Saturday, June 02, 2018

Bicho-da-Rota-da-Seda

Editorial Plataforma Macau 27/04/2018

Desde que Xi Jinping enunciou, em 2013, a ambiciosa iniciativa global Uma Faixa Uma Rota – entretanto rebatizada Faixa e Rota – que esta estratégia se tornou no centro gravitacional da política externa chinesa. O financiamento de projetos de infraestruturas de larga escala assumiu-se como eixo central, tendo a China criado, como instrumento chave desta dinâmica, o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (AIIB, na sigla inglesa), ao qual se juntaram já 64 países e regiões, entre os quais dois Países de Língua Portuguesa – Portugal e Timor-Leste – e a região administrativa especial vizinha, de Hong Kong. 
A primeira questão que sobressai é onde está Macau? Ou, por outras palavras, que papel poderá e deverá Macau desempenhar neste processo? Porque é que Macau ainda não se juntou ao AIIB? Foram estas as questões orientadoras do trabalho que publicamos nesta edição do PLATAFORMA e os factos e opiniões apontam todos no mesmo sentido: o quem sido feito é insuficiente e falta a Macau assumir um rumo claro neste projeto. Não é que não haja um enquadramento. Esse tem sido balizado pelo Governo Central. Em Março, o Chefe do Executivo Chui Sai On disse que iria assinar um acordo com a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma sobre a participação de Macau na iniciativa. Já em 2016, o primeiro-ministro, Li Keqiang, tinha salientado que a iniciativa “Uma Faixa e Uma Rota coincide altamente com os planos do desenvolvimento de muitos Países de Língua Portuguesa”. Disse-o no discurso de abertura da conferência ministerial do Fórum de Macau. 
Por outro lado, olhando para os cinco pilares estruturantes do projeto, um deles emerge como aquele em que Macau pode dar mais cartas: “people-to-people linkages”, ou seja estreitamento de laços entre as pessoas das múltiplas geografias. Em concreto, ser cada vez mais um dínamo para intercâmbios culturais, educacionais e profissionais, com uma aposta mais forte no turismo cultural, formação de talentos bilingues (ou trilingues), indústrias criativas e culturais e tornando-se num centro de arbitragem comercial. Com foco – na ligação com os PLP – e ação. 
Ficar-se somente pela criação de comités, cujo trabalho não é visível, e pela mera adesão retórica ao projeto Faixa e Rota é meio-caminho para a falta de relevância. Não tem de ser assim. Afinal, Macau tem todas as condições para ser Bicho-da-Rota-da-Seda. 
José Carlos Matias  27.04.2018

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