Wednesday, May 31, 2006

Timor:um mar de dúvidas (com adenda)

Sou daqueles, entre muitos, que viveram intensamente os dias 1999. Dos que se emocionaram, foram à embaixada indonésia em Madrid, para quem Timor era uma causa, finalmente uma causa que valia a pena, que movimentava a boa vontade dos portugueses. Era importante para quem, como eu, ainda não era nascido nos tempos de Abril. E continua a ser.
E confesso que sou daqueles que também ficaram algo boquiabertos com o que se tem passado nestes dias.
Mas também me lembro, citando Diogo Pires Aurélio, que naqueles meses, “As raras vozes que, na altura, ousaram pedir um pouco mais de informação e menos emoção foram abafadas por um coro de gente entusiasmada com a nobreza da causa timorense e, sobretudo, com a ocasião que esta representava de voltar a sentir por cá uma unidade e um patriotismo como há muito não se via”.
E de facto, tenho a sensação que os media portugueses talvez tenham sido contaminados demasiado com um militantismo (justificado, provavelmente) que extravasou em demasia o domínio do racional, turvando as águas da clarividência. No fundo havia uma certa ideia de anjos - independentistas - versus diabos, as milícias pró-integração na Indonésia.
Tendo lido o que tem sido escrito nestas semanas - na linha das perguntas e dúvidas levantadas por Paulo Gorjão permaneço com algumas questões que me parecem pouco exploradas:

- Porque é que as principais figuras da oposição, da UDT, PD, PSD têm estado silenciosas?
- Porque é que a Igreja tão importante num país fervorosamente religioso não fez, logo no início da onda de violência, um apelo à paz e à acalmia - ou será que fez e eu não dei conta?
- O que levou Xanana Gusmão a demorar tanto tempo a convocar o Conselho de Estado?
- A quem interessa, dentro de Timor, esta intervenção das tropas australianas?
- onde está o povo que votou de forma massiva na Fretilin?
- A exportação de um modelo semi-presidencial à portuguesa mostra-se desajustada á realidade local?
- E a Indonésia?

P.S.
"KERRY O'BRIEN: I have the presidential statement under the presidential seal in front of me right now, both in English and Portuguese, and although he says he's doing this in close collaboration with you and the President of the Parliament, he makes it plain that he's taken responsibility and effective control for national security in East Timor for the next month at least. MARI ALKATIRI: I think that it's a misunderstanding somewhere. I don't think that the President really said it. "
(...)
"KERRY O'BRIEN: You've talked of an attempted coup. By whom? MARI ALKATIRI: Up to now, I've been telling you that I still don't know by whom, but, for sure, not by the President. KERRY O'BRIEN: There is clearly enormous pressure on you to resign over your failure to properly manage the crisis with the East Timorese army. Why are you determined not to respond to that pressure? MARI ALKATIRI: Pressure from some hundred peoples is not pressure for me. I represent more than hundreds of thousands of people in this government. "

East Timor Prime Minister speaks out

Monday, May 29, 2006

Don't be affraid; we came in peace, we are friends.

A ameaça da "Ameaça China" está a preocupar cada vez mais Pequim. Após o Pentágono ter revelado mais um documento em que a China é vista como uma potencial ameaça no longo prazo, o governo central lança uma campanha de sensibilização para que o mundo olhe para o rápido crescimento da economia como uma oportunidade.

Du Ruiqing, ex presidente da Universidade de Estudos Internacionais de Xi'an diz:
"It's high time to make ourselves better understood by people all of the world,"

A questão é que há ganhos absolutos e relativos e os segundos frequentemente têm mais peso, nomeadamente num processo de catching-up e em ciclos eleitorais.

Friday, May 26, 2006

Lenovo and the US Government

Um caso exemplar.

"It was a drama that reached a conclusion late last week when the State Department, responding to fears that its security might be breached by a secretly placed device or hidden software, agreed to keep personal computers made by the Chinese company Lenovo off networks that handle its classified government messages and documents" (IHT)

Imaginemos se o contrário acontecesse. Na China com uma companhia norte-americana...

