Saturday, May 30, 2009

Marcial

Na manhã de 30 de Maio de 1989, Jiang Zemin estava a presidir a uma reunião do Comité de Xangai do Partido Comunista Chinês, quando recebeu uma chamada de Pequim. Wen Jiabao, hoje primeiro-ministro e na altura chefe do Gabinete Central do Partido, tinha marcado encontros entre Jiang e os três Super-Anciãos: Chen Yun, Li Xiannian e Deng Xiaoping. Estes encontros indicavam que Jiang Zemin era o escolhido para substituir Zhao Zhiyang, que caíra em desgraça por dar sinais de apoio aos estudantes que há semanas estavam na Praça de Tiananmen. Deng, primus inter pares, preferia Jiang a Li Peng, primeiro-ministro que se tinha tornado na “bête noir” dos sectores liberais e dos estudantes. O pequeno timoneiro esclarecia que era fundamental que as reformas económicas seguissem em frente e que a China não podia ficar refém de certas visões ideológicas, numa alusão ao sector considerado mais conservador, corporizado pelo primeiro-ministro Li Peng, que vinha a defender o uso da força sobre os estudantes.
Onze dias antes, Zhao Zhiyang tinha descido à Praça da Paz Celestial. Zhao desabafou: “Viemos tarde demais”.

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O ainda secretário-geral - três dias antes de ser afastado - pediu aos estudantes que terminassem a greve de fome e para abandonarem a Praça antes que fosse tarde demais. Zhao estava em lágrimas, exausto. O seu coração estava com eles, mas o fim da sua carreira política estava próxima. Deng ficou furioso. Em conversa com Yang Shangkun afirmou: “Viste o que Zhao disse em Tiananmen? As lágrimas escorriam pela sua face e ele estava a tentar mostrar que não estava a ser bem tratado. Ele violou os princípios do Partido – muito indisciplinado”. A Lei Marcial seria declarada a 20 de Maio. Antes, a 16 de Maio, no encontro com Mikail Gorbachev, Zhao tinha referido, em público, que apesar de já se ter retirado, a voz de Deng ainda era que tinha mais autoridade em questões de grande importância, no processo de tomada de decisões do Partido e do Estado. No dia 4 de Maio, num encontro do Banco de Desenvolvimento Asiático Zhao tinha dito que o que estudantes pretendiam era apenas a correcção de políticas e a luta contra a corrupção e por maior transparência. Nessa altura Zhao defendeu que o governo e o Partido deviam responder positivamente às exigências dos estudantes que fossem razoáveis. A partir dessa altura os estudantes aumentaram de tom os protestos, que se generalizaram a quase todo o país.
Na reunião do Comité Permanente do Politburo com Deng Xiaoping,Li Peng responsabilizou Zhao pelo “caos” e o próprio Deng sugeriu a adopção da Lei Marcial em Pequim. Zhao opôs-se claramente.
A 22 de Maio de 1989, foi afastado dos cargos que detinha no Partido e colocado sob prisão domiciliária até à sua morte em Janeiro de 2005. Este mês foram publicadas as suas memórias.

Com base em “The Tiananmen Papers: The Chinese leadership’s decision to use force against their own people – in their own words”, Compilado por Zhang liang; coordenado por Andrew J. Nathan e Perry Link.

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