Tuesday, May 16, 2006
Revolução Cultural: 40 anos
No dia 16 de Maio de 1966, sob a influência de Jiang Qing, mulher de Mao Zedong, o Comité Central do Partido Comunista Chinês dava início à Grande Revolução Cultural Proletária.
O rastilho tinha sido acendido em 1960, quando o historiador Wu Han, então vice-presidente da câmara de Pequim, publicara a primeira versão do texto de uma peça de teatro de cariz histórico em que um alto funcionário era despedido por um imperador currupto.
Cinco anos depois, a esposa de Mao e Yao Wenyuan, que viriam a fazer parte do chamado “Bando dos Quatro”, e que dirigiram várias campanhas da revolução cultural, criticaram de forma feroz a peça de teatro.
Os dois consideraram que o texto era uma crítica a Mao Zedong em defesa de Peng Dehuai, alto dirigente comunista afastado por Mao no final dos anos 50.
A peça de teatro foi o pretexto usado pelo grupo de Mao, que já não era presidente da China, para lançar uma campanha massiva de propaganda contra os chamados direitistas e burgueses que traiam o que o bando dos quatro diziam ser os verdadeiros valores do comunismo, elevando sempre Mao a um nível de culto de uma personalidade, próxima da divindade.
Uma onda de violência, e humilhação varreu a China com os guardas vermelhos, jovens radicais, a atacarem professores, médicos, dirigentes do partido e toso os que era considerados agentes do imperialismo. Não se sabe ao certo quantas pessoas morreram durante este período. Alguns analistas referem que poderão ter sido cerca de 20 milhões. Muitas mais pessoas foram perseguidas e afastadas da administração.
Mais do que uma luta ideológica, a Revolução Cultural foi uma guerra movida por Mao e pela facção ultra esquerdista contra o status quo do Partido e do Estado. A primeira vítima foi o presidente da câmara de Pequim Peng Zhen, que saiu em defesa da Peça de teatro criticada por Jiang Qing. A longa lista inclui entre outros Liu Shaoqi, presidente da República Popular da China até 1968 e Deng Xiaoping, acusados de serem agentes do capitalismo.
O ciclo de destruição e violência durou até 1976, altura em que Mao morreu. Pouco depois o Bando dos Quatro foi detido e responsabilizado pelo caos da Revolução Cultural. No entanto, apesar de Jiang ter revelado que era “o cão de Mao, e quando ele pedia para morder, mordia”, a figura de Mao acabou por ser salvaguardada e seu o retrato permanece na Praça de Tiananmen a contemplar uma outra revolução cultural que invade a nova China: a do consumo, da economia de mercado, da mudança dos hábitos, da prosperidade, das desigualdades, a mesma sobre a qual os olhos do mundo se debruçam e interrogam.
Olhando para o que tem sido escrito sobre este período, não posso deixar de recordar esta passagem de “Cisnes Selvagens”, magnífico livro de Jung Chang, uma filha da China, ela própria ex Guarda Vermelha.
“Durante a minicampanha chamada A Nossa Pátria Socialista é o paraíso,houve muita gente que fez abertamente as perguntas que eu tinha feito a mim mesma oito anos antes: Se isto é o paraíso, então como será o inferno?
Jung Chang., Cines Selvagens, Quetzal Editores, Lisboa, 2004 (22ª Edição), p.499.
O Partido Comunista Chinês reconhece que o período entre 1966 e 1976 foi um desastre para o país, mas prefere não abrir as feridas de um período em que muitos dos actuais líderes foram guardas vermelhos. Os jornais de Hong Kong referem que as media da China continental estão proibidos de falar sobre o assunto. E os analistas foram são encorajados a não participarem em seminários sobre a Revolução Cultural. Este manto de silêncio abate-se sobre um período cuja catarse ainda não foi feita. Wang Xiangwei, editor do South China Morning Post argumenta – e bem – que “a liderança chinesa deveria olhar ao espelho o que aconteceu durante o período mais negro da Revolução Cultural, estimular o debate e perceber porque é que isso não deve voltar a acontecer”. Mas, adianta Wang, “é fácil perceber por que é que o presidente Hu Jintao não vai fazer isso brevemente. As autoridades já enfrentam um debate alargadoe intenso sobre a direcçãoe o sentido das refgormas económicas cimn os esquerdistas a atacarem os dirigentes pró-reformas por estarem a desviar-se da doutrina socialista. Os dirigentes estão preocupados que mais debates sobre a Revolução Cultural possam ameaçar a estabilidade política”. (South China Moring Post, 15-05-2006. (sem link directo).
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1 comment:
Uma abordagem muito completa e assaz explicativa. Muito bem meu caro..
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