Wednesday, May 24, 2006

Monday, May 22, 2006

Donald Tsang e Anson Chan: détente à vista?

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Do que é que falaram Donald Tsang e Anson Chan este fim-de-semana em Macau? A pergunta surge depois de um encontro informal entre o chefe do executivo de Hong Kong e a antiga número dois do governo vizinho. O porta-voz de Donald Tsang garante que não se falou de política, mas em Hong Kong poucos acreditam.
Foi um econtro quase secreto. Este fim-de-semana em Macau estiveram reunidos as duas figuras políticas mais importantes de Hong Kong.. Donald Tsang, o chefe do executivo e Anson Chan, antiga número dois na RAEHK que é vista como potencial concorrente de Tsang na luta pela chefia do governo.
Em declarações ao The Standard, um porta-voz do líder do governo de Hong Kong recusa dar significado político aeste encontro, mas poucos tem dúvidas de que o futuro próximo da antiga colónia britânica este em cima da mesa.
Donald Tsang disse apenas que os dois passaram um bom tem juntos, num a reunião que juntou outros antigos membros do Conselho Executivo de Hong Kong.
Quando os jornalistas perguntaram ao líder do governo se este encontro tinha sido programado por Pequim, este respondeu que não fazia comentários.
O encontro tem sido encarado como um quebrar do gelo na relação entre os dois depois de no ano passado Anson Chan ter saído à rua ao lado dos manifestantes pró-democracia no dia 1 de Julho.
Neste contexto emergem algumas questões:
- Porque é que o governo de Hong Kong supostamente deu a dica aos jornalistas sobre este encontro?
- Foi Pequim que promoveu esta reunião?
- Será que Tsang conseguiu convencer Chan a não concorrer contra ele em 2007, na luta pela chefia do governo de Hong Kong?
-Ou será que apenas estiveram a beber chá, a comer uns pastéis de bacalhau e a visitar o centro histórico de Macau?
Ler mais em "Macau for `good time' not politics", The Standard.

Sunday, May 21, 2006

Leituras Dominicais

"Asia — A Vision for 2015", Matthew Hulbert, The Globalist.
"Google in China: The Big Disconnect", Clive ThompsonThe New York Times, 11 May 2006, via Yale Global.
"China’s Union Push Leaves Wal-Mart With Hard Choice", Mei Fong e Ann Zimmerman
The Wall Street Journal, via Yale Global.

Friday, May 19, 2006

Revolução Cultural: 40 anos IV

"After the bloody Tiananmen crackdown on reformists on June 4, 1989, the Chinese leadership reached a consensus to give "maintaining political and social stability" top priority. This consensus is still valid. Any re-evaluation of Mao will inevitably spark a new round of ideological controversies, which may lead to a split in the leadership, with resultant political and social instability. "
Cultural Revolution? What revolution?By Fong Tak Ho.

Wednesday, May 17, 2006

Tuesday, May 16, 2006

Revolução Cultural: 40 anos II

"Eyewitness: Cultural Revolution ", BBC
"Mao casts long shadow over China ", The Guardian.
"China's leaders ignore Cultural Revolution", China Post.

