Friday, August 08, 2008
Breves notas em dia O
1.Não há dúvida. Carlos Monjardino é Sínico com C maiúsculo. Basta estar em Macau há algum tempo e ler este excerto de uma entrevista que deu ao Diário Económico para chegar a essa e a outras conclusões.
2. Em Pequim estão 80 chefes de estado e de governo. O presidente de Portugal Aníbal Cavaco Silva invocou razões de agenda para não comparecer. Os restantes países lusófonos fazem-se representar quase todos ao mais alto nível, com a presença dos presidentes do Brasil, Timor-Leste, Moçambique e Angola.
Passe o dramatismo, João Severino bem escreve :
"É inacreditável como os mais altos responsáveis de um país que esteve intimamente ligado durante séculos a outro país, (através da presença em Macau) possam ofender e magoar de tal forma tão significativa a "face" dos governantes chineses, renegando a uma presença simbólica numa cerimónia de abertura. Com uma agravante vergonhosa: a justificação de que não poderiam estar presentes por uma questão de "agenda". Deverá ser a "agenda" de um banho na praia de manhã, uma sardinhada ao almoço, um mergulho na piscina à tarde e uma mariscada ao jantar."
3. 我與奧運的! Que sejam os Jogos da vida deles (atletas). Sitius, altius, fortius!
4. Ao longo dos Jogos Olímpicos, o Sínico estará em câmara lenta.
5. A cerimónia está a ser ...
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13 comments:
O Império Britânico sabe escolher os seus súbditos que, normalmente, não primam pela inteligência. A ausência de Cavaco Silva não é, nesse sentido, surpreendente. O Estado português continua a prestar vassalagem à Rainha e a pagar um altíssimo tributo: a noite eterna.
Cavaco Silva e José Sócrates acordaram em não estar presentes como protesto pela situação dos direitos humanos na China e, em especial, depois do que recentemente se passou no Tibete. "Questões de agenda" é apenas uma expressão da retórica diplomática usada em situações como esta.
Os presidentes francês e americano, pelo contrário, deram o dito por não dito e foram prestar vassalagem ao regime sínico.
Cada um que faça a avaliação que quiser, mas, ao menos, não digam disparates ignorantes.
"Direitos Humanos", aproveito para o informar, é uma expressão da retórica diplomática usada em situações como esta. A sapiência é outra coisa.
E o que é, para si, a sapiência numa situação destas?
Começa por ser temperança.
Depois é cautela com a adjectivação inócua que em situações como esta mais não faz que disfarçar a incapacidade de ler a acção diplomática como instrumento decisivo do design civilizacional. No macrocosmos político onde se joga a verdadeira diplomacia e onde é determinado o devir colectivo não cabe essa subtileza salomónica chamada “expressão de retórica”. Usam-na apenas as costureiras e as nações decrépitas, não os verdadeiros actores da História, como acaba, aliás, de o demonstrar a Rússia, abrindo uma guerra no dia em que a China abre os Jogos Olímpicos. Os chineses não lhe chamam coincidência. Chama-lhe Sincronicidade. Isso é sapiência.
E sapiência seria Portugal fazer-se representar ao mais alto nível no mais importante acontecimento político dos últimos séculos(a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos decreta o fim do Renascimento), tal como o fizeram, aliás, 80 das mais influentes nações do planeta. Sapiência seria ler antecipadamente a sua ridícula ausência como um gesto de enorme gravidade diplomática que trará graves consequências no futuro relacionamento com a maior potência mundial e empurrará definitivamente Portugal para o fundo do poço civilizacional para onde já se dirige a todo o vapor.
Sapiência seria posicionar-se como nação charneira, elo de ligação entre o novo paradigma representado pelo despertar chinês e o imenso património civilizacional transportado pela lusofonia.
Presumo, então, que as críticas que dirige a Portugal também se aplicam à Alemanha, que também não se fez representar ao mais alto nível na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. Mas é claro que você sabe mais de política internacional do que a chanceler alemã...
