Escreve AAA no Observador e no Insurgente, acerca da emergência da China:
"Quais as ilações de tudo isto? A primeira é que o mundo unipolar (no qual apenas os EUA projectam poder) acabou. Naturalmente que os efeitos se sentirão apenas a prazo, mas a realidade é já bastante diferente da que tínhamos na última década do século XX. A segunda Guerra Fria (como lhe chama Robert Kaplan) começou; um novo equilíbrio de forças está a surgir e o mercado das alianças anda ao rubro"
Julgo que é desajustada a expressão utilizada por Kagan, no entanto é nítida a nova dinâmica de alianças na Ásia, muitas vezes cruzadas com várias facetas, daí que subscreva que "o mercado de alianças está ao rubro". Em especial a expressão mercado. A unipolaridade norte-americana é recorrentemente desafiada pela China, não através de acções ou declarações hostis, mas por intermédio do reforço de uma rede de alianças e parcerias de índole económico com o sudeste asiático, a Ásia Central ou a Rússia, já para não falar da estratégia chinesa para a América Latina (que está a levantar os cabelos a Washington). Há um factor determinante, que de resto é óbvio. A necessidade da China diversificar as fontes energéticas. Por outro lado, os países com quem Pequim reforça os laços comerciais sabem que têm muito a ganhar no acesso ao crescente mercado de consumo chinês. A rede de interdependência que está está a ser tecida por Pequim - mais devido a uma necessidade e aos inetresses nacionais do que a uma crença idealista no multilateralismo - terá consequências difíceis de prever.
Numa análise realista poderemos antecipar uma nova distribuição de poder no sistema internacional, em que a China lutará, minime, pela manutenção do status quo, ou, maxime, pela maximização do seu poder (no sentido lato). Contudo muitas questões se entrecruzam nesta análise: é preciso não só olhar para o impacto que a China tem e terá nas relações internacionais, mas também vice-versa. A adesão às instituições multilaterais implica a transformação interna ao nível da accountability do seu sistema financeiro, do estado de direito e da construção de uma identidade inetrsubjectiva, com o aumento da interacção multilateral. Acrescente-se ainda que não podemos ter uma visão fechada sobre os actores nas relações internacionais, olhando apenas par os estados - há que vislumbrar a complexidade das relações estado-mercado-indústria militar-energia.
Um dos hábitos (vícios, para alguns) realistas é olhar constantemente para a história em busca de analogias e constância de comportamentos de um estado emergente num determinado contexto. Avery Goldstein, académico da linha (mas também crítico) de Kenneth Waltz tem escrito sobre a Grande Estratégia da China, colocando ênfase ao comportamento da diplomacia chinesa desde 1996. Para Goldstein, a China de hoje assemelha-se ao que designa de "Neo-Bismarkismo". Tendo eu dúvudas quanto a esta categorização, julgo ser interessante ler a seguinte passagem:
"The real danger, or more troubling possibly, is not that China will abandon its neo-Bismarkian strategy in favour of an ambitious, expansionist crusade, but that unintended consequences in might follow from the strategy's success. Like its nineteenth-century forerunner, the neo-Bismarkian approach entails extensive and intensive linkages among states with competitive and common interests. As long as relations are more cooperative than conflictive, fostering tight interdependence may be attractive. But the risk in this sort of arrangements is that when problems emerge they ripple through the system in unpredictable ways that defy efforts at management"
Avery Goldstein, "An Emerging China's Grand Strategy", in G. John Ikenberry and Michael Mastaduno (ed), International Relations Theory and the Asia Pacific, p.86
Friday, March 24, 2006
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3 comments:
Zé Carlos,
Creio que a China não está a fazer mais do que reeditar a sua imperial influência.
À chegada dos portugueses ao Oriente, debateram-se com o sultão de Malaca, vassalo do Imperador chinês, para além dos vários protectorados que a China tinha e tal como hoje também tem.