Revolução Cultural: 40 anos

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No dia 16 de Maio de 1966, sob a influência de Jiang Qing, mulher de Mao Zedong, o Comité Central do Partido Comunista Chinês dava início à Grande Revolução Cultural Proletária.
O rastilho tinha sido acendido em 1960, quando o historiador Wu Han, então vice-presidente da câmara de Pequim, publicara a primeira versão do texto de uma peça de teatro de cariz histórico em que um alto funcionário era despedido por um imperador currupto.
Cinco anos depois, a esposa de Mao e Yao Wenyuan, que viriam a fazer parte do chamado “Bando dos Quatro”, e que dirigiram várias campanhas da revolução cultural, criticaram de forma feroz a peça de teatro.
Os dois consideraram que o texto era uma crítica a Mao Zedong em defesa de Peng Dehuai, alto dirigente comunista afastado por Mao no final dos anos 50.
A peça de teatro foi o pretexto usado pelo grupo de Mao, que já não era presidente da China, para lançar uma campanha massiva de propaganda contra os chamados direitistas e burgueses que traiam o que o bando dos quatro diziam ser os verdadeiros valores do comunismo, elevando sempre Mao a um nível de culto de uma personalidade, próxima da divindade.
Uma onda de violência, e humilhação varreu a China com os guardas vermelhos, jovens radicais, a atacarem professores, médicos, dirigentes do partido e toso os que era considerados agentes do imperialismo. Não se sabe ao certo quantas pessoas morreram durante este período. Alguns analistas referem que poderão ter sido cerca de 20 milhões. Muitas mais pessoas foram perseguidas e afastadas da administração.
Mais do que uma luta ideológica, a Revolução Cultural foi uma guerra movida por Mao e pela facção ultra esquerdista contra o status quo do Partido e do Estado. A primeira vítima foi o presidente da câmara de Pequim Peng Zhen, que saiu em defesa da Peça de teatro criticada por Jiang Qing. A longa lista inclui entre outros Liu Shaoqi, presidente da República Popular da China até 1968 e Deng Xiaoping, acusados de serem agentes do capitalismo.
O ciclo de destruição e violência durou até 1976, altura em que Mao morreu. Pouco depois o Bando dos Quatro foi detido e responsabilizado pelo caos da Revolução Cultural. No entanto, apesar de Jiang ter revelado que era “o cão de Mao, e quando ele pedia para morder, mordia”, a figura de Mao acabou por ser salvaguardada e seu o retrato permanece na Praça de Tiananmen a contemplar uma outra revolução cultural que invade a nova China: a do consumo, da economia de mercado, da mudança dos hábitos, da prosperidade, das desigualdades, a mesma sobre a qual os olhos do mundo se debruçam e interrogam.
Olhando para o que tem sido escrito sobre este período, não posso deixar de recordar esta passagem de “Cisnes Selvagens”, magnífico livro de Jung Chang, uma filha da China, ela própria ex Guarda Vermelha.

Durante a minicampanha chamada A Nossa Pátria Socialista é o paraíso,houve muita gente que fez abertamente as perguntas que eu tinha feito a mim mesma oito anos antes: Se isto é o paraíso, então como será o inferno?
Jung Chang., Cines Selvagens, Quetzal Editores, Lisboa, 2004 (22ª Edição), p.499.

O Partido Comunista Chinês reconhece que o período entre 1966 e 1976 foi um desastre para o país, mas prefere não abrir as feridas de um período em que muitos dos actuais líderes foram guardas vermelhos. Os jornais de Hong Kong referem que as media da China continental estão proibidos de falar sobre o assunto. E os analistas foram são encorajados a não participarem em seminários sobre a Revolução Cultural. Este manto de silêncio abate-se sobre um período cuja catarse ainda não foi feita. Wang Xiangwei, editor do South China Morning Post argumenta – e bem – que “a liderança chinesa deveria olhar ao espelho o que aconteceu durante o período mais negro da Revolução Cultural, estimular o debate e perceber porque é que isso não deve voltar a acontecer”. Mas, adianta Wang, “é fácil perceber por que é que o presidente Hu Jintao não vai fazer isso brevemente. As autoridades já enfrentam um debate alargadoe intenso sobre a direcçãoe o sentido das refgormas económicas cimn os esquerdistas a atacarem os dirigentes pró-reformas por estarem a desviar-se da doutrina socialista. Os dirigentes estão preocupados que mais debates sobre a Revolução Cultural possam ameaçar a estabilidade política”. (South China Moring Post, 15-05-2006. (sem link directo).

Sunday, May 14, 2006

Friday, May 12, 2006

Se dúvidas houvesse...

O meu amigo Andarilho alerta-me para isto:

"A VI Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste - marcada para 17 de Julho, terá apoio financeiro dos chineses. A China ofereceu hoje ao governo guineense 800 mil dólares (615 mil euros) para ajudar a organizar o encontro da CPLP que, este ano, comemora o seu 10º aniversário.
O montante foi entregue pelo embaixador da China em Bissau ao secretário de Estado da Cooperação guineense, Tibna Samba Nawana, numa cerimónia que decorreu na sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Bissau.

