Tuesday, May 24, 2005

Em Macau nada Mao

Macau é um local especial, mesmo único no mundo. Em 27 quilómetros quadrados vivem cerca de 450 mil pessoas, num território com um regime jurídico, um sistema político e uma realidade sócio-económica distinta da China Continental (primeiro sistema). Fruto da herança colonial portuguesa, Macau, ou melhor, a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) tem ,de jure, e até certo ponto, de facto, uma cultura em que o Ocidente e o Oriente se cruzam. Até aqui nada de novo. A propaganda oficial já desde os tempos da Administração portuguesa propagava este território como uma “placa giratória”, “ponto de encontro”, “plataforma”. Mas muitas vezes estas palavras escondem um vazio de ideias e de projecto para o enclave – é que para outros Macau podia resumir-se a “putas e vinho (Jogo) verde”.
Passados cinco anos e meio da transição de soberania como está Macau? Bem e recomenda-se. Basta olhar para onéon das estatísticas que sinalizam uma economia a crescer exponencialmente (em 2004, o PIB avançou mais de 20 por cento). Mas há um preço que começa a ser pago. A cidade está a rebentar pelas costuras, há um preocupante desleixo na qualidade urbanística, a especulação imobiliária está leonina, e aumentam as assimetrias sociais, além de não existir um regime democrático e da economia estar cada vez mais ultradependente face aos casinos, já para não falar na insanidade de alguns dos novos projectos.
No futuro paira um espectro: o fim da Paz social levada a cabo por Edmund Ho, o aclamado chefe do Executivo. Os desafios são tremendos e depois dos primeiros cinco anos repletos de sucesso, com uma transição pacífica, sem sobressaltos, próspera, o segundo mandato de Ho será certamente mais sinuoso com pressões de vários lados: das operadores de Las Vegas que estão a assentar arrais; do inefável Stanley Ho; dos especuladores e de outros chacais; das tríades; e acima de tudo de uma sociedade ansiosa por também colher uma fatia do invejável crescimento económico e, que, provavelmente vai começar a insurgir-se contra a decadência na qualidade de vida. Mas é sempre complexo falar desta terra, um local com tantas especificidades, idiossincrasias – como João Aguiar bem escreve, “Um pequeno universo difícil de aprisionar dentro de modelos que não sejam o seu…podemos ignorá-lo, desprezá-lo, mascará-lo, podemos fazer tudo excepto capturá-lo dentro dos limites estreitos da lógica comum. É um dragão, porque a China é terra de dragões. E é feito de fumo porque basta-lhe um momento ou um sopro para que a sua forma se altere e o que ontem foi deixe hoje de ser.” (in “O Dragão de Fumo”).
E às vezes é tão simples...

1 comment:

Nic said...

Pena que Macau continue a ser cada vez mais a terra de putas e vinho (JOGO) verde!

o charme que tinha esta' a ser devorado pela americanizacao gulosa e sem escrúpulos.