Esta semana, o magnífico programa "Hard Talk" esteve na China a entrevistar pessoas que transportam consigo as contradições de um país em transição assimétrica. O jornalista Stephen Sackur, como sempre, imprime um ritmo incisivo e acutilante a uma serie de entrevistas a não perder.
Desta série de entrevistas, a mais impressionante e profunda é esta, ao escritor Liao Yiwu.
Liao Yiwu Pt I
Liao Yiwu Pt II
Liao Yiwu Pt III
Chamo a atenção para a forma como termina a entrevista.
A propósito deste momento Carlos Morais José escreveu no Hoje Macau: "na BBC, a um chinês dissidente perguntavam: “Como viver num país em que há liberdade para ganhar dinheiro, mas não para falar, para escrever, para pensar?”. O entrevistado olhou muito sério o jornalista e respondeu: “a minha liberdade vem do coração e, se me permitir, mostro-lhe”. Dito isto, faz aparecer uma flauta de bambu da qual retira sons alquímicos. Perceberam? Eu também não ou talvez um bocadinho. Mas tenho a certeza de que compreendi".
Saturday, March 29, 2008
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4 comments:
Muito interessante. A partir de agora, vamos todos ser livres no coração e calar a boca. Ou, então, usamo-la só para pronunciar coisas inócuas, que não firam o poder. E, assim, seremos sempre livres...
Há quem continue a tentar justificar o injustificável. É pena. Ser nobre de espírito é também saber dar o braço a torcer quando se escrevem asneiras! Mas pronto, há quem considere que se ruma na direcção certa mesmo quando o poder continua a amordaçar, aprisionar e assassinar o povo, só porque o PIB cresce. Foi também esse o discurso da Indonésia de Suharto em Timor Leste. Uma vergonha!
Caro Nuno,
Em primeiro lugar, obrigado por mais um comentário.
A forma como Liao Yiwu responde a Stephen Sackur e como termina a entrevista é poética, profunda e cheia de implícitos. Foi isso que senti como sendo um dos momentos mais plenos de significado que já vi no jornalismo televisivo. A vida e a obra de Liao é disso também um exemplo. Esta é uma entrevista magnífica, bem como as restantes desta série do programa "Hard Talk". Esse é o sentido deste post e da citação do Carlos Morais José. Quanto ao resto que referes no comentário, presumo que não tem nada a ver com este blogue ou com este post. Em qualquer caso, tenho para mim, que o Tibete não é Timor-Leste e que a China de hoje não é a Indonésia de Suharto. Parece-me...
Saudações sínicas
Meu caro,
Receio ter sido mal interpretado. O meu comentário referia-se exclusivamente ao texto do Carlos Morais José que citas no teu post, não esquecendo o seu anterior texto «O Risco dos Jogos», cujas reacções negativas o terão levado, julgo eu, a este retorno ao assunto.
Quanto ao paralelo entre China/Tibete e Indonésia/Timor Leste, a retórica oficial não me parece assim tão distinta...
Caro JCM,
Sem querer personalizar o debate deste assunto, acrescentaria só mais uma coisa aos meus dois anteriores comentários: considero que o cerne do último artigo do CMJ é quando ele afirma
«se quando os líderes chineses dão mostras de pretenderem uma cada vez maior abertura, não hesitando mesmo em se escancarar para as Olimpíadas, é a altura de provocar revoltas, parece-me claro que o objectivo é dar força aos grupos mais conservadores do regime, cuja razão se cimenta à medida que a desarmonia frutifica.
Para quê? Para fragilizar a posição económica do país. A quem isto interessa? Aos inimigos da abertura chinesa que, de fora, não vêem com bons olhos a emergência de milhões de pessoas na cena mundial. E os que de dentro não estão ainda convencidos de que a abertura favorecerá, se calendarizada, o desenvolvimento em geral do povo chinês».
Analisando a orientação do artigo do CMJ nesta perspectiva, sinto que a citação que dele aqui fazes acaba por ficar fora de contexto, se me permites a nota dissonante. O CMJ refere-se, de facto, a esta entrevista (embora sem mencionar os nomes dos seus protagonistas), mas não porque alinhe nos "implícitos" de Liao Yiwu, para usar a tua expressão. Pelo contrário, cita a parte final da entrevista para dar a ideia de que o pensamento de Liao Yiwu confirma o que escreve no seu artigo do Hoje Macau, quando, na verdade, o dissidente segue por caminhos bem diferentes daqueles que o CMJ advoga no artigo.
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