Boa discussão. Obrigado ao Nuno e ao Bruno. Passe algum dramatismo na forma como o Bruno Santos encara esta situação, em traços gerais concordo com a sua observação. Portugal devia ter tido uma representação ao mais alto nível. Lembremos o óbvio: Portugal foi o primeiro parceiro europeu da China, há 500 anos; os dois países têm uma parceria estratégica firmada em 2005; há interesses mútuos vastos. Seria positivo que Lisboa tivesse tido outra atitude à semelhança do que fizeram - e bem - Sarkozy, Bush, o Princípe de Espanha entre muitos outros chefes de estado ou governos de países democráticos. Não me parece que Portugal tenha conseguido algo com a eventual atitude de "dar uma lição à China" sobre a questão do Tibete. Na mesma ordem de raciocínio certamente que o Nuno defende que enquanto a China não ceder às exigências do Dalai Lama, Portugal deveria cancelar visitas de alto nível – isso sim seria um disparate de todo o tamanho! A ausência de Cavaco e Sócrates na cerimónia contradiz os sinais positivos dados na última visita do primeiro-ministro português à China. A questão em cima da mesa é bem mais seca: a ausência não rima com o interesse nacional português, especialmente quando quase todos os restantes países lusófonos (não esqueçamos a dinâmica sino-lusófona) maçaram presença ao mais alto nível. Não é trágica esta falha, mas seguramente que foi devidamente assinalada em Zhongnanhai. A verdade é que - como Sarkozy sublinhou - Pequim retomou o diálogo com os representantes do Dalai Lama. Aliás, o próprio Dalai Lama saudou a realização dos Jogos Olímpicos. Nas relações Internacionais e na forma de lidar com a China deve haver uma abordagem múltipla: por um lado o trabalho das ONGs de denúncia de atropelos dos direitos humanos; por outro a nível inter-estatal de diálogo construtivo com Pequim. Estar na cerimónia de abertura seria um sinal importante neste sentido. Não seria um acto de vasslagem como diz o Nuno. Neste mundo há toda uma rede de inter-dependências. Cada país joga com a sua balança de poderes e interesses. O impacto dos JO na China será avaliado mais tarde – Estou certo que globalmente será claramente positivo. A abertura da China ao mundo celebrada nestes JO deve ser saudada, ao mesmo tempo que deve ser exercida uma pressão de forma inteligente pelos canais próprios sobre a questão dos direitos humanos. E, mais importante, tendo em conta os códigos de linguagem e da diplomacia da China.
Caro JCM,
Sem qualquer pretensão de dar lições de sapiência a ninguém (e, muito menos, de usar a minha quase década e meia de vida na China para me arrogar a dar lições sobre este país a quem, se calhar, nunca saiu do seu canto no outro lado do mundo e julga que sabe muito da China real), deixo aqui algumas observações adicionais:
1) A China candidatou-se à organização destes jogos com a promessa de que evoluiria em matéria de direitos humanos. Parece que não cumpriu a promessa. Aliás, diversas organizações internacionais denunciaram o aumento da repressão nos meses que antecederam o início da prova;
2) Tendo-se tornado irreversível a realização dos jogos em Pequim, também partilhei do desejo de que corressem bem, como parecem estar a correr. Não me esqueço, no entanto, da sua componente política e propagandística, das promessas falhadas e, em especial, da situação no Tibete, pelo que entendo que os líderes mundiais não deviam ter comparecido à cerimónia inaugural do passado dia 8. A componente desportiva mantinha-se, mas a mensagem política do mundo para o governo chinês deveria ter sido clara. Não foi e lamento-o;
3)Sarkozy e Bush prestaram vassalagem à China, sim, meu caro JCM. Não por terem estado presentes em Pequim, mas por o terem feito depois de terem dito que não compareceriam em protesto pela situação do Tibete;
4) Espanha esteve representada pelo príncipe, não pelo seu PM ou pelo Rei? Pois Portugal esteve representado por um ministro, que é também o porta-voz do nosso governo. Qual a diferença?