Paralelamente, a China ofereceu também 350 mil dólares (270
mil euros) de ajuda humanitária, destinada aos deslocados no norte da Guiné-Bissau, na sequência do conflito que opôs o Exército guineense a uma ala radical de um movimento independentista de Casamança, sul do Senegal.

Pequim manifestou ainda disponibilidade para apoiar a
reconstrução do hospital regional de Canchungo, 80 quilómetros a norte de Bissau, cujo orçamento é de 2,5 milhões de dólares (1,9 milhões de euros)."
No Expresso online.

P.S. Lembro o que disse Carmen Mendes, há dias, numa entrevista:

Voltaremos a este assunto (de forma recorrente).

Wednesday, May 10, 2006

No Reino de Sião

O Tribunal Constitucional fez "reset" ao processo de eleição da Assembleia Legislativa. Anulou o escrutínio de Abril, que tinha sido boicotado pelos maiores partidos da oposição, e pediu a demissão da Comissão Eleitoral.
Depois de ter saído de cena, o ex primeiro ministro Thaksin Shinawatra pode estar de volta. Mesmo que não concorra nas eleições, será, no mínimo, "the man behind the curtain".

A propósito, Shawn W Crispin escrevia, há um mês, no Asia Times:
"What the US could learn from Thailand

Friday, May 05, 2006

Momentos Zen

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1.Sem papas na língua, como é hábito, Joseph Zen critica o governo central de controlar a Igreja Católica. O bispo, recém-nomeado cardeal, afirma, em entrevista ao jornal "O Clarim" (sem link), que Pequim não está muito contente com o facto do Vaticano o ter designado Cardeal. Adianta mesmo que houve padres e freiras que tiveram instruções para não o felicitarem.
Joseph Zen vai a Roma aindna este mês para se econtrar com o Papa Bento XVI. Nessa reunião será discutido o processo de aproximação com Pequim. Um diálogo dificultado pelas recentes nomeações por parte da Igreja Católica Patriótica de dois Bispos.
Acerca da liberdade religiosa na China, Zen critica fortemente Pequim, dizendo que a Igreja Católica não oficial, a chamada clandestina, que presta obediência ao Papa, corre perigo todos os dias. Mesmo a igreja católica patriótica é muito controlada.
O bispo garante que no continente tanto padres como freiras são constantemente vigiados.
Quanto à política em Hong Kong, Joseph Zen reafirma que vai estar atento à questão do artigo 23. Se a lei anti-subversão voltar a ser apresenetada, os católicos da região vizinha, assegura, descem de novo à rua ao lado dos manifestantes. Isto porque, diz, a implementação do artigo 23 coloca em perigo as liberdade cívicas.
Na análise à situação do outro lado do Delta do Rio das Pérolas, Zen defende que no regime colonial, apesar de não haver democracia, as liberdades eram respeitadas, o que não é de todo verdade depois 1997.

2. Hoje é dia do Buda.
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Thursday, May 04, 2006

Tuesday, May 02, 2006

Macau: Social Unrest

Ontem Macau assistiu à maior manifestação desde o ano 2000 – e segundo alguns analistas, à maior desde a transferência de administração. Alguns milhares de pessoas (cerca de cinco mil)manifestaram-se contra a importação de mão de obra, num protesto que derivou para cenas de alguma violência, fruto de uma atitude mais agressiva de uma minoria e da resposta das autoridades. Independentemente da causa em questão – havia outras levantadas pelas pessoas como a luta pelo salário mínimo, contra o conluio de interesses e na generalidade por melhores condições laborais – o que releva interesse é o facto de estara acabar a paciência de uma parte da população face a um modelo de desenvolvimento que os deixa para trás. Este protesto deveria fazer pensar o governo da RAEM, entretido com as maravilhas do crescimento do PIB e com os novos investimentos na área do jogo e da hotelaria. É certo que o executivo anunciou na semana passada um pacote de aumento de pensões e prometeu maior rigor no combate à importação ilegal de mão de obra da China continental. Contudo, essas medidas são consideradas paliativos pelos que ontem expressaram o seu desespero. Também se sabe que nestes casos há sempre uma minoria que procura radicalizar o protesto para tirar dividendos políticos. Mas isso não pode servir de esponja para passar sobre um acontecimento inédito na RAEM. Além do mais, mesmo com a ausência da poderosa Associação Geral dos Operários, a mais representativa em termos de associativismo laboral, o protesto chegou às quatro-cinco mil pessoas.
Nos comentários ao que aconteceu, chamo a atenção para contribuições dos directores dos jornais diários em língua portuguesa:

1. Ao abraçar alegremente o “segundo sistema”, dada a reconhecida falta de cultura política, a sociedade de Macau adoptou, também, as desigualdades e, no extremo, a exclusão que o capitalismo sempre arrasta. Está agora a dar-se conta disso. Ao governo de Macau, habitualmente estigmatizado por suposta falta de legitimidade democrática (ironicamente de sentido contrário), abre-se agora a possibilidade de fazer doutrina na matéria e ser mesmo exemplo internacional.
Rodolfo Ascenso no Ponto Final.

2. A manifestação de cinco mil pessoas, ontem, nas ruas de Macau foi, sem margem para dúvidas, uma bofetada de luva branca na classe política e empresarial de Macau. Estas insistem, a um ritmo quase semanal, em passar atestados públicos de estupidez à população da RAEM. Finalmente, saiu para a rua um movimento social, organizado, capaz de exprimir as suas críticas, reivindicações e exigências sem temer que o fantasma da desestabilização social lhes seja imputado.
João Costeira Varela, Hoje Macau

3. Não sendo possível quantificar o número de manifestantes - todos os exercícios neste sentido são especulativos - nem parecendo ser isso o mais importante - em termos gerais, o número seria sempre reduzido a partir do momento em que a influente Associação Geral dos Operários se desmarcou do acontecimento - a grande vitória é do “segundo sistema” que mais uma vez se cumpriu, com a realização da manifestação.
José Rocha Dinis no Jornal Tribuna de Macau.

Estas são algumas pistas para uma reflexão que assume contornos mais complexos do que pode parecer a priori. A opção pela não-intervenção na economia e pela crença cega nas leis (im)perfeitas do mercado - linhas mestras que guiam o executivo da RAEM - tem os seus efeitos.
Muitos já tinham avisado; agora aconteceu. E duvido que este seja um caso isolado...
Há muitas movimentações que se conjugam no triénio 2006-2009: a "guerra" da sucessão de Edmund Ho, dizem, está em marcha acelerada; as assimetrias sociais agudizam-se; a batalha do jogo entrará numa nova fase.
As peças movimentam-se debaixo da cortina de fumo. E quando olhamos para Macau devemos recordar as palavras de João Aguiar:

Um pequeno universo difícil de aprisionar dentro de modelos que não sejam o seu…podemos ignorá-lo, desprezá-lo, mascará-lo, podemos fazer tudo excepto capturá-lo dentro dos limites estreitos da lógica comum. É um dragão, porque a China é terra de dragões. E é feito de fumo porque basta-lhe um momento ou um sopro para que a sua forma se altere e o que ontem foi deixe hoje de ser.(in “O Dragão de Fumo”).

P.S. Numa reflexão vinda das entranhas, Carlos Morais José olha assim para Macau:

Um filme francês dos anos 40 chamava a Macau “L’enfer du Jeu”, retratando uma cidade viciosa, contudo com patine, fascinante. Hoje caminhamos para o inferno do jogo, mas rodeados de plástico, nos prédios e nas almas das pessoas. Um inferno da cópia da cópia, do silicone, do falso, das vidas de preço módico. Acredito nas boas intenções do Chefe do Executivo mas, passados seis anos, é caso para dizer que de boas intenções está Macau cheio. E cada vez mais parecido com um pequeno inferno, onde a vida, a cultura, as pessoas têm cada vez menos consequência.

Vale a pena ler o artigo por inteiro: "Regresso ao inferno", no Hoje Macau.