Tuesday, December 20, 2005
o Sínico regressa às origens
Até 31 de Dezembro.
Os votos de Um Feliz Natal e de um Bom Ano Novo, que é como quem diz:
聖誕快樂! (sheng dan kuai le)
新年快樂! (xin nian kuai le)
Monday, December 19, 2005
Cimeira da OMC VI
Copo meio vazio...
Celso Amorim, ministro brasileiro dos negócios estrangeiros, foi uma das grandes estrelas da cimeira. Foi o pota-voz e o líder do G20.
No último dia, numa frase, resumia o valor do documento e das negociações de Hong Kong
"modesto , mas não insignificante".
Mucha Policía Poca Diversíon!
À uma da tarde havia um mar de polícias que cercava umas dezenas de sul coreanos. Na madrugada de Sábado para Domingo 900 manifestantes, na maioria da Liga de Agricultores da Coreia do Sul, foram detidos, quando estavam sentados na estrada, obstruindo a circulação automóvel. Várias ONGs acusaram a polícia de Hong Kong de abusos de poder e de não terem tratado dignamente os sul coreanos.
Certo é que apesar do espectáculo televisivo com os empurrões, bastonadas, gás-pimenta, canhões de água e dos 70 feridos, se compararmos estas manifestações com Seatle ou Génova, bem que podemos dizer que os sul-coreanos são meninos do coro comprado com os radicais europeus e norte americanos que têm por hábito partir vidros de lojas e queimar carros (uma pequena minoria faz isto, eu sei). Os sul-coreanos não destruiram nada, apenas se atiraram à polícia. Honra lhes seja feita!
Este é um clássico. Ou será que foi só para a fotografia?
Ligações sobre a Cimeira da OMC:
All-night session saved WTO talks, IHT
It's a deal, The Standard.
6th WTO Ministerial Conference concludes with tangible progress, Xinhua
A Declaração Ministerial de Hong Kong
Celso Amorim, ministro brasileiro dos negócios estrangeiros, foi uma das grandes estrelas da cimeira. Foi o pota-voz e o líder do G20.
No último dia, numa frase, resumia o valor do documento e das negociações de Hong Kong
"modesto , mas não insignificante".
Mucha Policía Poca Diversíon!
À uma da tarde havia um mar de polícias que cercava umas dezenas de sul coreanos. Na madrugada de Sábado para Domingo 900 manifestantes, na maioria da Liga de Agricultores da Coreia do Sul, foram detidos, quando estavam sentados na estrada, obstruindo a circulação automóvel. Várias ONGs acusaram a polícia de Hong Kong de abusos de poder e de não terem tratado dignamente os sul coreanos.
Certo é que apesar do espectáculo televisivo com os empurrões, bastonadas, gás-pimenta, canhões de água e dos 70 feridos, se compararmos estas manifestações com Seatle ou Génova, bem que podemos dizer que os sul-coreanos são meninos do coro comprado com os radicais europeus e norte americanos que têm por hábito partir vidros de lojas e queimar carros (uma pequena minoria faz isto, eu sei). Os sul-coreanos não destruiram nada, apenas se atiraram à polícia. Honra lhes seja feita!
Este é um clássico. Ou será que foi só para a fotografia?
Ligações sobre a Cimeira da OMC:
All-night session saved WTO talks, IHT
It's a deal, The Standard.
6th WTO Ministerial Conference concludes with tangible progress, Xinhua
A Declaração Ministerial de Hong Kong
Sunday, December 18, 2005
Saturday, December 17, 2005
Cimeira da OMC em Hong Kong IV
Não ata nem desata:
Peter Onde é que eu me vim meter Mandelson.
"WTO shows that democracy can be a messy thing", Donald Greenlees no International Herald Tribune.
"Les pays du Sud mobilisés à 110 %", Pierre Haski no Liberation.
"Talks go on all night to avert failure", The Standart.
Amanhã lá estarei de novo...
Peter Onde é que eu me vim meter Mandelson.
"WTO shows that democracy can be a messy thing", Donald Greenlees no International Herald Tribune.
"Les pays du Sud mobilisés à 110 %", Pierre Haski no Liberation.
"Talks go on all night to avert failure", The Standart.
Amanhã lá estarei de novo...
Leituras Natalícias II
Trata-se de um lvro denso e um pouco desactualizado. Mesmo assim, é muito útil para quem pretende começar a entrar no complexo edifício da organização político-institucional do estado chinês.
Friday, December 16, 2005
Leituras Natalícias I
1. Timothy Garton Ash é visto, justamente, como um dos britânicos que olham com maior lucidez para a União Europeia e a sua relação com os EUA e o resto do mundo. "Free World" é uma obra desempoeirada que lança um olhar muito inetressante sobre as relações transatlânticas.
No final do livro Ash escreve:
"There are many divisive walls in today's world. There's the wall being built between Israelis and Palestinians, which in places looks uncannily like the Berlin Wall. Therre are the high walls of trade proteccionism around both Europe and the United States. Bur behind them are the biggest walls of all: the mind-walls. If we raise our voices, these walls will come down. We are many, and we have not spoken yet. It's up to us."
No final do livro Ash escreve:
"There are many divisive walls in today's world. There's the wall being built between Israelis and Palestinians, which in places looks uncannily like the Berlin Wall. Therre are the high walls of trade proteccionism around both Europe and the United States. Bur behind them are the biggest walls of all: the mind-walls. If we raise our voices, these walls will come down. We are many, and we have not spoken yet. It's up to us."
Thursday, December 15, 2005
Uma heresia
"Forcing a developing economy to open itself up to imported products that would compete with those produced by certain of its industries, industries that were dangerously vulnerable to competition from much stronger counterpart industries in other countries, can have disastrous consequences - socially and economically. Jobs have systematically been destroyed - poor farmers in developing countries simply could not compete with the highly subsidized goods from America and Europe - before the countries' industral and agricultural sectors were able to grow strong and create new jobs."
Joseph Stiglitz, "Globalization and its Discontents", Penguin Books, 2002, p. 17.
Joseph Stiglitz, "Globalization and its Discontents", Penguin Books, 2002, p. 17.
Wednesday, December 14, 2005
Cimeira da OMC II
Manifestação nas ruas de Hong Kong
13 de Dezembro de 2005.
São 11 da manhã. Saio do Centro de Acreditação na Central Library de Hong Kong e atravesso a estrada rumo ao famoso Victoria Park. Ao longe já ouço megafones e vislumbro bandeiras vermelhas. É a Liga dos Agricultores Sul-Coreanos. Irados, gritam e cantam em uníssono, de forma disciplinada. “WTO is killing the farmers” e “Dow Down WTO” são as únicas palavras que percebo no discurso do líder do grupo d centenas de camponeses que se opõe à liberalização do comércio mundial.