Queria te chamar atenção para uma questão geopolítica, em conversa ilucidada com um amigo meu, que actualmente é conselheiro geopolítico do Gabinete do actual Presidente da República da Indonésia, o comandante Djuanda (que também foi vice-director dos serviços secretos indonésios), em que diz com muita razão, e com sentido, que estando o estreito de Malaca, o estreito de Singapura sob influência ocidental (i.e. Malásia e Singapura - Commonwealth entre outros) seria mais que lógico a China tentar encontrar soluções alternativas não dependentes das circunstâncias. Já agora, lembra-te do Tsunami, e não foi verdade que todo o ocidente incluindo a RPC, enviaram para as zonas afectadas, principalmente ACeh-Indonésia, vasos de guerra e porta-aviões, pois vê só a importância que a região representa para o mundo e salientando também que a Marinha tem também as suas funções diplomáticas, conceito divulgado pelo nosso Comandante da Marinha Portuguesa e grande submarinista, Henrique Gouveia e Melo (Cpt. Fgr.). Retomando o pensamento, isto é, a China, na corrida às fontes energéticas, abrir um canal em Myanmar (antiga Birmânia), com oleodutos/"pipes" que façam a ligação directa do oceano Índico para a China (para descargas), daí o grande interesse, penso eu por Moçambique (Cahora Bassa, Índico) e Angola (Petróleo), assim a curto médio prazo, não arrisco a dizer longo, a China poderá dar estabilidade aos seus projectos, sejam eles quais forem, mas que de certeza devem consumir bastante energia.
A China, mantendo o seu "lebensraum" ou espaço vital, pois também ao longo da história não tem sido muito de expansionismos físicos, mas sempre o foi em termos de influências sobre as regiões vizinhas e circundantes, através de estados-vassalos, protectorados, etc... Por outro lado a RPC não tem muita margem de manobra para se expandir para lá da India, pois esta é uma grande potência etnicamente rival, e para a Rússia ou seus estados-satélite, pois Putin, certamente que não iria gostar.
Agora os problemas poder-se-ão colocar na Ásia maritima. Com as disputas das ilhas Spratley e Paracel, as Senkoku, entre outras no sudeste asiático e no mar entre o Japão e a Rússia, por causa do petróleo, lá está, mas sobre tudo no que toca às áreas circundantes do Japão, segundo Prof. Luís Leitão Tomé entre outros, identificam esta região como uma região em que está estabelecida um relacionamento de status quo.
Isto quer dizer que após a II GG, o JAPÃO ficou SEM FRONTEIRAS MARÍTIMAS DEFINIDAS nas imediações entre a China, Coreia e a Sul de Okinawa, tudo para que se criasse uma situação de "rabo de pescada na boca". Sem os EUA, o Japão ficaria desprotegido da sua "tradicional" área de soberania marítima, logo, o Japão não poderá desligar-se dos EUA nem poderá ver oficializada a sua área marítima soberana e isto muito provavelmente aprovado durante a partilha dos despojos de Guerra entre os chamados vencedores, onde a República da China se incluiu, sendo posteriormente substituída pela RPC. Para não falar na questão da tão mediática República Popular e Democrática da Coreia (do Norte), que não é mais do que uma frente avançada da RPC e Rússia, na contenção dos seus arqui-inimigos, os EUA.
Uma chamada de atenção, volvendo às questões da Ásia Marítima, sobre Timor Leste, eu não sabia, mas tem o conrolo de 1 dos 3 ou 4 principais canais de ligação entre o Indico e o Pacífico, logo, para além do Petróleo do Timor Gap, Timor Leste tem também a sua importância geopolítica e estratégica e só tem é a desenvolver uma marinha forte (talvez com apoio de Portugal), pois é a grande lacuna da Indonésia, onde Exército é quem manda nas Forças Armadas.
mto bom
mas podia ser mais simplificado
hehehe
é q algumas partes eu não entendi mto bem!
portugues: affe, q lingua mais dificil
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