Tuesday, April 05, 2005

O Dragão na loja de porcelanas II

A questão teórica diz respeito aos tempos de turbulência que se poderão fazer sentir numa possível era de transição de poder. Para os chamados realistas ofensivos como Mershmeirer a emergência de um poder numa estrutura internacional de cariz anárquico levará a uma competição "agressiva", a despeito da política interna. No extremo oposto, a chave da questão estará no modo como o comportamento da China vai ser modificado através da sua integração no sistema dominante (entrada para a OMC e participação em várias organizações e Fóruns multilaterais). Ou no limite se vai haver um "spill over effect" desse engagement. Este é um debate fascinante e há várias perspectivas em confronto - realistas, neorealistas, liberal-institucionalistas, teóricos da paz democrática, globalistas, neomarxistas, construtivistas ou mesmo bifurcacionistas. Noutra ocasião poderemos olhar para estas visões que competem no campo das teorias das relações internacionais. Por agora centramos a atenção na participação da China em estruturas multilaterais. Desde 1989, Pequim tem "abraçado" fóruns e lançado parcerias: em 1990 entrando para o Asia Pacific Economic Cooperation (APEC), em 1996 juntou-se ao ASEAN Regional Forum, em 1996 lançou o "Shanghai Five", mais tarde "Organização de Cooperação de Xangai", no mesmo ano foi país fundador do Asia-Europe Meeting (ASEM) e a coroação desta nova dinâmica da política externa Chinesa aconteceu em 2001 com a entrada na Organização Mundial de Comércio.
Uma das dúvidas que persiste é até que modo a entrada da China em organizações multilaterais deste tipo vai socializar Pequim e transformar a política interna e a política externa. Como sempre quando encetamos mini-análises neste blogue terminamos sempre com mais perguntas do que quando começamos. Mesmo assim finalizo com a citação de dois artigos na revista académica chinesa "Guoji Wenti Yanjiu" (pedindo emprestado o contributo de Wang Hongying em "Multilateralism in Chinese Foreign Policy: The limits of Socialization?":
Em 1995 um artigo expressava um forte cepticismo quanto ao multilateralismo. A organizações multilaterais eram vistas como meios para os Estados Unidos e aliados imporem os seus valores e interesses na Ásia e evitarem a emergência de um competidor sério - a China. Em 1998, a mesma revista, publicava um artigo em que o multilateralismo era elogiado, uma vez que servia a intenção de estimular a criação de um mundo Multipolar, constringindo a hegemonia norte-americana.
Em suma, será um multilateralismo com características chinesas.

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