Sunday, February 12, 2006

Uma dose de realismo

A propósito desta citação publicada no Observador.
Image hosting by Photobucket
No mesmo livro, Mearsheimer refere:

"Americans tend to be hostile to realism because it clashes with their basic values. realism stands opposed to American's view of both themselves and the world. In particular, realism is at odds with the deep-seated sense of optimism and moralism that pervades much of American society.Liberalism, on the other hand, fits neatly with those values"

John Mearsheimer, p. 23

Embora tenha algumas reservas face à perspectiva realista nas relações internacionais, julgo que as suas premissas básicas - ausência de autoridade nas relações inter-estados e primazia do estado-nação como actor determinante (mas não único) - continuam a ser instrumentos úteis na análise do "mundo como é" e não necessariamente como deveria ser, Entre as várias tendências da escola realista - realismo baseado na natureza humana (Morghentau), realismo ofensivo (Mearsheimer) neorealismo, realismo aplicado à perspectiva da economia política internacional (Gilpin) ou realismo sistémico ou estrutural, também designado de neorealismo (Waltz) - inclino-me mais para a valorização do contributo dos últimos dois. Waltz pela solidez da sua análise da prevalência da estrutura, Gilpin pela maneira como procura ultrapassar duas das limitações que habitualmente são apontadas aos realistas clássicos e aos neorealistas: a dificuldade em perceber e explicar as mudanças na estrutura e no sistema e a ausência de uma interligação entre as forças de mercado e o estado como actor político nas relações internacionais.
No entanto, uma determinada perspectiva teórica - o realismo neste caso - não exclui totalmente a relevância de outras escolas de pensamento neste campo como o seu mais directo rival: o liberalismo ou mesmo o valor analítico das teorias quasi-marxistas da dependência (Gunder Frank) e dos Modelos da Economia Mundo (Wallerstein)
Depois de ter prevalecido como a maisntream theory das RI durante décadas o realismo caiu nalgum descrédito numa fase inicial após o fim da Guerra Fria. Isso deveu-se ao facto de não ter sido capaz de prever o que aconteceu. Contrariamente ao que muitos realistas previam, o fim da União Soviética terminou sem que um tiro tivesse sido dado; as transformações vieram de dentro, impulsionadas mais por factores domésticos que pela estrutura internacional. De facto, os realistas foram acusados de não terem sido capazes de explicar persuasivamente o colapso da União Soviética e a retirada do Exército Vermelho da Europa de Leste sem que tivesse havido um tiro. O fim do superpoder soviético aconteceu sobretudo devido à fraqueza doméstica personificada na rivalidade entre Gorbatchev, que acreditava na cura do socialismo, e em Yeltsin, um nacionalista russo. Noutras palavras, "o homem russo derrotou o homem soviético".
Ou seja, houve da parte da maioria dos realistas uma certa dose de negligência do impacte dos factores ligados à política interna no comportamento de um super-poder. Vários dos visados com esta crítica já se defenderam, como por exemplo Waltz que sublinha que o fim da Guerra Fria não aconteceu devido à democracia, à interdependência ou às instituições internacionais, adiantando que a Guerra Fria terminou de acordo com as premissas neorealistas: assim que a estrutura bipolar desapareceu.
Apesar destas limitações, nenhuma das tendências do liberalismo tomou o lugar do realismo: nem o neoliberalismo institucioanalista de Nye, nem as teses da Paz Democrática de Fukuyama ou Doyle.
Embora os realistas procurem levantar a ponta do véu, descortinando o que está por detrás das bonitas intenções proclamadas pelos homens de estado e garantam que uma coisa é a dimensão analítica do realismo, outra é a questão normativa, certo é que é difícil dissociar os dois níveis.

Algumas obras sobre o fascinante mundo das teorias das relações internacionais:

No comments: