No passado fim-de-semana, Macau foi a capital da amizade sino-lusófona. Retórica à parte (a conferência ministerial esteve, como é hábito, repleta dela), não seria de esperar “grandes saltos” ou “golpes de asa” nesta reunião. De qualquer modo convém não subvalorizar alguns aspectos da reunião ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
1. A China anunciou a criação de uma linha de crédito para os países africanos de língua portuguesa no valor de 800 milhões de yuans (cerca de 100 milhões de dólares) para a construção de infra-estruturas.
2. O Pano de Acção coloca uma tónica mais forte no investimento. Alguns países (como por Portugal) expressaram o desejo de atrair investimentos chineses, nomeadamente no turismo e construção de infra-estruturas. A posição de Lisboa foi mais acertada este ano que há três anos, mas falta ainda uma visão mais clara de Portugal neste processo. Nota positiva, no entanto, para a forte presença , a maior de sempre, de empresas portuguesas na Feira Internacional de Macau. Além disso a criação do Centro de Negócios e do Centro de Distribuição de Produtos Portugueses para o mercado chinês parecem, à partida, óptimas iniciativas. Falta agora saber se estamos perante mais do mesmo, ou seja “fogo-de-vista” para chinês ver, como aconteceu ao longo dos últimos dez anos.
3. O mesmo Plano de Acção traz à tona novas áreas de cooperação como o turismo (os países lusófonos anseiam que Pequim os coloque nos mercados turísticos preferenciais), transportes – o objectivo é criar uma rede regular de ligações aéreas e marítimas entre os países indústria farmacêutica e combate à SIDA.
4. Fica, aparentemente, adiado o objectivo de reduzir as barreiras alfandegárias.
5. A estrutura do Fórum em Macau, o secretariado, terá que mudar. Terá que ser ágil, inovadora e catalisadora de projectos. A opinião é partilhada por praticamente todos os analistas que têm acompanhado o processo.
6. Se Macau é a Plataforma, a China é o gancho, o Brasil é de outro mundo, Portugal navega à vista e os outros vão à bolina.
7. Há um fértil campo de investigação sobre o verdadeiro impacto do Fórum nas relações bilaterais China-PLP e sobretudo vis-a-vis a CPLP.
8. São Tomé e Príncipe enviou uma ministra, Cristina Dias, responsável pela pasta do comércio, que pôde assistir ao que está a perder com a ligação com Taiwan. É claramente uma vitória diplomática de Pequim.
9. O Fórum é o que é e deve ser visto numa perspectiva mais ampla.
10. Três questões:
A - (pergunta construtivista) Como é que o Fórum cria novas percepções intersubjectivas entre os participantes e redefine os conceitos de pertença e da relação com o outro (a China , uma actor externo à lusofonia)?
B – (pergunta liberal-institucionalista) Que tipo de “regime “ é este, o criado pelo Fórum, e que “spill over effects” poderão surgir em virtude do reforço da cooperação económica e comercial que se apresenta como um “win-win game”?
C –(pergunta realista) Ao nível da balança de poderes dentro do Fórum, que países viram a sua posição relativa ser aumentada e de que modo? De que forma o Fórum serve os intuitos da China de emergir na cena internacional como uma grande potência?
Wednesday, September 27, 2006
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