Thursday, March 24, 2005

Emergêcia Pacífica II

Joseph S. Nye coloca em cima da mesa uma série de questões fulcrais para uma análise da emergência ou como prefere designar "re-emergência" da China não só como poder económico capaz de rivalizar com os Estados Unidos dentro de algumas décadas, mas também, como actor principal no sistema internacional, como poder militar. Neste caso como em muitos outros frente a frente estão as duas escolas de pensamento rivais, as duas mais importantes, no campo das teorias das relações Internacionais: o realismo e o liberalismo (sendo que dentro de cada uma delas há várias subdivisões rivais). Será quase inevitável um conflito com os Estados Unidos, ou vai vingar a tese da interdependência económica?
Reconheça-se que as teorias das Relações Internacionais não servem para profetizar coisa alguma, nem nos permitem fazer previsões com um elevado grau de confiança. Quanto muito, e já é muito, servem para darmos sentido ao que lemos, ouvimos e assistimos no universo das relações internacionais e inter-estatais. Nem o realismo, nem o liberalismo foram bem sucedidos na explicação do que se passou quando do desmoronamento do Bloco de Leste nem desta década e meia subsequente ao fim da Guerra Fria. Ao contrário do que um realismo mais rasteiro preveria, não foi disparado um tiro entre as duas superpotências- o império Soviético implodiu. E contrariamente ao que profetizariam alguns liberais, a abertura dos mercados e a regulação das instituições internacionais não parece estar (ainda) a amenizar os conflitos: está ainda por comprovar o sucesso das abordagens a la Shumpeter do pacifismo comercial ou das teses da paz democrática de de Michael Doyle ou Bruce Russet.
Serve este enquadramento para centrar a discussão na questão lançada por Nye: será o crescimento económico da China é "um Cavalo de Tróia" para a emergência de uma potência com ambições hegemónicas, cujo desenlace poderá ser um conflito com o poder hegemónico militar, os Estados Unidos ou com a integração de Pequim no sistema económico, financeiro e comercial internacional, a China vai adoptar uma postura de valorização do soft power em vez do hard power? Esta é uma das questões mais importantes que deveremos ver respondida ao longo deste século XXI.
(continua)

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