5) Pequim retomou o diálogo com os representantes do Dalai Lama? Sim, e suspendeu-o após a tragédia de Sichuan. Justificava-se? Bem, a tragédia não impediu que os jogos se realizassem. Seria assim tão difícil manter o diálogo com os enviados de Sua Santidade? Vamos a ver o que acontece DEPOIS da prova. Querem apostar?
6) «Deve ser exercida uma pressão de forma inteligente pelos canais próprios sobre a questão dos direitos humanos»? «E, mais importante, tendo em conta os códigos de linguagem e da diplomacia da China»? E o lírico (para não repetir o Scolari) sou eu? Eu? Repete lá isso aos mortos e exilados do Darfur, do Tibete, do Zimbabué, da Birmânia ou da Coreia do Norte. Meu caro, "os cães ladram e a carroça passa". Nós somos os cãezinhos inofensivos que ladram enquanto a carroça imperial vermelha passa a grande velocidade, esmagando quem se lhe opõe, interna e externamente. Deixa passar mais uns meses (e mais uns editoriais sabujos do teu acrónimo) e conversamos novamente sobre isto...
Não só não pensamos da mesma maneira, como usamos um tipo de linguagem diferente. Ainda bem, diria. Apenas posso dizer que mantenho o que escrevi. Tudo depende da perspectiva se o copo está meio cheio ou meio vazio. Procurei conduzir o debate a um outro nível. Infelizmente não consegui.
Quanto ao lirismo do que escrevi, eis uma lista de dois respeitáveis líricos (com links):
Comissão Europeia:
http://www.delchn.ec.europa.eu/euch_poli3.htm
Fareed Zakaria
http://newsweek.washingtonpost.com/postglobal/fareed_zakaria/2008/08/beyond_china-bashing.html
Continuaremos a conversa noutro local...
Meu caro, não me leves a mal a linguagem. Tenho a maior consideração pelas tuas opiniões e aprecio imenso os teus escritos sobre a China, como sabes. Simplesmente, estou cansado dessa ideia de que qualquer abordagem ao governo chinês tem que ser sempre feita de acordo com os seus códigos, os seus canais, a sua linguagem; em suma, de que tudo tem que ser sempre feito "à maneira deles", passe a expressão. Nós nunca podemos ferir susceptibilidades; eles podem fazer e dizer o que quiserem...
A verdade é que o tempo passa e pouco ou nada muda. Será isto tão difícil de se ver?
PS: tu és mais Jimmy Carter, eu sou mais Ronald Reagan...
Dois esclarecimentos adicionais, para evitar mal-entendidos:
1) Quando escrevi «Sem qualquer pretensão de dar lições de sapiência a ninguém (e, muito menos, de usar a minha quase década e meia de vida na China para me arrogar a dar lições sobre este país a quem, se calhar, nunca saiu do seu canto no outro lado do mundo e julga que sabe muito da China real)», referia-me ao comentador BS e não a ti, JCM. Julgo que fui óbvio, mas, à cautela...
2) Quando, na primeira mensagem, escrevi «Cada um que faça a avaliação que quiser, mas, ao menos, não digam disparates ignorantes», referia-me, antes de mais, aos comentários da sardinhada e dos banhos e mergulhos. Falaste da nossa diferente linguagem e do desejo de manter o nível do debate, mas olha que a transcrição das palavras do JS não foi um bom contributo inicial, se me permites a franqueza (e eu nem sou apoiante do Sócrates...).
Sem dúvida que sou mais Carter que Reagan. Saudações olímpicas!
Para terminar, gostaria de acrescentar o seguinte:
Quando citei o JS ressalvei, "passe o dramatismo". A minha posição pessoal foi esclarecida no primeiro comentário que escrvi nesta caixa. Em todo o caso, penso que valeu a pena a citação. Afinal este blogue já não tinha um debate numa caixa de comentários há imenso tempo. Cheguei mesmo a pensar em eliminá-las.
O mais importante é que a discussão seja livre, aberta e com assinatura.É também desejável que decorra com algum nível.
Saudações redobradamente olímpicas!
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