com um ar cada vez mais sofisticado e moderno. Apesar da noção que referi anteriormente em que o punho de aço se torna mais visível debaixo da luva de veludo, simultaneamente existem sinais de um maior empenho e supervisão dos cidadãos sobre as questões públicas.
Num artigo publicado pela Xinhua – agência de notícias oficial da RPC – é feito um balanço do que mudou neste ano. Chen Changfeng, professora de Comunicação na Universidade de Tsianghua considera que as pessoas estão mais atentas às questões cívicas e que o “povo chinês está certamente mais aberto ao mundo”. No entanto, e”não podemos esperar que as mudanças aconteçam da noite para o dia”... “It takes time”.
Se essas mudanças internas levam tempo, do ponto de vista externo este ano tem sido de uma mais rápida ascensão e assunção da China enquanto global player. Desde logo, num contexto de crise internacional, Pequim está claramente a ser a primeira grande economia a arrancar com um regresso ao crescimento económico na ordem de 7,9 por cento no segundo trimestre. Além disso, ao nível da segurança internacional, o envio de navios de guerra para a zona ao largo da Somália para combater a pirataria ao largo do Corno de África marcou o regresso da marinha da China a esta zona do Oceano Índico, quase seis séculos depois das expedições do almirante Zheng He.
Com o tempo, poderemos perceber melhor que aspectos aqui referidos são conjunturais ou estruturais. Em todo o caso, parece claro que um ano depois a China está sitius, altius et fortius
1 comment:
Como viajo de meio em meio ano até essas paragens e a maior parte do tempo é passado em cidades pequenas(?), por certo encontro algo diferente a que não é alheia a presença dos Jogos Olímpicos que empolgou toda uma população ávida de beber as influências esteriores...
Gostei desse final...não há qualquer dúvida.
JC
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