Caro Geosapiens,
Aprecio a tua participação e contribuição para os debates lançados neste blogue. No comentário que fazes ao post "Portugal (des) orientado", observas duas razões relevantes que justificam parcialmente esta presença minguada de Lisboa nos assuntos sínicos.
No entanto, não concordo que "à China não lhe interessa mesmo, que haja uma memória da passagem portuguesa por esses bandas...tem a ver com o orgulho nacional que as suas elites tem em relação a esse assunto". Pelo menos a avaliar pelos primeiros cinco anos e meio da administração chinesa de Macau, por um lado, Pequim lançou aqui o "Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa", que apesar de ter muito mais a a ver com os interesses chineses na África Lusófona do que no papel de Portugal, não deixa de politicamente ser um sinal da importância de Macau como um território em que o português é língua oficial, por outro lado há uma preocupação coma preservação do património, desde a expansão da "calçada portuguesa" nos passeios de Macau, até à valorização da herança portuguesa na candidatura aprovada a património mundial da Humanidade. Por fim, há que enquadrar as conclusões de Moisés Silva Fernandes numa altura em que sobressaiam os receios que as autoridades da RAEM pretendessem desvanecer a presença portuguesa aqui.
Felizmente, pelo menos até ao momento, isso não tem acontecido. As sensibilidades referidas, os sectores mais tradicionalistas e "nacionalistas", não conseguiram impor essa tentação de, em poucos anos, apagar com uma borracha os quatro séculos de presença portuguesa. Isto não quer dizer que não haja uma linha, mais em Macau que em Pequim, que gostasse de o fazer. Daí que observe que Portugal avaliou mal o que poderia ser Macau no futuro, encarando a transição meramente como um alívio. Sem dúvida que foi, mas virar as costas às oportunidades que existem aqui e desbaratar as potencialidades não tanto de Macau, mas de toda a zona do Delta do Rio das Pérolas não me parece que seja uma atitude ajuizada. E isto acontece não apenas ao nível do Palácio das Necessidades ou de São Bento, mas sobretudo no sector privado como foi exemplo a recente venda do BCM a um grupo bancário de Hong Kong porque a Administração do BCP considerava este banco um "activo não estratégico". Sim, há limitações, mas julgo que elas têm a ver mais com as contingências da "Ocidental Praia Lusitana" do que de impedimentos da "Flor de Lótus" ou do "País do Meio".
Do ponto de vista empresarial, ou seja de capacidade e possibilidades de investimento na China, há sempre que ter em mente que provavelmente, hámuito poucas empresas portuguesas com fôlego para avançar com o capital necessário para investir na China. A solução, como a PT já fez, está em encontrar parceiros locais (o que não é fácil) para investir em "nichos de mercado". Exemplo disso foi o recente acordo para um investimento numa rede de telecomunicações de frotas de camiões de carga. O sector vinícola e corticeiro também se está a mexer. Mas não deixa de ser pouco, especialmente tendo em conta que fomos os primeiros ocidentais a chegar para fazer comércio com o Oriente e os últimos a entregar uma "colónia".
Tuesday, September 06, 2005
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3 comments:
caro...pelos argumentos apresentados tenho que fazer mea culpa...e reconhecer que a culpa talvez resida mais neste cantinho á beira mar platado que não tem pedalada para investir num país tão grande...
não é necessária a mea culpa.Fico entusiasmado com a tua contribuição para este blogue. E, uma vez que estou demasiado próximo do objecto de análise, peloi menos de Macau, por vzes posso perder alguma distãncia que é sempre importante na análise.
...claro que devemos fazer mea culpa quando reconhecemos que os argumentos por outro aduzidos são melhores e tem mais razão que os nossos...mas continuarei a visitá-lo e a opinar...um abraço...
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