Se na Europa os maiores protagonistas das manifestações anti-globalização costumam ser os grupos que se dizem de extrema esquerda e anarquistas – geralmente os mais violentos -, em Hong Kong são os agricultores sul coreanos que apresentam um tom mais aguerrido. Marcham, cantam e garantem que a “OMC está a matar os agricultores sul coreanos”. Tae-sook Lee, líder do movimento acusa a OMC de querer “impor o arroz e outros alimentos na Coreia do Sul, o que dizimar a agricultura no país”.
Em representação do ódio que sentem pela organização internacional que em 1995 substituiu o General Agreement on Tarifs and Trade (GATT), os manifestantes sul-coreanos incendiaram uma caixão que transportavam com a inscrição “WTO R.I.P.”. Pouco depois, já a algumas centenas de metros do Centro de Convenções onde decorre a cimeira, lançaram ovos e garrafas de plástico às forças policiais, presentes em grande número no local. Na resposta, as autoridades carregaram sobre alguns manifestantes, lançando gás-mostarda, impedindo assim que a manifestação avançasse para uma zona mais próxima do local onde decorria a reunião ministerial.
Perante isto, um grupo de cinquenta representantes dos agricultores sul coreanos saltou para a água tentando assim chegar por outros meios ao Centro de Convenções, numa tentativa inglória. No entanto, a voz anti-globalização chegou a ser ouvida dentro do plenário da reunião ministerial da OMC, na sessão de abertura, quando o director-geral, Pascal Lamy discursava. Algumas organizações Não Governamentais (ONG), que foram convidadas para participar em fóruns realizados à margem da cimeira, levantaram cartazes que enviavam a mesma mensagem dos sul coreanos: “A OMC mata os agricultores”.
No Victoria Park, na zona de Causeway Bay, centenas de pessoas iam juntando-se em pequenos grupos defensores das mais variadas causas: da agricultura ao ambiente, passando pelos direitos das mulheres, das minorias étnicas, dos imigrantes ou dos trabalhadores em geral. A uni-los está o repúdio pela OMC, pela globalização, o neoliberalismo.
Mas afinal contra o que é que se manifestam todos estes movimentos? "Acima de tudo contra esta maneira de decidir sobre a vida de milhões de pessoas, sem ter em conta a vida de quem trabalha a terra e que passa por tantas dificuldades”, responde Vinod Shetty, advogado da Confederação Indiana de Agricultores. "Os indianos não estão preparados para a liberalização, não teremos hipóteses de competir com a Europa e os Estados Unidos", garante.
Ao lado, com o som de fundo das canções de combate dos sul-coreanos, o presidente da Associação de Consumidores Filipinos, atirava contra o nivelamento por baixo da qualidade dos alimentos num cenário de abertura dos mercados, enquanto trocava impressões com um outro grupo nipónico que veio a Hong Kong defender a agricultura familiar.
Num registo mais clássico, Elmer Labog, da associação sindical filipina “May First Labor Mouvement" erguia o punho contra o imperialismo e cantava bem alto a "Internacional" em tagalog, naturalmente. "Não podemos aceitar este modelo de desenvolvimento, baseado na exploração de recursos naturais, ignorando os direitos e as vidas de quem trabalha", disse.
Na manifestação pontificavam os movimentos oriundos da Ásia Oriental e Sudeste Asiático, mas também vieram activistas da Europa.
Alexi Pasadakis viajou da Alemanha para divulgar a mensagem da ATTAC e para levantar a voz “contra uma globalização que só beneficia as grandes multinacionais”. O objectivo desta organização é, pelo menos, adiar e arrastar o andamento das negociações, “algo que está acontecer porque nos últimos meses nada de substancial aconteceu”. “Um outro mundo é possível”, clamam várias organizações que se opõe à globalização ou que se assumem por uma outra globalização, “mais justa”. Mas se o que se defende é o fim da OMC, onde devem ser discutidos os assuntos relacionados com o comércio mundial?. Alexis Pasadakis julga que as Nações Unidas seriam uma sede mais indicada para debater o comércio, “mas as trocas comerciais só têm sentido se estiverem ligadas a uma política virada para o desenvolvimento e que esteja ao serviço dos povos”, adianta. Para isso seria necessário também “que as Nações Unidas fossem bem diferentes.”
Dos cerca de 4500 manifestantes a esmagadora maioria veio de fora, em especial da Ásia Oriental. Da antiga colónia britânica apenas sobressaía a “Hong Kong Alliance Against WTO” e Leung Kuok Heung, mais conhecido por “Long Hair” – activista de um grupo esquerdista pró-democracia e deputado eleito directamente para o Conselho Legislativo – que acabou por se envolver em pequenos confrontos com a polícia. A fraca afluência de grupos de Hong Kong à manifestação pode ser explicada pelas palavras de Donald Tsang, chefe do governo local, na sessão de abertura da conferência ministerial da OMC:
“Eu quero enfatizar a importância da OMC para Hong Kong. Como uma pequena economia orientada para o exterior sem recursos naturais, além de um magnífico porto de aguas profundas, Hong Kong tem confiado no comercio livre e numa população trabalhadora e empreendedora para transformar aquilo que foi uma pequena vila piscatória num grande centro internacional financeiro”.
13 de Dezembro de 2005.
São 11 da manhã. Saio do Centro de Acreditação na Central Library de Hong Kong e atravesso a estrada rumo ao famoso Victoria Park. Ao longe já ouço megafones e vislumbro bandeiras vermelhas. É a Liga dos Agricultores Sul-Coreanos. Irados, gritam e cantam em uníssono, de forma disciplinada. “WTO is killing the farmers” e “Dow Down WTO” são as únicas palavras que percebo no discurso do líder do grupo d centenas de camponeses que se opõe à liberalização do comércio mundial.
Se na Europa os maiores protagonistas das manifestações anti-globalização costumam ser os grupos que se dizem de extrema esquerda e anarquistas – geralmente os mais violentos -, em Hong Kong são os agricultores sul coreanos que apresentam um tom mais aguerrido. Marcham, cantam e garantem que a “OMC está a matar os agricultores sul coreanos”. Tae-sook Lee, líder do movimento acusa a OMC de querer “impor o arroz e outros alimentos na Coreia do Sul, o que dizimar a agricultura no país”.
Em representação do ódio que sentem pela organização internacional que em 1995 substituiu o General Agreement on Tarifs and Trade (GATT), os manifestantes sul-coreanos incendiaram uma caixão que transportavam com a inscrição “WTO R.I.P.”. Pouco depois, já a algumas centenas de metros do Centro de Convenções onde decorre a cimeira, lançaram ovos e garrafas de plástico às forças policiais, presentes em grande número no local. Na resposta, as autoridades carregaram sobre alguns manifestantes, lançando gás-mostarda, impedindo assim que a manifestação avançasse para uma zona mais próxima do local onde decorria a reunião ministerial.
