José Carlos Matias
A criação do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau) em 2003 constituiu um alicerce estruturante da então recém-criada Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Deu-lhe sentido e identidade, religando-a ao seu passado e projetando-a no futuro. Um futuro enquadrado numa estratégia geopolítica e geoeconómica de uma China emergente. Deu também sentido e sentimento de pertença às comunidades lusófonas de Macau que que passaram a sentir-se mais em casa, num contexto de ansiedade pós-transição. E deu sentido multilateral à rede de relações institucionais e pessoais entre a China e os PLP. Por tudo isto e muito mais o Fórum foi uma iniciativa que primou pela visão e inovação por parte do Governo Central.
Passados 15 anos, o balanço é positivo. O Fórum e o projeto de Macau como plataforma foi sendo materializado através de uma miríade de eventos em que participaram e interagiram milhares de pessoas destes mundos, à medida que as áreas de cooperação se foram alargando. Todavia, subsiste aquilo que Christopher Hill designou de “capability-expectations gap”, quando, em 1993, se referia ao projeto europeu. Ou seja, tendo em conta as vontades políticas das partes – China e PLP – e os recursos financeiros de Macau, as expetativas elevadas esbarraram numa falta de capacidade – e por vezes de vontade – da RAEM e das suas elites de elevar este projeto a um patamar de prioridade.
O encaixe do Fórum e de Macau como plataforma na relação entre a Grande Baía e os PLP – salientado durante as reuniões este mês em Pequim da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês – afigura-se agora como uma via de valorização e autonomia que deve ser aproveitada com inteligência. É a porta aberta e o caminho de abertura O futuro é aqui, agora. Passa pelas grandes, mas sobretudo pequenas e médias empresas com valor acrescentado, start-ups, serviços e instrumentos financeiros, arbitragem comercial, pelas novas tecnologias amigas do ambiente, pela economia do mar, por um Fundo de Cooperação e Desenvolvimento efetivamente acessível, por um envolvimento maior dos PLP, nomeadamente do Brasil, de Macau e pela cooperação entre cidades e províncias. Mas passa também reforço de intercâmbios entre pessoas, cultura, educação e desporto. O Fórum está bem, recomenda-se, mas pode – e deve – ser melhor. Com visão e ambição.
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