Editorial Plataforma Macau 20/04/2018
Há 30 anos a ilha de Hainão era autonomizada, administrativamente da província de Guangdong, passando também a ser uma das várias zonas económicas especiais da República Popular da China. Ao longo dos anos, foi sendo criada a expectativa de que estaríamos perante o Hawaii da China. Apesar de todo o desenvolvimento, a ilha não tem conseguido impor-se como um destino turístico internacional de topo. Volvidas três décadas, Xi Jinping anuncia um plano ambicioso que transformará toda a ilha numa Zona de Comércio Livre, com políticas amigas do investimento para incentivar o estabelecimento de unidades de saúde, instituições médicas, a importação de equipamento médico e produtos farmacêuticos e permitir a fixação de médicos estrangeiros. O Presidente referiu ainda um papel, estrategicamente importante, na relação da China com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). Mas mais significativo: é dada luz verde para que se desenvolvam atividades ligadas a apostas desportivas e corridas de cavalos. Em suma, colocar Hainão como centro de nível mundial de turismo e lazer e foco avançado de abertura económica ao investimento privado e externo, ao mesmo tempo que lhe é conferida uma funcionalidade na política externa da China.
Perante isto, o desafio que se afigura para Macau é claro como água. Dormir na forma à sombra da bananeira da abundância, supostamente, infinita do setor do jogo, comporta riscos que crescem dia após dia. O plano para Hainão inclui áreas em que Macau já devia estar a dar cartas. Desde logo como cidade com infraestruturas de primeira água, serviços aos turistas e cidadãos locais de alta qualidade e com capacidade de atração dos melhores quadros a nível mundial.
O que impede Macau de ser um polo avançado de serviços de saúde públicos e privados de excelência com especialistas de topo? Com o que está previsto para Hainão, que futuro terá o já quase moribundo Macau Jockey Club, que viu a sua concessão ser estendida recentemente por 24 anos e meio? E por que razão investidores externos têm enfrentado tantas dificuldades em ter sucesso em certos setores como por exemplo os dos transportes ou saúde?
A mentalidade protecionista e paroquial que ainda impera em vários setores acaba por ser uma camisa-de-forças para aqueles que têm a visão de abertura. Mas ter visão não é suficiente. Quem governa precisa também de ter coragem e firmeza para iluminar o caminho, sem estar tomado pelo medo de errar e pelos pequenos-grandes interesses que teimam em erguer obstáculos.
José Carlos Matias 20.04.2018
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