Perante isto, um grupo de cinquenta representantes dos agricultores sul coreanos saltou para a água tentando assim chegar por outros meios ao Centro de Convenções, numa tentativa inglória. No entanto, a voz anti-globalização chegou a ser ouvida dentro do plenário da reunião ministerial da OMC, na sessão de abertura, quando o director-geral, Pascal Lamy discursava. Algumas organizações Não Governamentais (ONG), que foram convidadas para participar em fóruns realizados à margem da cimeira, levantaram cartazes que enviavam a mesma mensagem dos sul coreanos: “A OMC mata os agricultores”.
No Victoria Park, na zona de Causeway Bay, centenas de pessoas iam juntando-se em pequenos grupos defensores das mais variadas causas: da agricultura ao ambiente, passando pelos direitos das mulheres, das minorias étnicas, dos imigrantes ou dos trabalhadores em geral. A uni-los está o repúdio pela OMC, pela globalização, o neoliberalismo.
Mas afinal contra o que é que se manifestam todos estes movimentos? "Acima de tudo contra esta maneira de decidir sobre a vida de milhões de pessoas, sem ter em conta a vida de quem trabalha a terra e que passa por tantas dificuldades”, responde Vinod Shetty, advogado da Confederação Indiana de Agricultores. "Os indianos não estão preparados para a liberalização, não teremos hipóteses de competir com a Europa e os Estados Unidos", garante.
Ao lado, com o som de fundo das canções de combate dos sul-coreanos, o presidente da Associação de Consumidores Filipinos, atirava contra o nivelamento por baixo da qualidade dos alimentos num cenário de abertura dos mercados, enquanto trocava impressões com um outro grupo nipónico que veio a Hong Kong defender a agricultura familiar.
Num registo mais clássico, Elmer Labog, da associação sindical filipina “May First Labor Mouvement" erguia o punho contra o imperialismo e cantava bem alto a "Internacional" em tagalog, naturalmente. "Não podemos aceitar este modelo de desenvolvimento, baseado na exploração de recursos naturais, ignorando os direitos e as vidas de quem trabalha", disse.
Na manifestação pontificavam os movimentos oriundos da Ásia Oriental e Sudeste Asiático, mas também vieram activistas da Europa.
Alexi Pasadakis viajou da Alemanha para divulgar a mensagem da ATTAC e para levantar a voz “contra uma globalização que só beneficia as grandes multinacionais”. O objectivo desta organização é, pelo menos, adiar e arrastar o andamento das negociações, “algo que está acontecer porque nos últimos meses nada de substancial aconteceu”. “Um outro mundo é possível”, clamam várias organizações que se opõe à globalização ou que se assumem por uma outra globalização, “mais justa”. Mas se o que se defende é o fim da OMC, onde devem ser discutidos os assuntos relacionados com o comércio mundial?. Alexis Pasadakis julga que as Nações Unidas seriam uma sede mais indicada para debater o comércio, “mas as trocas comerciais só têm sentido se estiverem ligadas a uma política virada para o desenvolvimento e que esteja ao serviço dos povos”, adianta. Para isso seria necessário também “que as Nações Unidas fossem bem diferentes.”
Dos cerca de 4500 manifestantes a esmagadora maioria veio de fora, em especial da Ásia Oriental. Da antiga colónia britânica apenas sobressaía a “Hong Kong Alliance Against WTO” e Leung Kuok Heung, mais conhecido por “Long Hair” – activista de um grupo esquerdista pró-democracia e deputado eleito directamente para o Conselho Legislativo – que acabou por se envolver em pequenos confrontos com a polícia. A fraca afluência de grupos de Hong Kong à manifestação pode ser explicada pelas palavras de Donald Tsang, chefe do governo local, na sessão de abertura da conferência ministerial da OMC:
“Eu quero enfatizar a importância da OMC para Hong Kong. Como uma pequena economia orientada para o exterior sem recursos naturais, além de um magnífico porto de aguas profundas, Hong Kong tem confiado no comercio livre e numa população trabalhadora e empreendedora para transformar aquilo que foi uma pequena vila piscatória num grande centro internacional financeiro”.
Cimeira da OMC em Hong Kong
Cá Fora...
Os Agricultores Sul Coreanos
Sindicalismo Filipino
A inevitável ATTAC
O incansável "Long Hair" atingido por gás-pimenta.
Os Agricultores Sul Coreanos
Sindicalismo Filipino
A inevitável ATTAC
O incansável "Long Hair" atingido por gás-pimenta.
Monday, December 12, 2005
Sunday, December 11, 2005
Vale pela Intenção
O primeiro-ministro português, José Sócrates, afirmou hoje, no encerramento do Encontro Empresarial Portugal-China, em Lisboa, que Portugal pode servir à China como "porta para África".
Sócrates, que visitará a China "nos primeiros meses do próximo ano", falava sobre o que Portugal pode oferecer à China para justificar o acordo diplomático, assinado na sexta-feira com o seu homólogo chinês, Wen Jiabao, que elevou as relações entre os dois países ao nível da "parceria estratégica global".
"Portugal pode oferecer muita coisa à China, além da hospitalidade e do clima. Primeiro, afirmar-se como parceiro da China em África", afirmou o primeiro-ministro português.
"A China dispõe de capital, nós conhecemos o terreno, a língua, as tradições. Portugal pode ser uma porta para África e para algumas zonas da América Latina", disse Sócrates perante uma sala cheia de empresários. (Lusa)
Ou será que estamos perante uma verdadeira mudança de atitude da diplomacia de Lisboa face às relações com a China, nomeadamente no plano económico?
Quanto às relações com a África Lusófona, convém lembrar que em 2003 foi criado o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa - uma iniciativa chinesa - e que em Angola e em Moçambique os chineses já têm os pés firmes há bastante tempo, em especial nos últimos três anos.
Mesmo assim, desta visita de Wen Jiabao a Portugal ficam as palavras e objectivos que veremos se serão cumpridos:
Sócrates, que visitará a China "nos primeiros meses do próximo ano", falava sobre o que Portugal pode oferecer à China para justificar o acordo diplomático, assinado na sexta-feira com o seu homólogo chinês, Wen Jiabao, que elevou as relações entre os dois países ao nível da "parceria estratégica global".
"Portugal pode oferecer muita coisa à China, além da hospitalidade e do clima. Primeiro, afirmar-se como parceiro da China em África", afirmou o primeiro-ministro português.
