Sunday, April 01, 2007

Blame China

Não pretendendo ignorar que a China nem sempre joga no comércio internacional com as armas mais justas e correctas, não posso deixar de ficar algo apreensivo com a decisão dos Estados Unidos de impor barreiras alfandegárias.
Na justificação, o secretário do Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez, admitiu que "China's economy has developed to the point that we can add another trade remedy tool, such as the countervailing duty law. The China of today is not the China of years ago," .
A nova legislação dirige-se a produtos que sejam na China alvo de subsídios que distorcem o seu valor de mercado nas trocas internacionais. No caso da indústria do papel as tarifas vão variar entre 10 e 20 por cento. Mas o mais significativo prende-se com a possibilidade de as companhias norte-americanas poderem invocar, noutros sectores de actividade, que a existência de indústrias subsidiadas como um motivo suficiente para que novas tarifas sejam criadas.
A argumentação de Washington diz respeito aos facto de a China não ser considerada uma economia de mercado. É interessante verificar que vários países asiáticos e mesmo a Austrália já concederam o estatuto de economia de mercado á China. A União Europeia ainda não o fez - esse é dos espinhos do relacionamento sino-europeu. Contudo como se verificou no caso dos têxteis e dos sapatos os dois lados estão a resolver as disputas comerciais pela via do diálogo. Os EUA não. Existem várias razões para que Washington não o faça. Por um lado, o fenómeno de outsourcing, do fecho de portas de manufacturas que ou se mudam para outros mercados com mão-de-obra mais competitiva (neste caso mais barata), como a China, o Vietname entre outros países, ou pura e simplesmente encerram as actividades. A vitória do Partido Democrata nas eleições para o Senado e Congresso também não ajuda, uma vez que existem fortes tensões proteccionistas entre os democratas, em especial face à China.
Esta medida foi anunciada pelos EUA um dia depois de um alto funcionário do Departamento do Comércio ter dito que a China estava a demorar demasiado tempo a abrir vários sectores do mercado. Podemos estar perante uma mudança na política adoptada por Hank Paulson, secretário do Comércio dos EUA, de uma abordagem negociada e com base no diálogo com Pequim para uma atitude de maior confrontação e de diplomacia económica de megafone.

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