Friday, September 05, 2008

Hong Kong: pesando a balança

Texto publicado no jornal Hoje Macau (que hoje completa sete anos de actividades - Parabéns!)


José Carlos Matias

Há quatro anos, as eleições para o Conselho Legislativo de Hong tiveram um tom algo dramático e com contornos de acto eleitoral que podia ter peso no rumo das reformas administrativas e políticas da região administrativa especial vizinha. Na memória fresca estava ainda grande manifestação que um ano antes tinha colocado nas ruas meio milhão de pessoas contra o Artigo 23 e em protesto pela democratização do sistema político e contra as políticas do impopular Chefe do Executivo Tung Chee Hwa. Volvidos quatro anos, o Artigo 23, que deverá ser regulamentado primeiro deste lado do Delta do Rio das Pérolas, não surge na agenda da campanha eleitoral. Quanto à democratização do sistema político, a decisão de Pequim de abrir as portas à introdução do sufrágio directo e universal em 2017 secou parcialmente a principal mensagem do campo pró-democracia. Resta a impopularidade do chefe do governo. Curiosamente, tal como em 2004, o Chefe do executivo tem a popularidade “pelas ruas da amargura”. Depois de um início em “estado de graça”, este ano, a fortuna de Donald Tsang mudou. Paralelamente ao impacto que a inflação estava a ter no bolso do cidadão médio da RAEHK, rebentou a polémica em torno das nomeações de adjuntos e assessores do governo. A popularidade de “Sir” Donald recuou para os níveis mais baixos desde que substituiu Tung. Simultaneamente, o grau de apoio e confiança face ao governo central aumentou, ao mesmo tempo que milhares rejubilaram com a presença das estrelas chinesas que conquistaram as medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos.

Os comentários de cidadãos na internet, jornais e rádios indicam que existe uma certa saturação com a abundância de ataques pessoais e escassez de debate de ideias. O que mais preocupa os eleitores são as condições de vida e aspectos ligados à saúde, educação, ambiente e segurança, mostra um estudo recente da Universidade de Hong Kong.

Contas por fazer

Que impacto vão ter estes factores nos resultados das legislativas de domingo? Uma coisa é certa: o campo pró-Pequim manterá a maioria no Conselho Legislativo, uma vez que nos lugares eleitos pelo sufrágio indirecto deverão manter uma clara maioria. Estimativas recentes indicam que podem alcançar entre 23 e 25 dos 30 lugares “funcionais” e entre 10 e 13 dos outros 30 que são escolhidos directamente. Entre o também chamado “campo patriótico”, a Aliança Democrática para o Melhoramento de Hong Kong (DAB) espera poder reforçar a sua posição, na sequência dos óptimos resultados registados nas últimas eleições para os Conselhos de Bairro.

Do outro lado, o Partido Cívico poderá ombrear com o Partido Democrata pela hegemonia no campo pró-democracia, uma vez que tem projectado uma imagem de responsabilidade, competência e moderação, que deverá granjear um forte apoio entre sectores profissionais liberais e da classe média. Feitas as contas, o campo pró democracia poderá ser ficar satisfeito se conseguir subir de 18 para 19 deputados no sufrágio directo. Falta saber se consegue manter os sete assentos obtidos em 2004 no sufrágio indirecto.

Contudo, outros cálculos devem ser adicionados a estas contas. Os chamados não-alinhados poderão conseguir um ou dois lugares no Conselho Legislativo, sendo que vários dos grupos de “independentes”, são acusados por forças do “campo pró-democracia” de serem “submarinos” – ou seja, na verdade são próximos das forças pró-Pequim.

Deste lado do Delta

Em Macau, naturalmente, que as eleições vão ser acompanhadas com muita atenção. Contudo, tendo em conta as diferenças entre a cultura política das duas regiões administrativas especiais, não deverá haver óbvias consequências do resultado de domingo. Em todo o caso, se as forças “pró-Pequim” conseguirem fazer recuar empurrar o “campo pró-democracia” e, sobretudo, se a DAB aumentar o número de deputados eleitos directamente, certamente que as chamadas forças “tradicionais” de Macau sentirão que dentro de um ano têm todas as condições para reforçar o seu peso.

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