"A China dispõe de capital, nós conhecemos o terreno, a língua, as tradições. Portugal pode ser uma porta para África e para algumas zonas da América Latina", disse Sócrates perante uma sala cheia de empresários. (Lusa)
Ou será que estamos perante uma verdadeira mudança de atitude da diplomacia de Lisboa face às relações com a China, nomeadamente no plano económico?
Quanto às relações com a África Lusófona, convém lembrar que em 2003 foi criado o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa - uma iniciativa chinesa - e que em Angola e em Moçambique os chineses já têm os pés firmes há bastante tempo, em especial nos últimos três anos.
Mesmo assim, desta visita de Wen Jiabao a Portugal ficam as palavras e objectivos que veremos se serão cumpridos:
- Wen estabelece como meta a duplicação das trocas comerciais nos próximos três anos. É possível.
- Sócrates garantiu que a China está no topo das prioridades da política externa portuguesa. Palavras de ocasião? Temo que sim. Perdoem-me mais uma vez o cepticismo.
Democracia Popular Musculada (com adenda)
Os acontecimentos de Dongzhou:
Dongzhou: les photos, no blog de Pierre Haski, correspondente em Pequim do Libération.
"En Chine, la guerre des terres gagne du terrain", Pierre Haski no Libération.
"Chinese protesters report a massacre", Howard French no New York Times.
Entretanto:
O responsável das forças paramilitares que terça-f eira tinha dado ordem de abrir fogo sobre uma manifestação de aldeões no sul da China, matando três pessoas, foi detido pelas autoridades, anuncia hoje o diário oficial Guanzhou Daily.
Num artigo em que relata a versão oficial dos acontecimentos, o jornal ind icou que as forças paramilitares tinham sido chamadas terça-feira à noite a cont rolar uma manifestação, classificada como "incidente grave e ilegal".
Essa manifestação, refere o jornal oficial, reuniu mais de 500 pessoas na aldeia de Dongzhou.
Contudo, acrescentou o jornal, o chefe das forças paramilitares no local t omou uma má decisão, provocando mortos e feridos. (Lusa)
Dongzhou: les photos, no blog de Pierre Haski, correspondente em Pequim do Libération.
"En Chine, la guerre des terres gagne du terrain", Pierre Haski no Libération.
"Chinese protesters report a massacre", Howard French no New York Times.
Entretanto:
O responsável das forças paramilitares que terça-f eira tinha dado ordem de abrir fogo sobre uma manifestação de aldeões no sul da China, matando três pessoas, foi detido pelas autoridades, anuncia hoje o diário oficial Guanzhou Daily.
Num artigo em que relata a versão oficial dos acontecimentos, o jornal ind icou que as forças paramilitares tinham sido chamadas terça-feira à noite a cont rolar uma manifestação, classificada como "incidente grave e ilegal".
Essa manifestação, refere o jornal oficial, reuniu mais de 500 pessoas na aldeia de Dongzhou.
Contudo, acrescentou o jornal, o chefe das forças paramilitares no local t omou uma má decisão, provocando mortos e feridos. (Lusa)
Saturday, December 10, 2005
Outros Sínicos
Além do já mencionado Shanghai Express, em espanhol, descobri, com um ano de atraso, o excelente blog do correspondente em Pequim do Libération, o jornalista Pierre Haski. São visões interessantes a partir do primeiro sistema que enriquecem quem, como eu, vive no segundo e que procura espreitar para lá das Portas do Cerco.
Hong Kong visto de Xangai
O Shanghai Express, um blogue muito interessante sobre a realidade chinesa em língua espanhola, alerta que, para entender as palavras de Lee Kuan Yew acerca da situação política em Hong Kong, é necessário ter em conta que o "Pai Fundador" de Singapura sempre propalou que a democracia de tipo ocidental é incompatível com o designa serem os "valores asiáticos".
O Sínico reproduce, en apoyo de su escepticismo, las declaraciones que hizo el Mentor Minister (no sé cómo traducir este término, algo así como Ministro Emérito) y ex Primer Ministro de Singapur, Lee Kuan Yew, en marzo de este año, después de su visita a Hong Kong. En esas declaraciones Lee Kuan, dirigiéndose a los periodistas con los que se había reunido en rueda de prensa, afirmó:
“(..)you have a master in China, you have subsidiary masters in Hong Kong, and what Hong Kong was led to believe it wanted in the last few years of Chris Patten and Tiananmen, is what the leaders in Beijing cannot give. Beijing has no intention of allowing Hong Kong to be a pace-setter or trojan-horse, to try and change the system in China. Anything you do here in Hong Kong which does not disturb or can be an example what China should do, that they are prepared to allow.”
Ahora bien, para juzgar estas declaraciones hay que tener en cuenta que Lee Kuan, que evidentemente es un hombre bien informado y de notable inteligencia, siempre ha mirado con disfavor la democracia de tipo occidental por considerarla incompatible con los que denomina “Valores de Asia”.
Concordo que é necessário enquadrar as declarações de Lee. E admito que estou algo céptico quanto à evolução do sistema de Hong Kong rumo a uma democracia plena. Não porque não julgue que a sociedade da antiga colónia britânica não esteja preparada para isso, mas por causa das implicações de um avanço para o sufrágio directo e universal para os timings definidos por Pequim. Quero dizer que a questão não será se, mas quando. E sobre isso parece-me que 2007 ou mesmo 2012 será muito cedo para Pequim. Agora tudo vai depender de como o movimento pró-democracia vai agir, em especial no que concerne à sua táctica. Na China só se deve usar o megafone de vez em quando. E desta vez, no dia 4 de Dezembro, foi bem usado. A pressão está do lado de Pequim para estabelecer um calendário. Ainda esta semana, uma notícia, mais tarde desementida, publicada pelo South China Moring Post indicaca o ano 2017 como o início da era democrática na República Popular da China, começando numa Região Administrativa Especial.
O Sínico reproduce, en apoyo de su escepticismo, las declaraciones que hizo el Mentor Minister (no sé cómo traducir este término, algo así como Ministro Emérito) y ex Primer Ministro de Singapur, Lee Kuan Yew, en marzo de este año, después de su visita a Hong Kong. En esas declaraciones Lee Kuan, dirigiéndose a los periodistas con los que se había reunido en rueda de prensa, afirmó:
“(..)you have a master in China, you have subsidiary masters in Hong Kong, and what Hong Kong was led to believe it wanted in the last few years of Chris Patten and Tiananmen, is what the leaders in Beijing cannot give. Beijing has no intention of allowing Hong Kong to be a pace-setter or trojan-horse, to try and change the system in China. Anything you do here in Hong Kong which does not disturb or can be an example what China should do, that they are prepared to allow.”
