Tuesday, September 13, 2005

Eleições Legislativas IV: os portugueses

Em Macau a expressão portugueses pode ser entendida de diversas maneiras. Por um lado, os cidadãos portadores de passaporte de Portugal - o que representará cerca de 120 mil pessoas - por outro os cidadãos portadores de passaporte português que usam a língua de Camões no dia-a-dia e cujas referências culturais se encontram em Portugal - cerca de 10 mil, a maioria dos quais macaenses, ou seja pessoas com sangue português e oriental - finalmente os portugueses expatriados, ou seja oriundos da "metrópole" que serão cerca de 2 mil. Não menosprezando os direitos dos chineses de cidadania portuguesa, para este efeito temos em conta o segundo grupo, que inclui naturalmente o terceiro. Ora, tendo em conta os considerandos supracitados, existem duas candidaturas encabeçadas por portugueses, neste caso macaenses:

Nova Esperança: Encabeçada por José Pereira Coutinho, presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), esta candidatura procura seduzir não apenas o eleitorado de matriz portuguesa, mas também eleitores chineses. Prova disso é a inclusão de dois chineses no segundo e no terceiro lugar da lista. Trata-se de uma estratégia inteligente uma vez que eleitoralmente os portugueses têm muito pouco peso e que a figura de Pereira Coutinho, também conselheiro das comunidades portuguesas para a zona Ásia Pacífico, está longe de ser consensual. Há quatro anos esta candidatura obteve 4700 votos, ficando a pouco mais de 300 da eleição. Agora Coutinho não tem o arqui-rival Jorge Fão pela frente, mas a sua eleição não será mais facilitada, porque a Lista "Por Macau" de Sales Marques também pisa o terreno do eleitorado português e macaense.

Por Macau: Trata-se da candidatura com fortes ligações a vários ilustres da comunidade macanese. Prova disso é a comissão de honra recentemente apresnetada onde pontificam ilustres portugueses do território como Anabela Ritchie, ex presidented a Assembleia Legislativa, o arquitecto Carlos Marreiros ou o escritor Henrique de Senna Fernandes. Presidida por Sales Marques, ex presidente do Leal Senado, a "Por Macau" procura ir ao encontro não apenas do voto português, mas também de outras comunidades expatriadas de Macau. Nota-se igualmente uma preocupação em ter um discurso mais abrangente - daí o lema "Por Todas as comunidades" - em especial à procura do voto de alguma classe média chinesa.
No entanto, a eleição de Sales Marques para a Assembleia parece ser uma missão quase impossível.

Depois de em 2001 Jorge Fão ter sido eleito na lista de David Chow, e depois da sua recusa em voltar a ir a votos, desta vez a possibilidade da eleição de um deputado português pelo sufrágio directo afigura-se reduzida. Tudo vai depender da capacidade de cada uma destas candidaturas de mobilizar o eleitorado português, que parece estar algo alheado da vida política local, e, acima de tudo, de seduzir o eleitorado chinês. Mesmo assim a representação da comunidade portuguesa na Assembleia Legislativa estará sempre assegurada através de Leonel Alves, que vai ser eleito pelo sufrágio indirecto, e por um deputado nomeado pelo chefe do executivo.

2 comments:

Geosapiens said...

...era interessante haver uma prespectiva diferente...eleita directamente...num parlamento que será claramente de composto por perspectivas orientais...a apatia e/ou luso descendente deve-se a quê?

José Carlos Matias (馬天龍) said...

Deve-se a várias razões. No meu caso, ainda não tenho direito a votar, uma vez que estou cá apenas há dois anos e meio - apenas sete anos depois de ter cartão de residente poderei ser permanente e portanto votar e ser eleito. Em segundo lugar, a Assembleia na verdade é pouco mais que uma caixa de ressonância do Governo. A qualidade dos deputados e os poderes consignados são diminutos.Em terceiro, as candidaturas de índole portuguesa não entusiasmam: são vagas, inócuas, falta-lhes um discurso de projecto sócio-económico - ou seja padecem dos mesmo males das outras candidaturas, as chinesas. Em quarto lugar, muitas pessoas estão aqui de passagem (apesar da passagem de alguns já ir nos 20-30-40 anos)especialmente os expatriados. Por isso o inetresse pela participação política é menos.