Ahora bien, para juzgar estas declaraciones hay que tener en cuenta que Lee Kuan, que evidentemente es un hombre bien informado y de notable inteligencia, siempre ha mirado con disfavor la democracia de tipo occidental por considerarla incompatible con los que denomina “Valores de Asia”.
Concordo que é necessário enquadrar as declarações de Lee. E admito que estou algo céptico quanto à evolução do sistema de Hong Kong rumo a uma democracia plena. Não porque não julgue que a sociedade da antiga colónia britânica não esteja preparada para isso, mas por causa das implicações de um avanço para o sufrágio directo e universal para os timings definidos por Pequim. Quero dizer que a questão não será se, mas quando. E sobre isso parece-me que 2007 ou mesmo 2012 será muito cedo para Pequim. Agora tudo vai depender de como o movimento pró-democracia vai agir, em especial no que concerne à sua táctica. Na China só se deve usar o megafone de vez em quando. E desta vez, no dia 4 de Dezembro, foi bem usado. A pressão está do lado de Pequim para estabelecer um calendário. Ainda esta semana, uma notícia, mais tarde desementida, publicada pelo South China Moring Post indicaca o ano 2017 como o início da era democrática na República Popular da China, começando numa Região Administrativa Especial.
Friday, December 09, 2005
Um olhar sobre Macau
Jogo/A nova vida do território Las Vegas em Macau
Pierre Haski, Libération
Um incêndio no estaleiro de um casino em construção, que foi apresentado oficialmente como um acidente, faz recear que estejam de volta as rivalidades entre grupos mafiosos. A
o cima das escadas, um Zeus monumental em mármore espera os visitantes. A seu lado, está de guarda um centurião em carne e osso, capacete metálico na mão. Os turistas chineses fazem fila para tirar uma foto com este digno representante da Antiguidade. Mas de onde vem o centurião? «I don"t speak english", responde-nos, com um forte sotaque russo, este gigante que uma placa indica chamar-se Viktor. Um pouco mais longe, bailarinas quase nuas, louras e russas também elas, dançam ao ritmo de uma canção do francês Yannick Noah, enquanto um anúncio luminoso informa que se trata de um "show brasileiro". Bem-vindos ao Greek Mythology, um dos mais recentes casinos de Macau, esse confetti do império português devolvido à China em 1999 e que está agora a atravessar uma verdadeira revolução cultural, a do jogo e do divertimento. Este estabelecimento é uma importação directa de Las Vegas, um produto híbrido e globalizado destinado a alimentar a fome do jogo, aparentemente inesgotável, dos novos ricos - e de outros que não o são assim tanto - da Ásia e sobretudo da China. Macau, o inferno do jogo. A lenda imortalizada pelo filme de Jean Delannoy em 1942 foi-se esvanecendo nos anos 80 e 90 neste extremo de um império colonial em fim de cena. O monopólio do jogo concedido há décadas a Stanley Ho, autêntico magnata chinês, contentava-se em ronronar, à imagem do Lisboa, o seu navio almirante, velho palácio sem viço ( que abrigava, mesmo assim, um restaurante de Joel Robuchon!), uma espécie de duplo de um casino, em quebra de atracção e com o ambiente de um filme a preto e branco. Apenas alguns ajustes de contas mafiosos davam ainda algum "frisson" ao cenário fora de moda desta China latina. As autoridades chinesas da nova "região administrativa especial" perceberam rapidamente o partido que podiam tirar do seu estatuto de autonomia, no seio de uma China comunista em crescimento económico acelerado e com uma nova classe abastada composta por muitos milhões de indivíduos. E o que fizeram primeiro foi pôr fim ao monopólio concedido há 40 anos a Stanley Ho. Atribuíram duas licenças aos seus concorrentes: dois grupos de Las Vegas que deram cartas na transformação do paraíso do jogo do Nevada numa metrópole de lazeres para todos os gostos. Esta irrupção dos americanos no jogo chinês electrizou Macau e transformou este minúsculo território de cerca de 475 mil habitantes, estrategicamente situado face a Hong Kong e à rica província de Guangdong, numa terra de conquista na qual os casinos nascem mais rápido do que cogumelos, rivalizando no kitsch. E é apenas o princípio: dentro de cinco anos, quando o território contar com uma trintena destes estabelecimentos, Macau estará irreconhecível. Não existem razões para que todos estes projectos não vejam a luz do dia. Como prova o Sands. Este casino, que custou 200 milhões de euros, é a prefiguração do modelo Las Vegas, com um pouco mais de classe do que o Greek Mythology e contrastando gritantemente com o Lisboa envelhecido. Quando abriu as portas, no ano passado, houve quase que um motim em Macau. Um ano depois, o investidor americano Sheldon Anderson já se reembolsou do investimento feito e vai duplicar o número de mesas de jogo. Anunciou que o Sands de Macau é já mais rentável que o Venetian, o seu casino de referência em Las Vegas. Estava lançada a corrida ao gigantismo. Steve Wynn, um outro magnata do jogo de Las Vegas, lançou uma campanha com vista ao recrutamento de quatro mil empregados para o seu Wynn Macao, um complexo com hotel e casino que abrirá as portas em 2006, representando um investimento de 600 milhões de euros, três vezes mais do que o Sands! Mais longe, o MGM Paradise será ainda maior, mas não tanto como o futuro Venetian de Macau - três mil camas, 1500 suites, um casino, 1,7 mil milhões de euros de investimento. Atingidos no seu reduto, Stanley Ho e a família resolveram fazer face ao desafio. Ao lado do Lisboa, que, no centro da cidade, continua a ser o melhor situado, está a nascer o Grande Lisboa. A fazer fé na maqueta reproduzida no local, assemelhar-se-á a uma gigantesca espiga de milho luminosa e superará tudo o que ainda se possa fazer de kitsch. Stanley Ho escolheu o arquitecto francês Paul Andreu, a custo recuperado do acidente catastrófico sofrido pelo seu terminal do aeroporto Roissy-Charles de Gaulle, para imaginar Oceanus, um projecto em forma de paquete de 670 milhões de euros, com um hotel de seis estrelas, escritórios, complexo de lazer. E não é tudo: por 800 milhões de euros, os chineses aliaram-se a Kerry Packer, o homem mais rico da Austrália, para criar a City of Dreams na zona ganha ao mar de Cotai, onde se concentram os projectos mais grandiosos. "Stanley Ho é um jogador de Go, ele cerca os seus inimigos. Dispôs os seus peões de tal modo que qualquer visitante de Macau começa por ele e acaba nele", comenta um observador. É verdade que o magnata dispõe de alguns trunfos: é proprietário da companhia de ferries que transporta os turistas vindos de Hong Kong (com partidas de 15 em 15 minutos) ou da China continental; é o primeiro empregador de Macau; a sua quarta mulher acabou de ser eleita para a assembleia legislativa consultiva do território. Para além dos numerosos amigos que conta em Pequim para proteger o seus vastos interesses. Objectivo desta batalha: a clientela chinesa do outro lado do delta do rio das Pérolas, que até agora tem comparecido ao encontro. O número de visitantes duplicou em três anos. Este ano foi de 20 milhões (segundo as previsões serão 35 milhões em 2010), 80 por cento dos quais oriundos de Hong Kong e do continente, onde as salas de jogo são ilegais. Nas salas cheias de fumo do Lisboa ou do Greek Mythology, reconhecem-se à vista os clientes oriundos da China continental pela sua roupa simples e a expressão de espanto face à decoração em volta. Fazem-se fotografar no exterior das salas, em frente a cada escultura grega ou egípcia. Mas em volta da mesas de bacará, de black jack ou de roleta, o cenário esfuma-se para dar lugar à paixão chinesa pelo jogo. Estes clientes são prezados, mas não são eles o verdadeiro alvo. É preciso subir as escadas do Lisboa para descobrir as salas VIP, ouro, jade, dragões e acesso interdito aos não VIP e aos curiosos. A identidade dos clientes tem que ser resguardada, até porque se sabe que uma parte do dinheiro que ali circula é oriundo da corrupção, dos subornos pagos na China. Nestas salas, as somas em trânsito mudam de escala e é nelas que os casinos fazem 70 por cento das suas verbas. É esta a clientela que disputam ferozmente. Os dirigentes dos casinos são particularmente solícitos com os angariadores de grandes clientes para as salas VIP. Quando o Sands, que por enquanto apenas tem quatro ou cinco por cento do mercado das "personalidades" de Macau, anunciou que ia aumentar ligeiramente a percentagem dada aos angariadores , Stanley Ho eriçou-se: alguém toque no mercado dos VIP e será a guerra, declarou o septuagenário. Um incêndio no estaleiro de um casino em construção, que foi apresentado oficialmente como um acidente, faz recear que estejam de volta as rivalidades entre grupos mafiosos. Os habitantes de Macau observam com um misto de fascínio e de frieza esta transformação em curso do seu território. Habituados à cultura do jogo, apreciam a chegada de investidores que criam empregos e melhoram as infra-estruturas de que eles necessitavam. Mas existe o reverso da medalha: os preços do imobiliário estão a disparar, ameaçando desterrar os mais pobres para o outro lado da fronteira chinesa, em Zhuhai. "Vão transformar Macau num Mónaco, um enclave para ricos", insurge-se uma jornalista de um diário local. Um grupo de universitários está, pelo seu lado, a ultimar um estudo sobre os efeitos perversos dos casinos, em particular sobre a educação dos jovens cujos pais trabalham ali e que são obrigados a assegurar o turno da noite semana sim, semana não. Estes jovens desejam interromper os seus estudos o mais depressa possível para também eles se empregarem naqueles estabelecimentos. Outros inquietam-se pelo impacto deste maná que se abateu sobre o minúsculo território, cuja gestão é assegurada sem a menor transparência por uma equipa escolhida em Pequim - 70 por cento dos receitas do governo de Macau provêm de impostos sobre o jogo, uma soma que aumenta constantemente. Questões dos habitantes; "Como é que este dinheiro é gasto? Quem é que controla as ordens da Bolsa? Quem é que sabe para onde vai o dinheiro da Fundação Macau, encarregada de desenvolver a acção cultural com uma percentagem das receitas dos casinos?". Por agora, os dois Macaus coabitam: no litoral, nos estaleiros dos casinos, trabalham noite e dia, os investidores americanos deixam-se estar discretos pelo seus complexos de villas, e os turistas precipitam-se sobre as mesas de jogo. Quando mergulhamos na cidade, encontramos as ruelas estreitas com ares mediterrânicos, mais próximas de Nápoles ou de Palermo do que de Cantão ou Hongkong; e os seus pequenos portos de pesca com ambientes dignos de um Corto Maltese. Mas o primeiro vai de vento em popa e virá o dia em que ganhará ao segundo. Macau, uma cidade com cinco séculos de história, terá então mudado de época.
Publicado na edição online do Público, 4 de Dez de 2005
Pierre Haski, Libération
Um incêndio no estaleiro de um casino em construção, que foi apresentado oficialmente como um acidente, faz recear que estejam de volta as rivalidades entre grupos mafiosos. A
o cima das escadas, um Zeus monumental em mármore espera os visitantes. A seu lado, está de guarda um centurião em carne e osso, capacete metálico na mão. Os turistas chineses fazem fila para tirar uma foto com este digno representante da Antiguidade. Mas de onde vem o centurião? «I don"t speak english", responde-nos, com um forte sotaque russo, este gigante que uma placa indica chamar-se Viktor. Um pouco mais longe, bailarinas quase nuas, louras e russas também elas, dançam ao ritmo de uma canção do francês Yannick Noah, enquanto um anúncio luminoso informa que se trata de um "show brasileiro". Bem-vindos ao Greek Mythology, um dos mais recentes casinos de Macau, esse confetti do império português devolvido à China em 1999 e que está agora a atravessar uma verdadeira revolução cultural, a do jogo e do divertimento. Este estabelecimento é uma importação directa de Las Vegas, um produto híbrido e globalizado destinado a alimentar a fome do jogo, aparentemente inesgotável, dos novos ricos - e de outros que não o são assim tanto - da Ásia e sobretudo da China. Macau, o inferno do jogo. A lenda imortalizada pelo filme de Jean Delannoy em 1942 foi-se esvanecendo nos anos 80 e 90 neste extremo de um império colonial em fim de cena. O monopólio do jogo concedido há décadas a Stanley Ho, autêntico magnata chinês, contentava-se em ronronar, à imagem do Lisboa, o seu navio almirante, velho palácio sem viço ( que abrigava, mesmo assim, um restaurante de Joel Robuchon!), uma espécie de duplo de um casino, em quebra de atracção e com o ambiente de um filme a preto e branco. Apenas alguns ajustes de contas mafiosos davam ainda algum "frisson" ao cenário fora de moda desta China latina. As autoridades chinesas da nova "região administrativa especial" perceberam rapidamente o partido que podiam tirar do seu estatuto de autonomia, no seio de uma China comunista em crescimento económico acelerado e com uma nova classe abastada composta por muitos milhões de indivíduos. E o que fizeram primeiro foi pôr fim ao monopólio concedido há 40 anos a Stanley Ho. Atribuíram duas licenças aos seus concorrentes: dois grupos de Las Vegas que deram cartas na transformação do paraíso do jogo do Nevada numa metrópole de lazeres para todos os gostos. Esta irrupção dos americanos no jogo chinês electrizou Macau e transformou este minúsculo território de cerca de 475 mil habitantes, estrategicamente situado face a Hong Kong e à rica província de Guangdong, numa terra de conquista na qual os casinos nascem mais rápido do que cogumelos, rivalizando no kitsch. E é apenas o princípio: dentro de cinco anos, quando o território contar com uma trintena destes estabelecimentos, Macau estará irreconhecível. Não existem razões para que todos estes projectos não vejam a luz do dia. Como prova o Sands. Este casino, que custou 200 milhões de euros, é a prefiguração do modelo Las Vegas, com um pouco mais de classe do que o Greek Mythology e contrastando gritantemente com o Lisboa envelhecido. Quando abriu as portas, no ano passado, houve quase que um motim em Macau. Um ano depois, o investidor americano Sheldon Anderson já se reembolsou do investimento feito e vai duplicar o número de mesas de jogo. Anunciou que o Sands de Macau é já mais rentável que o Venetian, o seu casino de referência em Las Vegas. Estava lançada a corrida ao gigantismo. Steve Wynn, um outro magnata do jogo de Las Vegas, lançou uma campanha com vista ao recrutamento de quatro mil empregados para o seu Wynn Macao, um complexo com hotel e casino que abrirá as portas em 2006, representando um investimento de 600 milhões de euros, três vezes mais do que o Sands! Mais longe, o MGM Paradise será ainda maior, mas não tanto como o futuro Venetian de Macau - três mil camas, 1500 suites, um casino, 1,7 mil milhões de euros de investimento. Atingidos no seu reduto, Stanley Ho e a família resolveram fazer face ao desafio. Ao lado do Lisboa, que, no centro da cidade, continua a ser o melhor situado, está a nascer o Grande Lisboa. A fazer fé na maqueta reproduzida no local, assemelhar-se-á a uma gigantesca espiga de milho luminosa e superará tudo o que ainda se possa fazer de kitsch. Stanley Ho escolheu o arquitecto francês Paul Andreu, a custo recuperado do acidente catastrófico sofrido pelo seu terminal do aeroporto Roissy-Charles de Gaulle, para imaginar Oceanus, um projecto em forma de paquete de 670 milhões de euros, com um hotel de seis estrelas, escritórios, complexo de lazer. E não é tudo: por 800 milhões de euros, os chineses aliaram-se a Kerry Packer, o homem mais rico da Austrália, para criar a City of Dreams na zona ganha ao mar de Cotai, onde se concentram os projectos mais grandiosos. "Stanley Ho é um jogador de Go, ele cerca os seus inimigos. Dispôs os seus peões de tal modo que qualquer visitante de Macau começa por ele e acaba nele", comenta um observador. É verdade que o magnata dispõe de alguns trunfos: é proprietário da companhia de ferries que transporta os turistas vindos de Hong Kong (com partidas de 15 em 15 minutos) ou da China continental; é o primeiro empregador de Macau; a sua quarta mulher acabou de ser eleita para a assembleia legislativa consultiva do território. Para além dos numerosos amigos que conta em Pequim para proteger o seus vastos interesses. Objectivo desta batalha: a clientela chinesa do outro lado do delta do rio das Pérolas, que até agora tem comparecido ao encontro. O número de visitantes duplicou em três anos. Este ano foi de 20 milhões (segundo as previsões serão 35 milhões em 2010), 80 por cento dos quais oriundos de Hong Kong e do continente, onde as salas de jogo são ilegais. Nas salas cheias de fumo do Lisboa ou do Greek Mythology, reconhecem-se à vista os clientes oriundos da China continental pela sua roupa simples e a expressão de espanto face à decoração em volta. Fazem-se fotografar no exterior das salas, em frente a cada escultura grega ou egípcia. Mas em volta da mesas de bacará, de black jack ou de roleta, o cenário esfuma-se para dar lugar à paixão chinesa pelo jogo. Estes clientes são prezados, mas não são eles o verdadeiro alvo. É preciso subir as escadas do Lisboa para descobrir as salas VIP, ouro, jade, dragões e acesso interdito aos não VIP e aos curiosos. A identidade dos clientes tem que ser resguardada, até porque se sabe que uma parte do dinheiro que ali circula é oriundo da corrupção, dos subornos pagos na China. Nestas salas, as somas em trânsito mudam de escala e é nelas que os casinos fazem 70 por cento das suas verbas. É esta a clientela que disputam ferozmente. Os dirigentes dos casinos são particularmente solícitos com os angariadores de grandes clientes para as salas VIP. Quando o Sands, que por enquanto apenas tem quatro ou cinco por cento do mercado das "personalidades" de Macau, anunciou que ia aumentar ligeiramente a percentagem dada aos angariadores , Stanley Ho eriçou-se: alguém toque no mercado dos VIP e será a guerra, declarou o septuagenário. Um incêndio no estaleiro de um casino em construção, que foi apresentado oficialmente como um acidente, faz recear que estejam de volta as rivalidades entre grupos mafiosos. Os habitantes de Macau observam com um misto de fascínio e de frieza esta transformação em curso do seu território. Habituados à cultura do jogo, apreciam a chegada de investidores que criam empregos e melhoram as infra-estruturas de que eles necessitavam. Mas existe o reverso da medalha: os preços do imobiliário estão a disparar, ameaçando desterrar os mais pobres para o outro lado da fronteira chinesa, em Zhuhai. "Vão transformar Macau num Mónaco, um enclave para ricos", insurge-se uma jornalista de um diário local. Um grupo de universitários está, pelo seu lado, a ultimar um estudo sobre os efeitos perversos dos casinos, em particular sobre a educação dos jovens cujos pais trabalham ali e que são obrigados a assegurar o turno da noite semana sim, semana não. Estes jovens desejam interromper os seus estudos o mais depressa possível para também eles se empregarem naqueles estabelecimentos. Outros inquietam-se pelo impacto deste maná que se abateu sobre o minúsculo território, cuja gestão é assegurada sem a menor transparência por uma equipa escolhida em Pequim - 70 por cento dos receitas do governo de Macau provêm de impostos sobre o jogo, uma soma que aumenta constantemente. Questões dos habitantes; "Como é que este dinheiro é gasto? Quem é que controla as ordens da Bolsa? Quem é que sabe para onde vai o dinheiro da Fundação Macau, encarregada de desenvolver a acção cultural com uma percentagem das receitas dos casinos?". Por agora, os dois Macaus coabitam: no litoral, nos estaleiros dos casinos, trabalham noite e dia, os investidores americanos deixam-se estar discretos pelo seus complexos de villas, e os turistas precipitam-se sobre as mesas de jogo. Quando mergulhamos na cidade, encontramos as ruelas estreitas com ares mediterrânicos, mais próximas de Nápoles ou de Palermo do que de Cantão ou Hongkong; e os seus pequenos portos de pesca com ambientes dignos de um Corto Maltese. Mas o primeiro vai de vento em popa e virá o dia em que ganhará ao segundo. Macau, uma cidade com cinco séculos de história, terá então mudado de época.
Publicado na edição online do Público, 4 de Dez de 2005
Wednesday, December 07, 2005
Tuesday, December 06, 2005
Para Moçambique e em Força!!!
A Geocapital Holdings assina sexta- feira em Macau com o Gabinete do Plano de Desenvolvimento da Região do Zambeze um acordo de cooperação relativo a infra-estruturas e captação de investimento asiático para aquela zona moçambicana.
Fonte ligada ao processo explicou à agência Lusa que o acordo, que será assinado por Stanley Ho e Ferro Ribeiro, em representação da Geocapital, e por Sérgio Vieira, coordenador do gabinete de Desenvolvimento da região do Zambeze, visa "estreitar relações com entidades técnicas e financeiras tendentes a explorar oportunidades e negócio naquela região" que ocupa uma área de 225.000 quilómetros quadrados, disse a fonte. Lusa
Fonte ligada ao processo explicou à agência Lusa que o acordo, que será assinado por Stanley Ho e Ferro Ribeiro, em representação da Geocapital, e por Sérgio Vieira, coordenador do gabinete de Desenvolvimento da região do Zambeze, visa "estreitar relações com entidades técnicas e financeiras tendentes a explorar oportunidades e negócio naquela região" que ocupa uma área de 225.000 quilómetros quadrados, disse a fonte. Lusa
Monday, December 05, 2005
Manifestação em Hong Kong III
Ainda a propósito da marcha pela democracia de ontem nas ruas Hong Kong e do processo de reformas políticas na antiga colónia britânica, recordo as palavras ditas, em Março de 2005, por Lee Kuan Yew, "pai fundador" de Singapura:
"I said then if Hong Kong offered opportunities of growth, prosperity, business, I will stay but if it didn't, I would leave. Would you consider politics? I said 'no', it's a thankless job, you have a master in China, you have subsidiary masters in Hong Kong, and what Hong Kong was led to believe it wanted in the last few years of Chris Patten and Tiananmen, is what the leaders in Beijing cannot give. Beijing has no intention of allowing Hong Kong to be a pace-setter or trojan-horse, to try and change the system in China. Anything you do here in Hong Kong which does not disturb or can be an example what China should do, that they are prepared to allow."(...)
"I said then if Hong Kong offered opportunities of growth, prosperity, business, I will stay but if it didn't, I would leave. Would you consider politics? I said 'no', it's a thankless job, you have a master in China, you have subsidiary masters in Hong Kong, and what Hong Kong was led to believe it wanted in the last few years of Chris Patten and Tiananmen, is what the leaders in Beijing cannot give. Beijing has no intention of allowing Hong Kong to be a pace-setter or trojan-horse, to try and change the system in China. Anything you do here in Hong Kong which does not disturb or can be an example what China should do, that they are prepared to allow."(...)
Manifestação em Hong Kong II
O que aconteceu ontem em Hong Kong demonstra que a vontade de uma parte significativa da sociedade tem a maturidade suficiente para abraçar o sufrágio directo e universal. O mais significativo nesta demonstração é que, pela primeira vez, todo o campo pró-democracia assinou uma só petição, em que os vários movimentos exigem um calendário para a implementação de mecanismos directos eleição do chefe do executivo e do Conselho Legislativo. Simbolicamente, Anson Chan, ex número dois do governo de Chris Patten, o último governador britânico de Hong Kong, esteve presente, dando mais força a uma manifestação pácífica e ordeira, que também por isso ilustra a maturidade de uma sociedade que, mesmo vivendo, ou talvez por isso mesmo, num clima de recuperação económica a olhos vistos, mantém firmes os anseios democráticos.
Apesar deste sinal, será de todo impossível que a exigência seja satifeita. Quem decide, em primeira e última instância é o governo central, a quem não intressa um avanço rápido para a democratização geral do sistema de Hong Kong, nem sequer a o estabelecimento de um calendário, que iria condicionar o processo de democratização com "características chinesas" que os dirigentes de Pequim proclamam. No meio disto tudo Donald Tsang é o elo mais frágil da antítese entre uma parte da sociedade de Hong Kong e os planos do governo central. Conseguirá o chefe do executivo de Hong Kong fazer a síntese? Será que a missão dele é como fazer a quadratura do círculo? Irá Ppequim ouvir estas exigências? Será que Tsang vai ceder significativamente no seu plano tímido de reformas políticas?
Para ler mais sobre este assunto:
Na blogosfera, ler
A afirmação da sociedade civil, no Exílio de Andarilho
Na imprensa internacional:
Tsang gets the message , no The Standard.
Major Hong Kong protest, Christian Science Monitor
Hong Kong's slow reform triggers new mass protest, Times
Apesar deste sinal, será de todo impossível que a exigência seja satifeita. Quem decide, em primeira e última instância é o governo central, a quem não intressa um avanço rápido para a democratização geral do sistema de Hong Kong, nem sequer a o estabelecimento de um calendário, que iria condicionar o processo de democratização com "características chinesas" que os dirigentes de Pequim proclamam. No meio disto tudo Donald Tsang é o elo mais frágil da antítese entre uma parte da sociedade de Hong Kong e os planos do governo central. Conseguirá o chefe do executivo de Hong Kong fazer a síntese? Será que a missão dele é como fazer a quadratura do círculo? Irá Ppequim ouvir estas exigências? Será que Tsang vai ceder significativamente no seu plano tímido de reformas políticas?
Para ler mais sobre este assunto:
Na blogosfera, ler
A afirmação da sociedade civil, no Exílio de Andarilho
Na imprensa internacional:
Tsang gets the message , no The Standard.
Major Hong Kong protest, Christian Science Monitor
Hong Kong's slow reform triggers new mass protest, Times
Sunday, December 04, 2005
Manifestação em Hong Kong
mais de 100 mil pessoas desfilaram pelas ruas de Hong Kong exigindo o avanço para o sufrágio directo e universal.
Saturday, December 03, 2005
Friday, December 02, 2005
Just Asking..
Será que a União Europeia conhece os limites da sua relação com a China?
O que é que significa a elevação de Portugal a parceiro estratégico da China?
Será que Donald Tsang tem medo do sucesso da a manifesação pró-democracia do próximo domingo em Hong Kong?
O que é que significa a elevação de Portugal a parceiro estratégico da China?
Será que Donald Tsang tem medo do sucesso da a manifesação pró-democracia do próximo domingo em Hong Kong?
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